
As taxas de juro diretoras são o principal instrumento do Banco Central Europeu (BCE) para orientar a direção da sua política monetária. E o regulador liderado por Christine Lagarde tem usado esta sua arma para pôr um travão à alta inflação que se faz sentir na Zona Euro, subindo os juros diretores em 250 pontos base desde julho até agora. Depois de as ter aumentado em 75 pontos em setembro e em outubro, o BCE decidiu abrandar a evolução das taxas de juro em dezembro, com um aumento de 50 pontos. E vai assim continuar? O governador do Banco de Portugal (BdP) acredita que já não voltaremos a ver aumentos “jumbo” nos juros de 75 pontos.
A inflação na Zona Euro começou a escalar no início de 2022, tendo ganhado um novo fôlego com início da guerra da Ucrânia, dadas as restrições no fornecimento de gás e de alimentos. Mas só em julho é que o regulador europeu começou a reagir, subindo as taxas de juro em 25 pontos base. Já nas reuniões de setembro e outubro, o BCE decidiu ir mais longe apostando em subidas "jumbo" de 75 pontos base.
Depois de elevar as taxas de juro diretoras três vezes, a inflação na Zona Euro começou a dar sinais de descida: passou de 10,6% em outubro para 10,0% em novembro. E, tendo em conta este e outros fatores, o BCE decidiu abrandar o ritmo de subida das taxas de juro, anunciando na reunião do passado dia 15 de dezembro um novo aumento de 50 pontos base. Mas também deixou claro que não vai ficar por aqui: o Conselho do BCE espera continuar a aumentar as taxas de juro “significativamente, porque a inflação permanece demasiado elevada”, disseram em comunicado.
"Haver mais subidas é uma inevitabilidade e a previsibilidade da política monetária, que é altamente desejável, acontecerá de forma mais óbvia para todos assim que a inflação começar a cair", disse Mário Centeno, citado pelo Jornal de Negócios. O governador do BdP acredita que a inflação atinja o pico na área do euro no quarto trimestre de 2022 e que "a atualização de preços se poderá prolongar por mais um mês ou dois".
Mas, então, qual será o ritmo de subida dos juros diretores no próximo ano? “Vejo com muita baixa probabilidade voltarmos a ter aumentos de 75 pontos base”, disse Mário Centeno, governador do BdP, depois de apresentar o Boletim Económico de dezembro, publicado na passada sexta-feira, dia 16 de dezembro.
A este propósito, Christine Lagarde adiantou que as taxas de juro devem continuar a subir "a um ritmo de 50 pontos base durante algum tempo". Até quando não se sabe. "Haverá mais aumentos das taxas de juro. Até quando? Sou honesto, [isso] não sei", frisou Luis de Guindos, vice-presidente do banco central, num evento em Madrid esta semana, organizado pela Nueva Economía.

Quais os efeitos das subidas dos juros no mercado residencial?
“Cada vez que aumentamos a taxa de juro, estamos a apertar condições de financiamento”, referiu Mário Centeno, citado pelo ECO. Até porque “cada subida da taxa, por ter efeito de restritividade, tem de obrigar a pensar bastante”, salienta.
Os efeitos da subida das taxas de juro têm impactado toda a economia, restringindo o consumo dos particulares e o investimento das empresas. E tem efeitos, em particular, no mercado residencial, já que impulsiona a subida dos juros nos créditos habitação, um financiamento importante para os portugueses que querem comprar casa.
Com as taxas de juro a subir e quebra de confiança das famílias, já há sinais de algum abrandamento da procura de créditos habitação para comprar casa em Portugal na segunda metade do ano, apontou o BdP no Relatório de Estabilidade Financeira publicado em novembro. Em resultado, o investimento em habitação abranda significativamente em 2022: de 12,2% para 0,3%, diz o regulador.
E este cenário poderá agravar-se, até porque o BdP admite que as taxas de juro de curto prazo vão ser mais elevadas. “Refletindo as subidas de taxas de juro decididas nas últimas reuniões do BCE e a expetativa de subidas adicionais nos próximos meses, a Euribor a 3 meses aumenta para 2,9% em 2023, diminuindo gradualmente para 2,5% em 2025. Este perfil implica uma revisão em alta de 1,6 pp em 2023 face ao BE de junho”, lê-se no Boletim Económico de dezembro de 2022.
Contas feitas, o regulador liderado por Mário Centeno afirma que o ”investimento em habitação vai reduzir-se em 2023, refletindo o impacto da estagnação do rendimento disponível e do aumento das taxas de juro sobre a procura”. Já para “2024-25, espera-se um crescimento de 2,2%, em média, associado ao aumento do rendimento das famílias residentes, bem como à procura por não residentes e para fins turísticos”, acredita.
*Notícia atualizada dia 22 de dezembro, às 9h01, com novas declarações de Mário Centeno
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