Nova subida dos juros diretores volta a dar gás à Euribor. Quanto vão subir as prestações da casa das famílias? Explicamos.
Comentários: 0
Subida dos juros pelo BCE
GTRES

O contexto económico mudou em 2022. A inflação disparou na Zona Euro, sobretudo devido ao aumento dos preços da energia e dos alimentos. E, para travar esta subida generalizada dos preços, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu mudar o rumo da sua política monetária, iniciando a subida das taxas de juro diretoras em julho. De lá para cá, o regulador europeu já subiu os juros diretores quatro vezes elevando-as em 250 pontos base, tendo o último aumento sido anunciado esta quinta-feira, dia 15 de dezembro, de 50 pontos. Estas decisões já estão a ter impacto nas carteiras das famílias por toda a Europa – e Portugal não é exceção. Isto porque a subida dos juros diretores influencia diretamente a evolução da Euribor, agravando o custo dos créditos habitação de taxa variável. A questão é que o BCE não vai ficar por aqui: como a "inflação permanece demasiado elevada", o regulador pretende "continuar a aumentar as taxas de juro significativamente".

Uma nova subida da taxa de juro diretora pelo regulador europeu já era esperada na comunidade europeia, já que o conselho do BCE deixou bem claro que vai “continuar a aumentar as taxas de juro para assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo”, apontou a entidade em comunicado publicado em outubro. O que ainda não se sabia ao certo era a dimensão da nova subida dos juros diretores – se voltaria a ser agressiva, de 75 pontos base, como se verificou nas reuniões de setembro e outubro, ou se seria mais branda.

Esta quinta-feira, as dúvidas quanto a esta questão foram esclarecidas: o regulador liderado por Christine Lagarde decidiu subir as taxas de juro diretoras em 50 pontos base. A pesar nesta decisão está o facto de a inflação na Zona Euro ter caído de 10,6% em outubro para 10% em novembro (-0,6 pontos percentuais), dando sinais de que está a iniciar o trajeto de redução com vista a alcançar os 2% no médio prazo.

“O Conselho do BCE decidiu aumentar as taxas de juro, e espera continuar a aumentá‑las significativamente, porque a inflação permanece demasiado elevada e se projeta que continue acima do objetivo durante demasiado tempo", afirma Christine Lagarde

Depois do novo aumento de 50 pontos base anunciado está quinta-feira, dia 15 de dezembro, as três taxas de juro diretoras passam a ser as seguintes a partir do dia 21 de dezembro de 2022:

  • Taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa de 2% para 2,5%;
  • Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez passa de 2,25% para 2,75%
  • Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos passa de 1,5% para 2,00%.

A verdade é que o BCE não deve ficar por aqui. Como a inflação na Zona Euro continua muito acima do objetivo de 2%, são esperadas novas subidas das taxas de juro diretoras nas próximas reuniões, agendadas para 2 de fevereiro de 2023 e 16 de março de 2023. "O Conselho do BCE considera que as taxas de juro ainda terão de aumentar de forma significativa a um ritmo constante, no sentido de serem atingidos níveis que sejam suficientemente restritivos para assegurar um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo", explicou o regulador europeu no comunicado esta quinta-feira divulgado. 

Christine Lagarde adiantou, a este propósito, que as taxas de juro devem continuar a subir "a um ritmo de 50 pontos base durante algum tempo". Mas até quando é que os europeus vão ver os juros diretores subir? "Haverá mais aumentos das taxas de juro. Até quando? Sou honesto, [isso] não sei", frisou Luis de Guindos, vice-presidente do banco central, citado pelo jornal El Economista.

"Apesar da inflação estar a reduzir, os seus níveis continuam muito acima do objetivo, e não parece haver nenhum indicador que garanta que durante 2023 nos aproximemos dos 2%, pelo que o previsível é que as taxas de juro se mantenham nos níveis atuais ou até mesmo que continuem a subir", considera Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.

"Manter as taxas de juro em níveis restritivos reduzirá, com o tempo, a inflação, ao refrear a procura, e protegerá também contra o risco de uma persistente deslocação, em sentido ascendente, das expectativas de inflação. As futuras decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro diretoras continuarão a depender dos dados e a seguir uma abordagem reunião a reunião", esclarecem ainda na mesma publicação.

