
Os créditos habitação a taxa mista passaram a dominar o mercado hipotecário português em 2023, numa altura em que as taxas Euribor estavam a subir mês após mês, gerando instabilidade nas prestações da casa. E apesar de a Euribor estar a descer para todos os prazos há vários meses, a verdade é que a maioria das famílias que estão a comprar casa própria com recurso a financiamento bancário continuam a optar pela taxa mista. Mas tudo pode mudar, se a Euribor continuar a descer e se situar em cerca de 3% no final deste ano.
Num contexto de agravamento dos juros e incerteza económica, as famílias resolveram optar por soluções de crédito habitação mais estáveis. O refúgio foi encontrado nas taxas mistas, que oferecem um período inicial de juros fixos (em que as famílias pagam sempre o mesmo valor de prestação da casa), seguido de um período de taxa variável. E também assim foi porque os próprios bancos foram lançando campanhas de créditos da casa a taxa mista, por curtos períodos e com spreads mais baixos, para atrair clientes.
"Atualmente, estamos num momento de tendência de descida das taxas de juro, o que proporciona a que as taxas mistas antecipem essa expectativa de descida e se posicionem como uma oferta mais barata do que uma taxa variável, pelo menos no curto prazo", explica Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.
Foi assim que a taxa mista passou a dominar por completo os novos empréstimos para habitação própria permanente desde meados do ano passado, passando a representar mais de metade destes contratos. Segundo revelam os dados do Banco de Portugal (BdP), em julho de 2024, 74% dos novos créditos deste tipo foram contratados a taxa mista (enquanto um ano antes havia apenas 39% dos contratos com este tipo de taxa).
Acompanha toda a informação imobiliária e os relatórios de dados mais atuais nas nossas newsletters diária e semanal.
Euribor continua a cair mês após mês
Os dados do BdP indicam, assim, que a preferência das famílias continua a recair sobre as taxas mistas, apesar da Euribor já está a descer há vários meses para todos os prazos. A média mensal de agosto da Euribor a 12 meses situou-se em 3,166%, enquanto a Euribor a 6 meses se fixou em 3,425%, estando a antecipar um novo corte nos juros diretores do Banco Central Europeu (BCE) que é esperado na próxima quinta-feira. Assim, as prestações da casa nos novos créditos da casa estão a ficar mais baratas.
Ao que tudo indica, a Euribor deverá continuar a seguir a trajetória de descida nos próximos meses. E os analistas antecipam que a Euribor chegue mesmo aos 3% até ao final do ano (quem sabe até abaixo desse patamar). Aliás, há ainda a expectativa de que a Euribor possa cair mesmo para valores inferiores a 2,5% no final do primeiro semestre de 2025, segundo escreve o Público.
A queda esperada da Euribor – que influencia os créditos habitação a taxa variável – deverá, assim, dificultar a opção por taxas mistas, até porque os bancos vão passar a ter terem pouca margem para tornar este tipo de empréstimos mais atrativos (hoje os spreads já estão abaixo dos 0,8% perante a elevada concorrência).
Esse movimento pode já estar a ser sentido: depois da taxa mista ter registado um máximo histórico em maio de 2024 representando 76% dos novos empréstimos para habitação própria permanente, em junho e em julho verificou-se um recuo – ainda que ligeiro – passando a pesar 74% destes contratos em ambos os meses (-2 pontos percentuais). Este foi mesmo o primeiro recuo da taxa mista desde janeiro deste ano, perdendo pontos para a taxa variável (e em menor dimensão para a taxa fixa).
"Enquanto exista uma perspetiva de descida de taxas, as ofertas de taxa mista continuarão a ter peso nas ofertas dos bancos, uma vez que os clientes podem beneficiar no imediato da tendência de descida dos indexantes", indica Miguel Cabrita. Mas antecipa que "quando esta tendência perder força, as ofertas de taxa variável vão aproximar-se das taxas mistas e os clientes que optem por esta modalidade será por procurarem estabilidade nos primeiros anos do seu crédito e não por antecipar uma descida do indexante".
*Notícia atualizada dia 6 de setembro, às 11h40, com declarações de Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.
Para poder comentar deves entrar na tua conta