O clima é de mudança para quem tem crédito habitação. A taxa de juro diretora vai mesmo subir em julho, segundo confirmou o Banco Central Europeu (BCE), uma medida que irá impulsionar ainda mais a subida das taxas Euribor. Quem vai pagar a fatura deste aumento são os portugueses que têm créditos habitação de taxa variável. Ao verem a prestação da casa subir com o salto dos juros há “uma maior probabilidade de incumprimento das hipotecas”, alerta a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE).
O regulador europeu já anunciou o seu plano para tentar travar a inflação na Zona Euro e normalizar a política monetária: primeiro vai acabar com o programa de compra de ativos a 1 de julho. E nesse mesmo mês vai também aumentar as taxas de juro de referência em 25 pontos base.
Acontece que as famílias que têm contratos de crédito habitação de taxa variável são as que vão ficar mais expostas, de forma direta, a este aumento da taxa de juro diretora, já que qualquer mexida nesta taxa vai influenciar diretamente as flutuações das taxas Euribor, às quais estão indexados estes empréstimos. Note-se que, na verdade, só o facto de o BCE colocar em cima da mesa uma subida dos juros no início do ano, já mexeu com os mercados e fez subir as taxas Euribor nos últimos meses, o que acaba também por se refletir na prestação da casa, quando for o momento da revisão.
- A Euribor a 12 meses já está positiva desde abril e a aproximar-se de 1%;
- A Euribor a 6 meses ultrapassou a barreira dos 0% na semana passada.
Cerca de 70% da empréstimos em Portugal estão em risco de incumprimento
“Os contratos de crédito habitação de taxa variável, que têm demonstrado estar associados a uma maior probabilidade de incumprimento das hipotecas quando as taxas de juro sobem, são predominantes em vários países do Sul (Portugal e Grécia), Oriental (Polónia, Bulgária, Roménia e Países Bálticos) e Norte da Europa (Suécia, Finlândia e Noruega)”, refere a OCDE no Economic Outlook publicado a semana passada.
Em concreto, cerca de 70% dos empréstimos contratados pelas famílias em Portugal são indexados a taxas de juro variáveis. Este dado citado pela OCDE diz respeito aos contratos celebrados nos últimos anos, quando as taxas de juro variáveis estavam ainda associadas a taxas Euribor negativas e, por isso, eram mais apetecíveis para as famílias, uma vez que as prestações da casa eram bem mais baixas em comparação com contratação de uma taxa fixa.
OCDE aconselha proteção das famílias com crédito habitação
A prestação da casa vai subir para estas famílias num contexto em que o seu orçamento está esmagado pela inflação que se faz sentir no país, sobretudo visível no custo dos alimentos, dos combustíveis e produtos energéticos - a inflação em Portugal atingiu os 8% em maio, de acordo com os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística.
E tudo indica que esta vai ser apenas a primeira subida da taxa de juro diretora pelo BCE, o que quer dizer que irá haver mais ao longo de 2022 e pelo menos no próximo ano. “Se a normalização da política monetária prosseguir de forma gradual, os mutuários deverão ser protegidos de um aumento acentuado dos custos de financiamento no médio prazo”, recomenda a OCDE no mesmo documento.
E a organização diz ainda que “os mutuários financeiramente frágeis em países com políticas monetárias independentes e pressões inflacionárias crescentes podem, no entanto, experimentar um aumento substancial nos custos do serviço da dívida, particularmente em países onde a proporção dos custos das hipotecas em relação à renda disponível já é alta”.
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