Trabalhadores remotos trocam a casa por resorts enquanto esperam pela vacina
Em vez de ficarem fechados em casa, procuram as comodidades de hotéis ou casas com mais espaço, piscina ou mar.

Em plena pandemia e com o setor do turismo em verdadeira crise, há pontos do globo que estão a escapar à crise, graças aos chamados nómadas digitais. São trabalhadores remotos de vários países que, devido às restrições dos confinamentos, decidiram fazer as malas e mudar-se temporariamente para viver e trabalhar em resorts e hotéis. Os descontos para estadias prolongadas, a reabertura de certas fronteiras internacionais e uma maior consciência sobre os cuidados a adotar nas viagens incentivaram o êxodo na segunda vaga da Covid-19. E agora os clientes não têm intenção de voltar até que haja a promessa de uma data para receberem a vacina.
No Reino Unido e na Europa, os ricos voaram para destinos com climas mais quentes como Dubai, Maldivas e Espanha com o objetivo de escapar do confinamento de inverno, tal como conta a Bloomberg, citando Justin Huxter, fundador da Cartology Travel, com sede no Reino Unido. Os americanos têm mais opções de 'bunkers' tropicais: o Hawai diminuiu as restrições de viagens, e as fronteiras estão abertas no México, Costa Rica, Belize e muitas partes do Caribe.
"Pessoas cansadas dos confinamentos perceberam que podem continuar a vida em lugares com muito menos stress e muito mais espaço para respirar", disse por outro lado à agência de notícias Jack Ezon, fundador da Embark Beyond, dando nota de que clientes da costa leste dos EUA têm migrado para hotéis e resorts de luxo na Flórida, Carolina do Sul e nas Ilhas Turcas e Caicos, enquanto os clientes da costa oeste fogem para o Arizona e Puerto Vallarta e Cabo no México – tudo lugares com bom clima e wifi. O custo médio, segundo detalha, é de 70 mil dólares por mês, e a maioria dos clientes faz reservas para dois a quatro meses.
"Em outubro, as pessoas começaram a perceber que enfrentariam outro inverno em São Francisco, sem restaurantes, sem entretenimento, sem escritórios - realmente sem nenhum lugar para ir", relata Leigh Rowan, fundador da Savanti Travel, na Baía de São Francisco, também citado pela Bloomberg e cujos clientes têm comprado passagens só de ida e trabalhado remotamente em casas à beira-mar ou hotéis repletos de amenidades.
Melanie Woods, uma designer gráfica de 39 anos, deixou São Francisco bem antes da notícia do confinamento de inverno. Desde 1 de outubro de 2020 - dia em que o Belize reabriu as fronteiras -, Melanie trabalha remotamente no resort de luxo rústico Turtle Inn, do diretor Francis Ford Coppola, onde a sua mesa fica perto de uma janela com brisa do mar.
"Nado para me exercitar entre as chamadas telefónicas. Aos fins de semana, sinto que estou de férias", refere a nómada digital, entrevistada pela Bloomberg, frisando que "provavelmente não voltarei até o verão, ou quando puder tomar uma vacina".
O Belize exige que viajantes tenham um teste negativo à Covid-19 na chegada, o que tranquilizou Woods. O hotel de 27 quartos, localizado à beira-mar em Placencia, também é quase totalmente ao ar livre, o que facilita comer e socializar em ambientes externos distantes. Os quartos custam a partir de 329 dólares por noite, mas estadias prolongadas trazem descontos de 20% na estadia e na alimentação. Woods está a alugar o seu apartamento para compensar as despesas.
De vazio a ter lotação esgotada: a história de um hotel na Gran Canaria
Também na vizinha Espanha este fenómeno é já uma realidade. Existe mesmo um hotel na Gran Canaria que conseguiu o impossível: estar lotado em plena pandemia. O hotel Playa del Sol, localizado na Avenida Tirajana, na Playa del Inglés alcançou este marco graças ao número de funcionários de diferentes empresas que decidiram trabalhar remotamente, segundo revelou o La Vanguardia. Os hóspedes chegam de várias partes da Europa, como França ou Finlândia.
O hotel em questão oferece a essas pessoas a opção de poder trabalhar remotamente numa piscina, com todas as comodidades e a 25 graus no inverno. Uma fórmula que mistura lazer e trabalho num espaço que passou de fechado a não ter camas livres nos seus 140 quartos em poucos meses. “Em Tarragona já trabalhava online há muitos anos, mas para estar confinado vim para a ilha e tenho sol, uma boa piscina e uma praia aos fins-de-semana”, disse um dos clientes ao jornal espanhol.
No caso deste hóspede, a sua jornada de trabalho consiste numa infinidade de reuniões e consultas remotas que pode resolver a partir do seu portátil e com uma boa ligação à Internet, sem ter de estar num local específico. Está no complexo há mais de um mês, não tenciona mudar de local nos próximos 30 dias e não descarta o prolongamento da sua estadia se a situação na Catalunha não mudar. Refira-se que, para além do conforto proporcionado pelo hotel, adaptado às necessidades destes nómadas, foi criada "uma comunidade, um grupo" em que atuam como vizinhos e realizam atividades.