Quais são os principais impactos da subida dos juros pelo BCE?

Mas, afinal, quais são as consequências da subida de juros pelo BCE de 250 pontos base para pôr um travão à subida da inflação na Europa? Depois de os juros diretores passarem 11 anos estabilizados, tudo indica que a dimensão desta subida (e das próximas) continuará a ter efeitos nos mercados monetários e financeiros, bem como no crescimento económico da área euro:

  • Recessão na Zona Euro à espreita

Vários países europeus estão a sentir um abrandamento do crescimento económico, como é o caso da Alemanha e de Itália. E Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, admitiu no início de novembro que os “riscos para a estabilidade financeira aumentaram” e que é provável que haja “uma recessão técnica na Zona Euro”, ou seja, que haverá contração económica no espaço europeu durante dois trimestres seguidos.

As previsões da Comissão Europeia (CE) para 2023 apontam na mesma direção, antecipando um crescimento do PIB de apenas 0,3% na Zona Euro. Em Portugal, o PIB deverá crescer 0,7% no próximo ano, antevê Bruxelas.

O Conselho do BCE também admitiu esta quarta-feira que "a atividade económica na área do euro poderá registar uma contração no presente trimestre e no próximo, devido à crise energética, à elevada incerteza, ao enfraquecimento da atividade económica mundial e às condições de financiamento mais restritivas". Ou seja, uma recessão económica, a verificar-se, "seria relativamente curta e pouco profunda", explicam. Em concreto, o Eurosistema estima agora que a economia registará uma taxa de crescimento de 3,4% em 2022, 0,5% em 2023, 1,9% em 2024 e 1,8% em 2025.

  • Inflação deverá começar a cair em 2023

A CE estima ainda que a inflação deverá fixar-se nos 8,5% no espaço europeu no final de 2022. E deverá cair para os 6,1% no próximo ano. Só em 2024 é que a CE admite que a inflação possa cair para níveis mais estáveis, de 2,6%. As previsões de Bruxelas para Portugal apontam para que a inflação se fixe em 8% em 2022 e em 5,8% em 2023, estando ambos os valores abaixo da média da área euro.

Esta quinta-feira, o Conselho do BCE também partilhou as suas estimativas de inflação, apontado que em 2022 deverá fixar-se em 8,4% e em 2023 nos 6,3%. A descida mais expressiva da inflação só é esperada para 2024 (3,4%) e para 2025 (2,3%). Até lá, a política monetária do BCE vai velejar no sentido de reduzir a inflação na Zona Euro, continuando a subir os juros diretores nas próximas reuniões de política monetária.

Inflação em Portugal
Pexels
  • Depósitos a prazo mais rentáveis

A subida dos juros diretores elevou a taxa dos depósitos para os 2% e, em resultado, as taxas de juro dos novos depósitos bancários de particulares estão a subir na Zona Euro. Isto quer dizer que colocar as poupanças nos depósitos a prazo começou a render mais em 2022. Em setembro, a taxa de juro anual média dos depósitos a prazo até 1 ano situou‑se em 0,56% na área euro.

Em Portugal, os juros nos depósitos começaram a subir depois do verão, passando de 0,05% em setembro para 0,24% em outubro. Esta é a taxa de juro nos depósitos a prazo mais elevada desde novembro de 2017 e representa a maior subida mensal desde fevereiro de 2012, apontou o Banco de Portugal (BdP).

  • Subida dos juros nos créditos habitação

As decisões do regulador europeu também têm impacto direto na evolução das taxas Euribor, que estão a escalar desde o início do ano para todos os prazos. Por conseguinte, as famílias que têm créditos habitação de taxa variável estão a sentir as prestações da casa subir dezenas ou até centenas de euros assim que são atualizadas. E quem quer contratar novos empréstimos para adquirir casa fá-lo com taxas de juro – quer variáveis, quer fixas – mais elevadas.

