Nos últimos dois anos, a pandemia mudou o mundo. Impactou tudo e todos, e o imobiliário não foi exceção. O setor mostrou-se resiliente à crise e permeável a mudanças, também, na decoração de interiores, até porque foi “dentro de casa” que começaram as grandes transformações, com a necessidade de se adaptarem os espaços da habitação às novas necessidades. No rescaldo de 2021, importa saber quais são as grandes tendências para o próximo ano. Afinal, como ficam as casas em 2022? Francisca Bettencourt, diretora geral da Integra Mais, deixa pistas para o que aí vem em entrevista ao idealista/news.
Se antes a decoração era deixada para segundo plano, com a Covid-19 passou a estar no topo das necessidades de muitos portugueses. Isto porque a decoração, além da beleza estética, garante conforto e funcionalidade, com impacto no nosso bem-estar emocional e físico. Atualmente, segundo a responsável, procuram-se soluções práticas e simples, mas bem desenhadas e com recurso a bons materiais. Os espaços de trabalho/escritórios são os projetos mais requisitados, juntamente com as varandas/terraços e espaços exteriores. A primeira, uma necessidade que surge da adoção crescente do modelo de teletrabalho, e a segunda pela preponderância que o “passar tempo ao livre” ganhou.
Francisca Bettencourt reconhece que “há ainda muita dificuldade em olhar para uma casa vazia, e apenas com a decoração transformar as divisões em espaços confortáveis e acolhedores, nomeadamente quando muito compartimentados e fechados”. Mas esta não é uma tarefa impossível. Em casas pequenas é preciso aplicar-se a máxima do “menos é mais”, e nas casas grandes é importante definir bem áreas e evitar mobiliário sem escala.
O ano de 2022 será marcado pela sustentabilidade – e todos os materiais relacionados com o tema serão tendência. Mas como é que se podem incorporar na decoração? E quem tem pouca disponibilidade financeira para remodelar a casa? Que pequenas mudanças pode fazer? Nesta entrevista escrita, a diretora-geral da Integra Mais, empresa especialista em construção/remodelação e decoração de interiores dá resposta a estas e outras questões.
Durante a pandemia falou-se muito na importância dos espaços exteriores, mas a verdade que é que foi também “dentro de casa” que começaram as grandes mudanças. Qual o impacto desta crise sanitária no segmento da decoração de interiores?
Com a permanência intensiva em casa, 24h sobre 24h, passámos a viver o nosso espaço de lazer e descanso também para trabalhar, dividindo-o com os filhos para estuda. Onde antes jantávamos passou a ser temporariamente “poiso” para portáteis, cadernos, canetas, pastas de papéis, chávenas de café… Em cada recanto, uma oportunidade para colocar novos objetos e isto naturalmente mudou a decoração das nossas casas. De repente, e sem pré-aviso, em todas as casas passou a ser imperativo haver zonas permanentes de trabalho.
Por outro lado, muito tempo em casa significou olharmos para os espaços e para a decoração todos os dias, durante muitas horas, e se aquele sofá que precisava de uma reforma há muito tempo e que não nos incomodava nas duas horas ao fim do dia em que o usávamos, agora era o momento para o substituir! Bem como a compra de um candeeiro para melhorar a luz da sala ou um tapete para dar mais conforto e umas almofadas novas para dar cor! Os quartos das crianças precisavam de espaços funcionais para terem aulas online: uma secretária, um candeeiro e uma cadeira confortável foram imprescindíveis.
A verdade é que curiosamente as lojas de bricolage e decoração online foram as que mais venderam durante a pandemia, atingiram recordes máximos e isto mostrou que redecorar e adaptar as nossas casas foi uma necessidade global.
O que é que as pessoas mais querem mudar? A casa inteira? Alguma divisão em específico?
Os espaços de trabalho/escritórios são os mais requisitados, juntamente com as varandas/terraços e espaços exteriores. Quando há espaço disponível para se intervir, as pessoas pretendem usá-lo como zona permanente de trabalho, com um posto de trabalho fixo, ou seja, secretária, arrumação e eventual capacidade de isolamento por portas ou painéis, dada a recorrência frequente a reuniões por videoconferência. Muitas vezes este espaço está integrado na sala de estar, na suite ou noutro recanto disponível.
