Nos arredores de Madrid, está a ser construído um armazém com cerca de 6.000 metros quadrados (m2). É aí que a The Prototipo Company, empresa que surgiu em plena pandemia, dá mais um passo na construção industrializada. Atualmente fabrica entre 80 e 100 casas de banho por semana, destinadas a qualquer tipo de imóvel, desde alojamentos de arrendamento a residências de estudantes, hospitais ou hotéis de luxo, com o objetivo de reduzir os tempos de construção e o impacto ambiental das obras. Tudo isso graças à digitalização de processos, inteligência artificial e uso de novos materiais mais sustentáveis.
Jeffrey Sújar, CEO da The Prototipo Company, recebeu o idealista/news nas instalações para explicar-nos em que consiste este seu projeto, quais são os seus objetivos e como o futuro da construção depende inevitavelmente da produção em massa e das novas tecnologias.
Este negócio “decorre da nossa atividade de desenvolvimento e é o resultado de muitos anos de experiência em desenvolvimento de projetos, construção de edifícios e, sobretudo, em projetos de ativos alternativos, como residências de estudantes e coliving. É neste tipo de projetos que percebemos que tínhamos que construir de forma mais rápida, eficiente e sustentável. Em suma, que os projetos tinham que ser elaborados e desenhados de forma diferente. Como resultado dessa reflexão, montamos a The Prototipo Company”, explica Sújar.
A empresa iniciou a sua atividade no verão de 2020, em plena pandemia, conta já com cerca de uma centena de trabalhadores e é especializada no desenvolvimento de casas de banho industrializadas que são produzidas em fábrica e a deixam completamente acabada e pronta para instalar.
Nestes meses, realizou projetos para alguns dos principais promotores do país vizinho, como Aedas Homes, Neinor Homes ou Vía Célere, e no setor da saúde, como o projeto de expansão Gregorio Marañón. Também nas novas residências estudantis de empresas como a Urbania, da qual Sújar é atualmente sócio-gerente de ativos alternativos e controladora da The Prototipo Company; Round Hill Capital, Corestate ou Experiência Estudantil.
No curto prazo, o objetivo é manter a atual capacidade produtiva para fabricar cerca de 4.000 unidades 3D industrializadas por ano, avançar com a estratégia de desenvolvimento de cozinhas e outros elementos construtivos como fachadas, e dar o salto da Península para outras países, como o Reino Unido, Alemanha ou França, para ganhar capacidade de desenvolvimento e crescimento.
As vantagens da industrialização
Sújar defende que esta nova forma de construir, muito utilizada nos EUA, Japão e norte da Europa, tem muitos benefícios: desde a redução do tempo de execução em até 40% em relação às obras tradicionais até a atração de grupos como jovens, mulheres ou pessoas com deficiência .
“O primeiro e mais claro benefício da construção industrializada é a rapidez e a segurança. Na fábrica, todas as unidades são iguais e há um controlo de qualidade que não se consegue num trabalho tradicional”, detalha o CEO da The Prototipo Company.
Uma vez que a casa de banho chega ao local, basta conectar as ligações de eletricidade e água para que possa ser usada. Além disso, salienta, “o tempo que o promotor deve dedicar à correção das falhas, que são muitas e penalizam o cliente final, também é reduzido, pois os controlos de qualidade são realizados antes da instalação”.
Independentemente dos tempos, Sújar defende que outra das grandes vantagens da produção em massa é a sustentabilidade, graças à redução da geração de resíduos, do consumo de energia e das emissões de carbono da atividade de construção. O CEO da The Prototipo Company também fala sobre inovação e possibilidade de introdução de novos materiais com menor impacto ambiental.
“É claro que usamos os materiais cerâmicos tradicionais que todos conhecemos, mas também estamos a trabalhar com novos materiais como os compósitos, que são misturas de resinas com elementos de alumínio que geram painéis que podem ser melhor industrializados e permitem uma melhor automatização do processo. E estamos à procura de materiais reciclados e recicláveis que nos ajudem a melhorar a pegada de carbono dos edifícios”, salienta Sújar.
A industrialização também permite a produção em massa de produtos à la carte, pré-concebidos de acordo com as necessidades do promotor e do projeto específico, além de avançar no caminho da digitalização.
“É uma forma de trazer tecnologia para a construção. Na verdade, é o único setor cuja produtividade é menor agora do que há 20 ou 25 anos. Mas a industrialização traz a digitalização de mãos dadas. Todos os processos são agora digitais, desde o design à fabricação, o que permite que a produtividade melhore ao longo do tempo, pois todas as lições aprendidas são aplicadas e mais valor agregado é gerado em toda a cadeia, das fábricas aos promotores”, argumenta.
Sújar defende ainda que a construção pré-fabricada permite atrair e reter talentos de perfis que não veem a construção como saída profissional, como jovens, mulheres ou pessoas com deficiência.
“Trabalhar na construção em ambiente industrial favorece que haja pessoas que não se sentem, não gostam ou não se sentem confortáveis no setor da construção, a subir em andaimes, a trabalhar em turnos não estáveis e em locais que variam continuamente. Mas oferecemos um trabalho fabril com horário fixo e com desenvolvimento profissional muito mais atrativo do que a construção tradicional”, indica o CEO da The Prototipo Company.
“Podemos atrair talentos que de outra forma não iriam para a construção tradicional, como os jovens, porque conseguimos dar-lhes um plano de carreira mais estável e atrativo graças à tecnologia. Além disso, perfis que não costumamos ver nas obras, como mulheres, pessoas com mobilidade reduzida ou algum tipo de deficiência, são incorporados no setor. Este é um ambiente mais controlado, seguro e com melhores condições de trabalho”, destaca.
Industrialização, uma tendência imparável
A industrialização no campo da construção está presente em Espanha há vários anos, embora seja residual. Segundo cálculos da The Prototipo Company, esse sistema representa apenas 4% da atividade do setor, enquanto em outros mercados o seu peso se aproxima de 50%.
“Não vamos continuar a construir prédios como fazíamos há cinco anos, que era igual há 100 anos. Agora estamos a tornar-nos cada vez mais parecidos com outros países europeus, Estados Unidos e Japão, onde quase metade da população de edifícios em maior ou menor grau são industrializados. Em Espanha, estamos em termos percentuais abaixo de 5%, mas em alguns anos podemos estar em torno de 20% e numa década ultrapassar em muito os 30%. É uma tendência imparável”, confessa Sújar.
"Não é mais uma questão de gostar ou não. O mercado, com escassez de materiais e mão de obra, inflação, custo da eletricidade... está simplesmente a empurrar-nos para ter que construir de outra maneira. Não haverá outra opção”, conclui.
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