Isto quer dizer que à medida que o BCE continua a subir os juros diretores para travar a inflação, as taxas Euribor deverão seguir a trajetória ascendente já iniciada, encarecendo ainda mais as prestações da casa das famílias no médio prazo. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) acredita que o regulador europeu vai subir as taxas de juro diretoras até aos 4% em 2023. E, se assim se verificar, as taxas Euribor podem chegar ao patamar dos 5%, atingido em 2008 na crise do subprime.

Subida das prestações da casa
Pexels

Quais os efeitos da subida dos juros pelo BCE no crédito habitação?

A realidade agora é só uma: o mercado de crédito habitação está a ficar mais caro à medida que o BCE sobe as taxas de juro diretoras. As decisões de política monetária estão a influenciar a subida da Euribor de uma forma tal, que as taxas abandonaram o terreno negativo em 2022 e estão a atingir máximos da última década:

  • Euribor a 12 meses: atingiu os 2,828% em novembro, uma taxa superior à registada em outubro (2,629%);
  • Euribor a 6 meses: fixou-se em 2,321% no mês passado, contra 1,997% em outubro;
  • Euribor a 3 meses: fixou-se em 1,825% em novembro, mais cerca de 0,4 pontos que em outubro (1,428%).

O que também é certo é que a subida dos juros diretores pelo regulador europeu influencia de forma distinta os créditos habitação existentes, bem como os novos empréstimos destinados à compra de casa. Resta saber é se a Euribor já absorveu ou não a atual subida de juros pelo BCE – já que as taxas de referência começaram a subir antes de o regulador iniciar a trajetória ascendente das taxas diretoras. Ou seja, o mercado imobiliário espera para ver se a Euribor irá estabilizar entre os 2% e os 3% ou se continuará a agravar-se para outros patamares.

É isso mesmo que Miguel Cabrita, do idealista/créditohabitação em Portugal, explica: “O verdadeiro impacto do aumento de 50 pontos básicos será notado no comportamento da Euribor, que reflete a expetativa a 12 meses e que está próxima de 2,80% há várias semanas. Teremos de ver se esta subida da taxa de juro impulsiona a Euribor e a mesma volta a subir (situando-se acima dos 3%) ou se, pelo contrário, apenas subirá quando o BCE também supere os 3%".

  • Crédito habitação existente: como é que a nova subida dos juros influencia a Euribor?

No universo dos créditos habitação existentes, importa saber que a subida dos juros só afeta os empréstimos da casa de taxa variável e indexados à Euribor. Isto porque quem optou pela taxa fixa irá pagar sempre a mesma prestação da casa ao longo do contrato. Já as famílias que optaram pela taxa mista têm de ter em atenção se o período de fixação de taxas já terminou ou se está prestes a terminar, já que depois passam a pagar as prestações de acordo com os juros de taxa variável, sendo atualizadas consoante a Euribor elegida no momento do contrato.

Ora, as famílias que contrataram créditos habitação de taxa variável verão a prestação da casa subir assim que os juros forem revistas trimestral, semestral ou anualmente, conforme a taxa Euribor contratada seja a 3, a 6, ou a 12 meses, respetivamente. "Do ponto de vista da economia familiar, assistiremos à continuação de fortes revisões em alta das prestações mensais", avança Miguel Cabrita. Mas a dimensão do aumento vai depender do ano do contrato de crédito habitação:

  • Créditos habitação de taxa variável recentes: quem pediu empréstimo para comprar casa nos últimos sete anos, com a Euribor ainda negativa, poderá sentir mais os efeitos das subidas dos juros. “Com a aplicação do sistema de amortização francês, pelo qual são pagos mais juros no início do empréstimo, os créditos habitação mais recentes vão sofrer aumentos mais acentuados”, explica Miguel Cabrita.
  • Créditos habitação de taxa variável antigos: já quem está a pagar os empréstimos há vários anos não sentirá tanto a subida dos juros nas prestações da casa, já que nesta altura os mutuários estarão a amortizar mais capital na prestação do que a pagar juros.

