O investimento em imobiliário comercial no país está ao "rubro", registando, de resto, uma "forte recuperação" ao longo do 3º trimestre, com cerca de 619 milhões transacionados. Quase sete vezes mais que os 90 milhões investidos no 2º trimestre do ano, o primeiro a refletir o impacto da pandemia da Covid-19. Os dados foram divulgados no mais recente boletim trimestral de mercado “Market Pulse" da JLL, no qual a consultora analisa trimestralmente o desempenho dos setores de investimento, escritórios, retalho e habitação.
“Uma recuperação desta magnitude em plena pandemia abre boas perspetivas para a reta final do ano, pois mostra que, apesar das adversidades e da elevada incerteza quanto ao evoluir da situação, os investidores continuam ativos", comenta Pedro Lancastre, diretor geral da JLL. "Por um lado, acreditam nos fundamentais de mercado, mantendo-se interessados nos setores tradicionais, mas onde a atividade ocupacional está naturalmente mais afetada, como é o caso dos escritórios e do retalho, mas também dos hotéis. Por outro lado, é de realçar também o crescente interesse por setores como o industrial & logística e o living, com os investidores dispostos a aceitar rentabilidades mais baixas em prol de um produto mais resiliente”, sublinha ainda.
Uma recuperação desta magnitude em plena pandemia abre boas perspetivas para a reta final do ano
Pedro Lancastre, diretor geral da JLL
“Nos mercados ocupacionais, este novo trimestre pandémico foi igualmente de evolução positiva face à fase inicial de abril a junho, com alguns setores mais resilientes, como é o caso da habitação, e outros com novos desafios, como são os casos dos escritórios e do retalho. Mas, em suma, podemos dar uma nota transversal de um sentimento positivo do mercado no fecho do 3º trimestre”, adianta ainda o responsável.
O terceiro melhor ano de sempre?
O diretor geral da JLL acredita que, tendo em conta o pipeline de negócios em desenvolvimento, a atividade no 4º trimestre possa ser semelhante à do 3º trimestre, "colocando o total do ano em cerca de 2.700 a 2.800 milhões, o terceiro melhor ano de sempre”.
Ao nível do investimento, segundo a análise da JLL, o 3º trimestre projetou o volume transacionado nos primeiros nove meses de 2020 para 2.213 milhões, um patamar apenas superado na última década pelos anos recorde de 2018 e 2019, ambos acima dos 3.000 mil milhões. De acordo com a consultora, o 3º trimestre foi "fortemente impulsionado" pela venda do parque de escritórios, Lagoas Park, por 421 milhões, evidenciando-se ainda a venda de um conjunto de lojas Leroy Merlin e de um portefólio de 5 supermercados.
A evolução face à quase estagnação do 2º trimestre foi "exponencial", pese embora a atividade do 3º trimestre seja equivalente cerca de 40% dos 1.483 milhões transacionados no 1º trimestre, que foi, contudo, um registo trimestral histórico. As yields mantêm-se em mínimos em praticamente todos os segmentos, atingindo os 4,00% nos escritórios, os 5,25% nos centros comerciais, os 4,5% no comércio de rua e os 5.75% em industrial & logística.
Habitação, um dos setores mais resilientes
A habitação tem-se mostrado um dos setores mais resilientes, segundo a consultora, denotando o impacto da pandemia sobretudo no ritmo de vendas, que caiu cerca de 11% face ao ano passado. O relatório dá ainda nota de um maior equilíbrio entre a procura nacional a internacional no 3º trimestre, com os compradores domésticos a manterem-se bastante ativos, compensando assim as quebras de negócio por parte dos compradores estrangeiros, limitados pela ausência de viagens.
Em termos de preços, "setembro apresentou a primeira queda mensal durante a pandemia", embora a habitação continue a valorizar cerca de 8% face ao ano passado. De qualquer forma, tal como observado no ritmo de transações, os preços partem, na maioria dos mercados, de patamares recorde. Considerando a habitação premium em Lisboa, a Avenida da Liberdade apresenta-se como o eixo mais valorizado, em 10.500 €/m2, seguido pelo Chiado, em 9.000 €/m2, e pela Zona Histórica, em 7.500€/m2. Nas restantes zonas da cidade, os valores oscilam entre os 5.000€/m2 e os 6.500€/m2, evidenciando-se ainda o eixo Cascais/Estoril, entre 8.000€/m2 e 10.000€/m2
“Tal como acontece no imobiliário comercial, também a habitação tem condições para apresentar bons resultados este ano, apesar do contexto de pandemia. Se em 2019 se atingiram perto de 25.000 milhões de transações de habitação, este ano, mesmo com a travagem do 2º trimestre, podemos vir a transacionar perto dos 23.000 milhões. Continua a haver procura e à medida que o grau de incerteza for diminuindo, aumenta a confiança dos consumidores e a procura vai continuar a crescer. A par disso, os projetos de construção que estavam no terreno estão a avançar, gerando oferta nova”, remata Pedro Lancastre.
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