As varandas espaçosas e terraços também são objeto de remodelação, neste caso para serem usufruídas ao máximo, com o objetivo de praticar desporto ou simplesmente para lazer, com zonas de refeição e estar, com mobiliário e iluminação adequado de exterior, e guarda-sóis ou toldos. Os espaços exteriores/jardins, ganham funções mais específicas destinadas a desporto, com áreas delimitadas de piscina, zonas para crianças, de refeições e de estadia, lareira e estruturas de ensombramento.
Ter uma decoração bonita não chega. Hoje em dia, a funcionalidade e conforto são palavras de ordem. Concorda? Se sim, porquê?
A decoração traz conforto quando bem equilibrada. Na decoração, a beleza é um conceito muito pessoal, embora haja uma universalidade subjacente. A funcionalidade é fundamental na decoração - tudo começa por ser funcional, depois decora-se sem comprometer essa funcionalidade.
A vida que levamos hoje em dia remete-nos para soluções de decoração práticas e simples que, em primeiro lugar, funcionem: que sejam de bons materiais e bem desenhadas, que sejam duráveis e de fácil manutenção, e que dada a grande oferta de produto e constante inovação, sejam passíveis de substituição a médio prazo. Depois há os clássicos, intemporais, mais dispendiosos que nos acompanham uma vida inteira, muitas vezes passam de gerações em gerações, trazendo história às nossas casas e harmonia com tudo.
A funcionalidade é fundamental na decoração - tudo começa por ser funcional, depois decora-se sem comprometer essa funcionalidade.
O conforto é a palavra de ordem na decoração de hoje, porque ao longo do tempo fomos evoluindo neste sentido, em objetos com mais design, mais resistentes, mais moldáveis, despojados, mais fáceis de conjugar com diferentes peças e, naturalmente, mais adaptados aos dias de hoje.
O que é que “está mal” nas casas dos portugueses? Quais são os principais erros? (Em termos de ambientes e organização)?
Com as grandes lojas de decoração a criar ambientes para venderem os seus produtos e a apostarem muito na categoria da organização e arrumação, houve uma evolução muito significativa e positiva na decoração das casas portuguesas na última década. No entanto, há ainda muita dificuldade em olhar para uma casa vazia, e apenas com a decoração transformar as divisões em espaços confortáveis e acolhedores, nomeadamente quando muito compartimentados e fechados.
Em casas muito pequenas é difícil perceber que “menos é mais”, e que se deve tirar o máximo partido da arrumação integrada em mobiliário com várias funções, que a iluminação é muito importante – embora não deva ser excessiva – que um candeeiro com design faz toda a diferença e que uma mesa de jantar rebatível é imprescindível… No fundo, que não se deve ter uma casa pequena, cheia.
Em casas grandes, por outro lado, não devemos ter mobiliário sem escala, que fique a “boiar”. Devemos mobilar de acordo com a dimensão dos espaços, devemos ter atenção aos espaços de circulação porque serão naturalmente grandes - importa dar-lhes carácter para não serem meros corredores compridos. Aqui devemos ter presente que há áreas bem definidas destinadas a arrumação, zonas de estar, de trabalho/biblioteca, cozinha, zona de roupas, para evitarmos a confusão que muitas vezes se vê em muitas casas…
Há ainda que deixar respirar peças especiais, pela sua robustez ou pela sua cor ou textura fortes, pela sua forma arrojada, excessivo volume ou pela sua simplicidade, e portanto não as condicionar por outras peças com as mesmas características.
Eu diria que há uma grande tendência na casa portuguesa para distribuir quadros por todas as divisões da casa sem um objetivo comum, bem como tetos falsos demasiados baixos com focos de luz direta, tornando os espaços desconfortáveis. A inevitável mistura de zonas em várias divisões da casa, tornam-na desarrumada, bem como a grande diversidade de materiais, que cria alguma desarmonia nos ambientes.
Por que é que ter um projeto de interiores é tão importante?
Com um projeto de interiores tem-se uma análise global do espaço a intervir, não só ao nível da decoração, mas sim, e muito importante, ao nível do espaço total que vai receber essa decoração. O projeto de interiores vai ter em conta os requisitos do cliente e vai oferecer a melhor solução para o espaço, a máxima otimização tendo em conta aspetos como a iluminação natural, a área disponível e de expansão, a exposição solar, o pé direito, a circulação, as infraestruturas, as condicionantes, entre outros.
