"Uma casa não se faz só para quem lá vive. É uma peça dentro de um contexto, que influencia o tecido social, histórico e até emocional do lugar." As palavras do arquiteto António Costa Lima são ditas de forma pausada e tranquila, em conversa com o idealista/news. É uma espécie de resumo do seu percurso, profundamente marcado por uma enorme consciência da responsabilidade social da arquitetura.
A arquitetura surgiu como um caminho natural, nas memórias de um avô e uma casa na Serra da Estrela. É fundador do atelier com o seu nome e que, desde 2012, dá continuidade ao percurso iniciado no coletivo L Arquitectos (1993-2012). A arquitetura surgiu como um caminho natural, nas memórias de um avô e uma casa na Serra da Estrela.
António Costa Lima descreve o trabalho no atelier como "um desafio saboroso, vivido com entrega total por uma equipa que procura, em cada projeto, uma resposta sensível e responsável – social e culturalmente". Apesar de ser na habitação que mais se destaca – tanto unifamiliar, como multifamiliar – o arquiteto não se deixa limitar. Igrejas, escolas, capelas ou colégios fazem já parte do seu portefólio, e o entusiasmo por novos territórios e projetos, especialmente na área cultural ou de equipamentos sociais, mantém-se intacto. "Gosto de pensar que é a qualidade do trabalho que traz mais trabalho", diz.

Para começar pelo princípio: a arquitetura foi sempre um caminho óbvio para si ou surgiu de forma inesperada?
Foi surgindo, como acho que acontece com muitos. No meu caso, tem muito a ver com raízes familiares. Tive um avô que recuperou uma casa na Serra da Estrela, uma casa que eu admirava muito. Isso marcou-me. Também os seus desenhos, o gosto pelo traço, pela estética... talvez tudo isso tenha plantado a semente.
E hoje, que tipo de projetos marcam mais o seu percurso?
Tenho a visão de que o arquiteto deve estar preparado para qualquer desafio, independentemente do programa. Mas, naturalmente, a vida vai-nos encaminhando. No meu caso tem sido, sobretudo, habitação – tanto unifamiliar como multifamiliar. Ainda assim, tenho tido oportunidades noutras áreas, o que é sempre enriquecedor.

Como é trabalhar com um cliente com orçamento ilimitado? O luxo é um aliado ou um obstáculo?
O luxo, na arquitetura, é muitas vezes um obstáculo. Pode parecer um privilégio, mas frequentemente apresenta problemas acrescidos, sobretudo em projetos de habitação unifamiliar, onde esse luxo se manifesta com mais intensidade. Falo pela minha experiência: quando o orçamento é ilimitado, surgem situações que ultrapassam o que a arquitetura deve verdadeiramente ser.
A arquitetura não deve ser o reflexo de caprichos ou gostos superficiais, mas sim um exercício mais profundo e significativo. O luxo pode desafiar esse equilíbrio, obrigando-nos a ter conversas difíceis, com paciência e resiliência, para explicar e defender as nossas ideias junto do cliente. Como dizia o arquiteto Siza Vieira, “um projeto de arquitetura é uma conversa que não termina” – e essa conversa deve existir sempre.
A arquitetura não deve ser o reflexo de caprichos ou gostos superficiais, mas sim um exercício mais profundo e significativo.
Se tivermos bons argumentos e soubermos defendê-los com inteligência, a ausência de restrições orçamentais pode, por vezes, ser vantajosa.
Mas também se pode argumentar o oposto: que as limitações financeiras tornam o desafio mais interessante, pois exigem um maior amadurecimento da ideia e uma economia criativa que valoriza o essencial do projeto.

A valorização da arquitetura tem evoluído?
Não há arquiteto que não diga que a remuneração está longe de ser justa. Valoriza-se mais, mas ainda não se paga de forma justa. Devia haver uma justiça maior e devia haver uma sensibilização da sociedade no seu todo para que se entenda o valor e a importância que tem o exercício da arquitetura – não apenas para quem usufrui diretamente, mas para a comunidade, para a cidade, para o futuro.
E há projetos que ainda gostaria muito de fazer?
Imensos! Já tive a sorte de trabalhar em habitação, claro, mas também em projetos como capelas, colégios, escolas... Gostava de fazer mais na área da cultura, ou de equipamentos sociais. São campos onde ainda sinto que posso dar muito.

Por fim, qual é a grande diferença entre projetar uma casa para uma família e, por exemplo, uma escola?
Posso responder das duas formas. A diferença é enorme, porque quando fazemos uma casa, temos de entender aquela família, os seus sonhos, o seu passado. Mas também é pequena, porque no fundo estamos sempre a pensar no impacto – seja numa escola ou numa casa. Uma casa não se faz só para quem lá vive. É uma peça dentro de um contexto, urbano ou não, que influencia o tecido social, histórico e até emocional do lugar.
Acompanha toda a informação imobiliária e os relatórios de dados mais atuais nas nossas newsletters diária e semanal. Também podes acompanhar o mercado imobiliário de luxo com a nossa newsletter mensal de luxo.
Para poder comentar deves entrar na tua conta