Em Portugal, a maioria dos créditos habitação são de taxa variável (cerca de 90%), muito embora a proporção de empréstimos com taxa fixa esteja gradualmente a aumentar desde 2016, tal como apontou o BdP em junho. Isto quer dizer que a subida dos juros diretores pelo BCE, que se reflete depois nas taxas Euribor, acaba por impactar diretamente as prestações da casa a pagar ao banco, reduzindo os rendimentos disponíveis dos portugueses, que já se veem pressionados pela alta inflação que se sente no país (fixou-se nos 9,9% em novembro).

  • Crédito habitação novo: como sobem as taxas de juro?

Agora, as famílias que pretendem comprar casa com recurso a financiamento bancário vão encontrar um mercado hipotecário mais caro do que no ano anterior. Isto porque as taxas variáveis estão a subir à boleia da Euribor. E as taxas fixas também estão a aumentar, já que os bancos estão a adaptar a oferta de taxas fixas ao preço do dinheiro.

Neste contexto, as famílias devem, desde logo, fazer contas à vida e decidir se valerá a pena optar pela taxa fixa, pela taxa variável ou pela taxa mista, analisando os juros e o spread das ofertas de crédito habitação. Além disso, também importa ter em conta a TAEG (Taxa Anual de Encargos Efetiva Global) e o MTIC (Montante Total Imputado ao Consumidor), já que são estes os principais indicadores para comparar diferentes propostas de empréstimo da casa.

"Para quem vai contratar um novo empréstimo para comprar casa nos próximos meses é provável que as condições se mantenham estáveis nos níveis atuais: no caso da taxa variável o mercado aguarda novos movimentos da Euribor e, no caso dos créditos com taxa mista e fixa, espera-se para ver se o custo de financiamento a longo prazo vai ou não aumentar", explica o responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.

No nosso país, as famílias continuam a optar por contratar empréstimos habitação de taxa variável – muito embora fiquem expostos à volatilidade da Euribor. Os dados de outubro do BdP revelam que cerca de 83% do montante dos novos empréstimos para a compra de habitação própria e permanente foi concedido a taxa variável. Só 7% dos novos créditos habitação fixaram a taxa de juro. E 9% escolheu a taxa de juro mista.

Mas porque é que isto acontece num momento de elevada incerteza? A verdade em Portugal a oferta de taxas fixas continua a não ser atrativa para as famílias: a taxa de juro média dos novos contratos subiu de 2,1% em dezembro do ano passado para 4,1% em outubro de 2022, indica o regulador liderado por Mário Centeno. Já nos empréstimos a taxa variável, a taxa de juro média dos novos contratos subiu de 0,6% para 2,6% entre dezembro de 2021 e outubro de 2022, sendo, portanto, mais baixa que a taxa fixa.

Vejamos um exemplo concreto: se um empréstimo for contratado em dezembro com um spread de 1% e a Euribor a 6 meses de 2,321% (média de novembro), significa que a família irá pagar juros (TAN -Taxa Anual Nominal) de 3,321% durante os seis meses seguintes. E só em maio próximo ano é que a prestação será atualizada com um novo valor da Euribor. Esta taxa de juro variável continua inferior à taxa de juro fixa média no país (de 4,1% em outubro), em 0,779 p.p.

Ainda assim, Miguel Cabrita partilha que atualmente, "muitas famílias estão a alterar o tipo de taxa de variável para mista ou fixa, de forma a limitar o impacto da forte subida. Nos últimos meses, no idealista/créditohabitação registou-se um crescimento acentuado da procura de transferência do crédito habitação, sendo que esta tendência se manterá seguramente durante a primeira metade do ano".

A subida dos juros pelo BCE tem ainda outros efeitos escondidos no que diz respeito à concessão de novos créditos habitação. Como as taxas de juro entram para o cálculo da taxa de esforço das famílias, acaba por reduzir o valor que os bancos estão autorizados a emprestar. E, para assegurar o pagamento das hipotecas num momento de incerteza e evitar o aumento de situações de incumprimento, os bancos da Zona Euro relataram um “forte aperto dos critérios de crédito para empréstimos a famílias para aquisição de habitação” no terceiro trimestre de 2022, referiu o BCE, dando nota que esta é uma tendência que irá continuar nos próximos meses.

