Há cada vez mais argumentos a favor de um corte das taxas de juro diretoras pelo Banco Central Europeu (BCE). A inflação na zona euro está a desacelerar a bom ritmo e a economia europeia está a dar sinais de melhoria, apesar de permanecer fraca. Estes são fatores que vão influenciar aquela que será a primeira flexibilização da política monetária europeia em dois anos, que está apenas prevista para junho, podendo mesmo avançar antes do primeiro alívio dos juros nos EUA. Tudo aponta que na próxima reunião que terá lugar na próxima quinta-feira, dia 11 de abril, o BCE deverá manter os juros inalterados e dar perspetivas claras sobre a redução das taxas nos próximos meses, o que poderá causar flutuações em baixa da Euribor.
“Os argumentos a favor de taxas de juro mais baixas no bloco europeu estão a acumular-se”, acredita David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal, explicando a evolução positiva dos principais indicadores económicos ao idealista/news:
- Economia europeia está frágil, mas dá sinais de recuperação: “Embora se tenha evitado uma recessão técnica no final do ano passado, os dados mais recentes sobre a atividade económica apenas dão motivos para um otimismo cauteloso, uma vez que continuam a apontar para uma economia estagnada”, refere David Brito, referindo que os índices PMI de atividade empresarial melhoraram recentemente;
- Inflação na zona euro está a desacelerar: a taxa de inflação no conjunto de países da moeda única desacelerou para 2,4% em março, o seu nível mais baixo em quase três anos. E a inflação subjacente caiu para 2,9%, a taxa mais baixa em dois anos. “O processo de desinflação da zona euro está no bom caminho e tanto a inflação global como a inflação subjacente estão a aproximar-se do objetivo de 2% do BCE”, aponta o especialista.
A par de tudo isto, o BCE tem dado sinais de que o processo de flexibilização da política monetária poderá estar bem próximo. Aliás, os membros do Conselho do BCE também reconheceram, na reunião de março, que "os argumentos para considerar cortes nas taxas estavam a fortalecer-se". Embora considere que o processo de desinflação em curso na zona euro dá maior confiança para aliviar a política monetária, Christine Lagarde, presidente do BCE, logo afirmou que o abrandamento da inflação, por si só, “não é suficiente” para avançar com cortes dos juros.
Uma vez mais, os membros do regulador europeu sublinharam a necessidade de as políticas do BCE continuarem a ser orientadas por dados. Foi nesse sentido que Christine Lagarde frisou na ocasião que haverá mais informação em abril e “muito mais em junho”, altura em que será conhecida a evolução dos salários e o seu potencial impacto na subida generalizada dos preços por via do aumento do consumo. Se se observar uma moderação dos salários, este será mais um dado a favor do corte dos juros. Mas se nos próximos meses se registar uma recuperação da inflação ou dos salários na zona euro, isso atrasará o calendário previsto para as reduções das taxas do BCE e poderá também levar a novas subidas da Euribor.
Foi tendo por base as recentes declarações moderadas do BCE que os mercados financeiros reduziram as suas expetativas de cortes nas taxas. Agora, “parece improvável que o BCE reduza as taxas na sua reunião de abril, na próxima quinta-feira, e vemos como quase certa uma redução das taxas do BCE em junho”, diz o diretor-geral da Ebury Portugal. Mas admite que a reunião de a reunião de abril do BCE também poderá causar algumas flutuações na Euribor: “Esperamos que o banco central mantenha as taxas inalteradas, embora indicando de forma mais clara que o mais provável é uma redução das taxas em junho. Se assim for, poderemos assistir a uma ligeira descida da Euribor”, que no curto prazo poderá ficar entre 3,6% e 3,7%.
É neste contexto que as famílias que estão a pagar créditos habitação na zona euro deverão ter de esperar até junho para que a Euribor comece a baixar de forma mais expressiva, já que é nessa altura em que se espera que o BCE inicie o corte dos juros. ”A longo prazo, cumprindo-se as expectativas atuais do mercado, que nos parecem realistas, o indicador pode começar a cair significativamente a partir de junho e prevemos que se situe em torno dos 3% - 3,5% no fim de 2024”, prevê David Brito.
Já Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, diz que "é difícil saber com precisão quando é que o BCE irá baixar as taxas de juro. Mas o que parece claro é que a perspectiva para o final do ano é que a queda acentuada que se previa no início de 2024 não ocorrerá, e que se houver reduções da taxa serão pequenas; não é de prever que o BCE tome decisões até ter a certeza de que a inflação está sob controlo e de que não há risco de voltar a subir".
Cortes de juros nos EUA pode ou não influenciar decisões do BCE?
O BCE tem dado sinais de que vai avançar com o primeiro corte dos juros em junho, o qual poderá ocorrer antes de a Reserva Federal norte-americana (Fed) aliviar a sua política monetária. Isto porque Jerome Powell, presidente da Fed, confirmou apenas que haverá cortes nas taxas de juro nos próximos meses, sem adiantar uma data concreta. "Se a economia evoluir como esperamos, a maioria dos participantes do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) acredita que provavelmente será apropriado começar a reduzir a taxa de juros ainda este ano", disse Powell esta semana.
Os responsáveis pelo BCE têm, assim, sublinhado que irão traçar o seu próprio caminho de flexibilização da política monetária, resistindo ao alinhamento das suas decisões com as da Fed. Mas não se comprometeram em descer os juros de forma contínua a partir de junho, porque será necessário confirmar que os dados económicos apoiam as perspetivas de inflação.
“O BCE pode absolutamente agir antes da Fed”, disse Piet Christiansen , chief strategist no Danske Bank. Mas “imaginar que as políticas vão divergir durante mais tempo – digamos, nove meses ou mais – é mais difícil, porque, em última análise, tudo o que impulsiona as decisões na Fed irá repercutir-se na Europa e afetar também a zona euro”, argumenta, citado pela Bloomberg.
Isto quer dizer que, embora o BCE queira tomar decisões independente da Fed, a verdade é que a sua trajetória de política monetária pode ser moldada pelo que acontece nos EUA. As tendências que impulsionam a maior economia do mundo normalmente não demoram muito a chegar a outras regiões, impactando as condições de financiamento e as taxas de câmbio quase de forma imediata. Por isso, os decisores políticos do BCE não podem realmente escapar à atração gravitacional da Fed quando avaliam o destino das suas próprias economias, conclui a mesma publicação.
Depois de Jerome Powell ter reforçado na última quarta-feira, dia 3 de abril, que não tem pressa para começar a reduzir os juros de referência nos EUA, os investidores apostam, com incerteza, que a Fed vai cortar os juros duas ou três vezes. Por outro lado, acreditam que o BCE provavelmente realizará quatro cortes este ano. “Os mercados já estão a assumir quase por completo um primeiro corte nas taxas de juro do BCE em junho e preveem um total de 3 a 4 descidas de 25 pontos base este ano, o que deixaria o preço do dinheiro em 3,75% - 3,5% no final de 2024”, prevê David Brito.
*Notícia atualizada dia 8 de abril com declarações do responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal
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