Personalizando o espaço ao gosto do cliente, este será único e adaptado às suas necessidades, integrando todas as vertentes, desde obra, eletricidade, iluminação, canalizações, até à decoração, tudo será pensado ao pormenor e o resultado será um sucesso.
Com um projeto de arquitetura de interiores, evitam-se erros irreversíveis, disposições erradas de divisões, má organização de espaços como a cozinha e circulações, bem como arrumação, escolha inadequada de materiais, soluções térmicas e acústicas, etc..
Com um profissional a seu lado, o cliente poderá participar no projeto da sua casa, mas orientado na escolha de revestimentos, cores, tecidos, peças de mobiliário e iluminação, entre outros. Com um projeto de arquitetura de interiores, evitam-se erros irreversíveis, disposições erradas de divisões, má organização de espaços como a cozinha e circulações, bem como arrumação, escolha inadequada de materiais, soluções térmicas e acústicas, etc..
Os espaços afetam o nosso bem-estar emocional e físico, mas nem sempre é fácil ou há disponibilidade financeira para remodelar a casa. Que pequenas mudanças (e fáceis de fazer) aconselharia antes de arrancar o novo ano?
A nossa casa é, na maior parte das vezes, o nosso porto seguro e, como tal, deve refletir a serenidade e tranquilidade que precisamos no fim do dia. Há inúmeras pequenas mudanças que podemos fazer ao longo do ano que melhoram bastante o ambiente e o nosso conforto em casa, e que estão ao alcance de todos.
Antes de entrar em 2022 gostava de imaginar as casas portuguesas com velas de aromas nas salas, novas almofadas coloridas nos sofás, iluminadas por um candeeiro de pé com luz indireta, um tapete em tons quentes e prateleiras com as molduras de fotografias juntas. Numa parede especial os quadros numa única composição, ao centro da mesa flores secas e no canto uma planta de interior num vaso grande.
No corredor, um espelho e papel de parede numa das paredes do hall, e caixas de arrumação ou cestos na estante. Na cozinha, substituíam-se os puxadores dos armários e um novo revestimento entre bancada e armários superiores, novos utensílios e uma tábua grande de madeira. Muitas vezes mudar o mobiliário de sítio e investir numa boa iluminação faz uma diferença enorme nos espaços!
Sabendo que trabalha atualmente o mercado premium residencial, o que é considerado hoje em dia ‘luxo’, numa casa?
Para além de muitos metros quadrados (m2) e de materiais topo de gama, uma casa de luxo é hoje um espaço totalmente personalizado ao gosto do cliente, com todas as valências necessárias ao seu lifestyle, com o objetivo de lhe trazer o máximo conforto e possibilitar soluções ‘taylor made’.
O luxo já não passa só por ter grandes áreas nas salas e várias suites, mas sim por ter materiais de revestimento que são edições limitadas, carpintarias personalizadas, sistemas de domótica integrada, iluminação projetada ao milímetro, alta tecnologia ao nível da construção, máxima eficiência energética, obras de arte escolhidas para cada parede, entre outros. As casas de banho são amplas e têm duches dignos dos melhores hotéis, com banheiras de SPA e sauna.
Para além da piscina, uma sala home cinema, ginásio e um wine celar são requisitos fundamentais, bem como zona destacada de convidados, zonas exteriores de estadia, refeições, campos de ténis/padel, etc.
Qual é o perfil dos vossos clientes ‘premium’?
Um cliente premium para além de ter um grande poder económico sabe bem o que quer, normalmente viajou bastante pelo mundo, esteve em muitos hotéis e casas de luxo, e sabe o que pretende para a sua casa. No entanto, é um cliente que confia no nosso profissionalismo porque está habituado a trabalhar desta forma e não dispõe de tempo para acompanhar o processo a 100%. É um cliente exigente, que pretende um serviço eficaz do ponto de vista técnico e comercial, que quer falar só com um interlocutor, exigindo resultados e prazos cumpridos - uma solução chave na mão.
Por fim, quais são as tendências de decoração de interiores para 2022?