"Temos assistido a um encarecimento dos créditos habitação, tanto para os empréstimos a decorrer, como para novas contratações, quer pela subida da Euribor, quer pela oferta de taxas mistas/fixas pelos bancos, as quais se encontram acima dos 3% ou 4% em alguns casos. Neste momento, conseguir ofertas personalizadas entre diferentes bancos e comparar as condições de cada um é mais importante do que nunca", sublinha Miguel Cabrita.

BCE teme subida de crédito malparado com aumento dos juros

Com o aumento dos juros e como há uma percentagem considerável de créditos habitação de taxa variável no espaço europeu, o BCE admite estar preocupado com o possível aumento dos créditos de cobrança duvidosa, admitindo esta semana que é necessário observar "sinais de alerta precoce” sobre esta matéria.

A verdade é que o crédito malparado caiu em junho para um mínimo de 1,8% do total de empréstimos na Zona Euro. Além disso, os "dados preliminares de supervisão sugerem que esta tendência descendente continuou também no terceiro trimestre", apontou ainda o regulador.

Na origem das suas preocupações estão as taxas de juro mais elevadas e uma possível recessão económica que poderá dificultar a capacidade das famílias e das empresas mais endividadas de pagarem as prestações aos bancos. "Porque a materialização das perdas de crédito tende a atrasar-se em relação às perdas por risco de mercado numa recessão económica, é importante olhar mais além da tendência geral para a baixa dos créditos não rentáveis por possíveis sinais de alerta precoce", diz o BCE.

As preocupações do BCE focam-se também no mercado imobiliário, que continua a ver os preços das casas a subir em 2022 e os custos da construção a aumentar. "Esta situação, combinada com o aumento do custo de vida, a diminuição dos salários reais e o aumento das taxas de juro, suscita preocupações, especialmente para os bancos que operam em países com uma elevada percentagem de hipotecas de taxa variável", recorda o regulador europeu citado pela Lusa.

Um empréstimo é considerado duvidoso quando há sinais de que o mutuário não será capaz de o reembolsar, ou quando passaram mais de 90 dias sem que tenha pago as prestações acordadas. Isto pode ocorrer quando alguém perde o seu emprego e não pode pagar a hipoteca como acordado ou quando uma empresa está a passar por dificuldades financeiras.

Subida dos juros no crédito habitação
GTRES

Qual o risco de incumprimento do crédito habitação em Portugal?

Já no relatório de estabilidade financeira publicado em meados de novembro o regulador liderado por Christine Lagarde havia alertado para esta questão. Segundo o BCE, o aumento do nível de incumprimento deverá atingir as economias mais vulneráveis do espaço europeu, como é o caso de Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Chipre.

A verdade é que no nosso país o incumprimento dos créditos habitação está nos níveis mais baixos dos últimos 24 anos. Em outubro, o rácio de empréstimos habitação vencidos fixou-se em 0,3% (igual valor de setembro). Mas poderá agravar-se? O próprio governador do BdP rejeita um aumento significativo do incumprimento no crédito habitação por via da subida das taxas de juro, já que o mercado de trabalho está estável e houve uma melhora do perfil de risco dos titulares de crédito habitação nos últimos anos.

Além disso, o Governo preparou medidas para apoiar as famílias que estão a pagar créditos habitação de taxa variável mais caros devido à subida dos juros, evitando, assim, situações de incumprimento:

  • Redução de um escalão no IRS: uma medida inserida no Orçamento do Estado para 2023, que tem como objetivo aumentar a liquidez das famílias que tenham créditos de habitação em ativos;
  • Novas regras para a renegociação de crédito habitação: trata-se de um diploma à margem do OE2023 que vem definir um conjunto de medidas de acompanhamento e mitigação do aumento da taxa de esforço no crédito habitação. Explicamos como funciona aqui.

De notar ainda que, além destes novos apoios, o BdP prevê a aplicação do Plano de Ação para o Risco de Incumprimento (PARI) sempre que uma família se sinta em dificuldade de cumprir as suas obrigações com os bancos. Neste plano, o banco deverá apresentar soluções de reestruturação dos créditos habitação, de forma a que a família consiga pagar as prestações e não entre em incumprimento.

*Notícia atualizada às 14h53, no dia 15 de dezembro, com novas declarações de Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta

Publicidade