Cofundador da Triptyque Architecture explica sobre como a sustentabilidade passou de tendência à essência do luxo contemporâneo.
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Olivier Raffaeli
Olivier Raffaeli archisummit

O luxo na arquitetura já não é o brilho imediato que impressiona à primeira vista, mas sim aquilo que resiste, que cuida, que se integra e que deixa uma marca duradoura no planeta. Foi sobre este novo paradigma que move a profissão que Olivier Raffaelli, cofundador da Triptyque Architecture, esteve à conversa com o idealista/news durante a sua presença no Archi Summit 2025, em Lisboa.

Olivier Raffaeli
Olivier Raffaeli archisummit

Nasceu em França e formou-se em Paris. A decisão de se mudar para São Paulo aos 20 anos foi um choque. Acabado de sair da École d’Architecture em Paris, encontrou uma cidade de arranha-céus modernos lado a lado com bairros informais, trânsito caótico, poluição, mas também uma energia vibrante e criativa que lhe deu espaço para começar a explorar a relação entre arquitetura e sustentabilidade. Há 25 anos, quando o tema ainda parecia distante, Olivier Raffaeli e os seus sócios fundaram a Triptyque, um atelier que rapidamente se destacou ao propor edifícios que respiram, que dialogam com a cidade e que devolvem algo à natureza.

Harmonia 57
Harmonia 57 Triptyque

O Harmonia 57, construído em São Paulo, é disso exemplo. Ao substituir uma fachada tradicional por paredes vivas cobertas de vegetação, o edifício não só ganhou notoriedade internacional, como mostrou que a estética pode estar ao lado do desempenho ambiental - as plantas ajudam a filtrar o ar, a regular a temperatura e a criar um microclima mais saudável. Mas também podemos falar do Groenlândia, um edifício residencial que privilegia a ventilação natural e a circulação de ar, reduzindo drasticamente a necessidade de climatização artificial.

Hoje, com escritórios em Paris e São Paulo, a Triptyque é uma referência internacional. O que em tempos foi visto como experimental, ou até excêntrico, é hoje reconhecido como pioneiro.

Groenlândia
Groenlândia Triptyque

O vosso trabalho distingue-se muito pela sustentabilidade. Afinal, o que significa para si e por que razão a sustentabilidade é o novo luxo?

Começámos a trabalhar com sustentabilidade há 25 anos, em São Paulo, numa cidade marcada por enormes desafios urbanos, da água ao ar. No início, confesso, não era tanto uma consciência ecológica, mas uma verdadeira fascinação pela força da natureza. Queríamos perceber como incluir a intensidade dos elementos naturais na arquitetura. Com o tempo, percebemos que também estávamos a responder a uma emergência global. Sustentabilidade deixou de ser apenas técnica, passou a ser emoção, estética e uma forma de imaginar um futuro desejável.

No início foi fascinação: a força da natureza, da água, do ar, da vegetação. Queríamos incluir esses elementos dentro da arquitetura. Depois, compreendemos que estávamos também a responder a uma emergência global.

E essa viagem até São Paulo, como aconteceu?

Eu nasci em França e estudei arquitetura em Paris. Aos 20 anos, fui para São Paulo. Foi um choque enorme. Logo no início ganhámos um concurso e criámos a Triptyque. Ficámos lá 20 anos. A cidade é como um comboio desgovernado: se para, explode; se continua, pode cair num precipício. Essa intensidade moldou muito o nosso trabalho.

Harmonia 57
Harmonia 57 Triptyque

Hoje têm clientes em vários países. Onde está o vosso maior foco?

Continuamos entre França e Brasil, 50/50. É interessante viver nessas duas realidades porque nos obriga a pensar em escalas diferentes. Trabalhamos tanto em projetos industriais e de grande dimensão, como torres, como em projetos pequenos e artesanais, por exemplo na Amazónia. Não fazemos muito residencial individual, mas sim trabalhos que têm impacto coletivo.

Isso permite também ter uma parte mais experimental no vosso ateliê?

Sem dúvida. Os projetos pequenos são um campo de experimentação incrível. É aí que testamos novas soluções, porque são mais ágeis. Depois, essas experiências podem ser aplicadas a projetos industriais de grande escala. Esse cruzamento é muito rico: questionar o mundo, experimentar e, de certa forma, influenciar a forma como construímos em massa.

O luxo é poder viver numa casa que respira, que se abre à luz natural, que te dá silêncio no meio da cidade. O luxo é tempo, espaço, ar puro. São coisas raras, e por isso preciosas.

E o que ainda falta fazer? Qual seria o seu sonho enquanto arquiteto?

OR: O meu sonho é conseguir casar uma arquitetura profundamente urbana, capaz de responder às necessidades modernas das cidades, com uma sensibilidade artesanal, humana e muito próxima da natureza. Hoje, isso parece quase impossível, mas é nesse impossível que encontramos o desafio que nos move.

ATIX – Associação Terra Indígena Xingu
ATIX – Associação Terra Indígena Xingu Triptyque
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