2022 vai ser um ano pautado pelo tema da sustentabilidade e como tal, todos os materiais relacionados com o tema serão tendência. As formas orgânicas, a natureza dentro de casa, madeira, plantas, pedra, linho e algodão, e todos os materiais reciclados ou ecológicos.
Ambientes integrados, confortáveis, sala com escritório e cozinha aberta, caracterizados por espaços amplos e abertos, multifuncionais. Mobiliário prático multifuncional, com design, fácil de interligar, e conjugação de peças intemporais antigas com mobiliário moderno. Os tons pastel permanecem, trazem conforto, volta o dourado e o preto associados à sofisticação.
2022 vai ser um ano pautado pelo tema da sustentabilidade e como tal, todos os materiais relacionados com o tema serão tendência.
O conforto será um objetivo comum, aliado à multifuncionalidade de peças e decorações orgânicas, gerando ambientes serenos, iluminados, sustentáveis e com ligação à natureza, sejam estes mais despojados ou mais sofisticados, com apontamentos de texturas, cores e padrões.
“As casas passaram a estar no centro de tudo” depois da pandemia
Tudo mudou com a chegada da pandemia da Covid-19. E a arquitetura não foi exceção. As casas, que antes eram tidas como meros dormitórios, passaram “agora a estar no centro de tudo” e “a qualidade e o conforto do espaço da casa tornaram-se uma prioridade para todos”, segundo declaram desde a Contaminar Arquitetos. Responsável por desenhar a Casa Povo (em Leiria) - que venceu o prémio MasterPrize2021, na categoria de arquitetura residenc
Decorar casas pequenas e grandes: por que é que um projeto de interiores faz a diferença?
Comprar uma casa nova e não saber como decorá-la ou organizá-la. Mudar para uma casa usada e não saber o que fazer – ou por onde começar – para remodelar e aproveitar os espaços. É muito provável que a maioria das pessoas se identifique com qualquer um destes cenários. A verdade é que o design de interiores pode ter um impacto positivo na vida das pessoas. A casa influencia o nosso bem-estar, e ainda que a beleza estética de um espaço seja importante també
Como utilizar materiais naturais e saudáveis na decoração da casa
Desde sempre que as matérias-primas em bruto fazem parte da decoração, pelo que a utilização de materiais naturais numa casa não é algo novo, mas tem ganho cada vez mais espaço e importância. A valorização da diminuição da produção massiva de produtos, cuja degradação é prejudicial ao planeta (caso do plástico), veio ajudar a que a utilização dos inúmeros materiais naturais existentes ganhassem o espaço que precisavam para serem notados e tidos em conta na decoração
Jogos de decoração - divertir-se a decorar casas sem gastar um tostão
Todos nós temos sempre alguma coisa a mudar em casa. Sempre! Além de que a nossa casa é o reflexo da nossa personalidade, é o espaço onde passamos grande parte das nossas vidas e, por isso, queremos que seja acolhedor, funcional e bonito, ao mesmo tempo.
Fala com ela em casa: a importância dos detalhes na vida (de Inês Meneses)
"Voltar a casa sem pensar... Deixar a luz entrar... Sem ter medo". A casa, sempre a casa. O porto de abrigo, o refúgio, o ninho, o berço, o tudo. Na música de Rodrigo Leão. E sempre. Ainda mais agora na pandemia, ao ganhar novas formas de expressão. Passou a ser o lugar onde se vive, trabalha e estuda, onde as nossas histórias são escritas. Onde construímos e guardamos (ainda mais) memórias. “As casas têm de contar o que somos” e
Da América a África: retalhistas de decoração confirmados na Ceranor
A Ceranor está a atrair diversos mercados internacionais. A feira de referência da EXPONOR para a fileira portuguesa da casa e decoração vai decorrer entre 18 a 20 de setembro, no recinto da Feira Internacional do Porto em Leça da Palmeira, Matosinhos, e conta já com 1.300 visitantes registados de diversos países.
Interiores de luxo com vistas para o mar: dicas e ideias para decorar
Com a chegada do verão e do bom tempo, as casas com vista para o mar ganham destaque. Esta época convida a abrir as janelas, deixar entrar a brisa do mar e desfrutar de espaços sofisticados que se integram com o ambiente. Uma boa forma de conseguir isso é através de interiores com acabamentos exclusivos.
Para poder comentar deves entrar na tua conta