Voltou a terreno positivo, pela primeira vez desde novembro de 2015. É a taxa mais utilizada em Portugal no crédito habitação.
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Euribor a seis meses positiva
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Após vários anos em terreno negativo, as Euribor começaram a subir, sobretudo depois do Banco Central Europeu (BCE) ter confirmado o aumento das taxas de juro diretoras já este este ano devido ao aumento da inflação na zona euro. E esta segunda-feira, 6 de junho de 2022, ficou marcada por mais um ponto de viragem neste ciclo: a taxa Euribor a 6 meses, a mais utilizada em Portugal nos créditos habitação, voltou a terreno positivo, pela primeira vez desde novembro de 2015, fixando-se em 0,009%, mais 0,017 pontos percentuais do que na sexta-feira. Na prática, e quem tiver contratos a taxa variável, irá começar a sentir os efeitos destes aumentos na prestação da casa a pagar ao banco.

Ainda assim, segundo Miguel Cabrita, responsável do idealista/creditohabitação em Portugal, "os valores positivos da Euribor a 6 meses só se refletirão nos créditos contratados ou com revisão do indexante em julho".

A verdade é que as subidas em todos os prazos no crédito habitação parecem ter vindo para ficar e isso terá impacto nos orçamentos das famílias. As taxas Euribor a três e a 12 meses também subiram esta segunda-feira para novos máximos desde junho de 2020 e julho de 2014, respetivamente.

  • A taxa Euribor a 12 meses, a avançou esta para 0,521%, mais 0,035 pontos. Após ter disparado em 12 de abril para 0,005%, pela primeira vez positiva desde 5 de fevereiro de 2016, a Euribor a 12 meses está em terreno positivo desde 21 de abril.
  • No mesmo sentido, a Euribor a três meses subiu esta segunda-feira, ao ser fixada em -0,314%, mais 0,014 pontos do que na sessão anterior.

Recorde-se que a evolução das taxas de juro Euribor está intimamente ligada às subidas ou descidas das taxas de juro diretoras do BCE. De facto, podem vir a sofrer um maior agravamento, uma vez que esta instituição já admitiu que vai subir a taxa de juro diretora em julho, pela primeira vez em 11 anos, o que vai mexer ainda mais com os mercados monetários. Resta saber quanto é que vai ser essa subida: de 25 pontos base ou de 50. A decisão deverá ser tomada na próxima reunião do BCE em julho.

Como é que a subida das Euribor vai afetar a prestação da casa?

Neste momento fazem-se muitas contas e traçam-se vários cenários sobre o que poderá vir a acontecer nos próximos meses. Miguel Cabrita considera que, "além da Euribor a 12 meses se encontrar em valores positivos, agora também a Euribor a 6 meses ultrapassa essa barreira, e certamente assistiremos ao mesmo comportamento de subida da Euribor dos restantes prazos".

O relatório de Investimentos e Mercados de junho do BPI, vai ao encontro desta visão e deixa claro que “as expectativas de subida das taxas oficiais já contagiaram o mercado interbancário”, sendo previsível que a tendência de subidas se mantenha nos próximos meses.

“Os mercados financeiros estão a antecipar que a Euribor a 12 meses atinja os 1,18% no final de 2022 e 1,90% no final de 2023, o que compara com os –0,50% no final de 2021”, lê-se no documento, que alerta para os efeitos deste cenários nos orçamentos das famílias portuguesas.

Euribor a subir
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O gabinete de estudos do banco fez uma estimativa do impacto das taxas esperado para um empréstimo de 120 mil euros, a 33 anos, e de acordo com as taxas implícitas do mercado para a Euribor a 12 meses. Se as projeções se confirmarem, uma família com um crédito à habitação com estas características vai:
  • pagar mais 100 euros no final deste ano face ao final de 2021;
  • sendo que previsível que no final de 2023 esteja pagar mais 140 euros face a dezembro de 2021.

“Isto contrasta significativamente com o que seria de esperar com as expectativas do mercado no início de 2022: o aumento no final de 2022 neste caso deveria rondar os 20 euros mensais, e, no final de 2023, seria de cerca de 35 euros”, indica o relatório.

Os economistas do BPI antecipam que, “com a reviravolta nas expectativas de subida das taxas de juro por parte do BCE, a recente alteração da medida macroprudencial relativa à maturidade máxima e à sua dependência da idade do mutuário, a expectativa de que os preços das casas continuem a subir e crescimento significativo dos preços dos bens alimentares e combustíveis, é possível que a procura de habitação arrefeça ligeiramente nos próximos tempos e que os orçamentos das famílias fiquem mais pressionados”.

Subida das taxas pressiona famílias

O relatório recorda que os desenvolvimentos no mercado de crédito são importantes para o dia a dia das famílias portuguesas, tendo em conta que 68% do endividamento das famílias diz respeito a crédito habitação, e que este representa cerca de 66% do rendimento disponível bruto.

prestação da casa
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Além disso, “desde meados de 2020 que o endividamento das famílias para compra de casa tem vindo a aumentar, contrariamente ao que vinha a ser registado nos anos anteriores, terminando em 2021 acima dos níveis pré-pandemia em quase 5%, mas, ainda assim, claramente abaixo do máximo observado no final de 2010 (–20%, ou seja, –25.000 milhões de euros)”, nota a instituição.

No caso português, frisa, a evolução das taxas de juro “é particularmente importante”, uma vez que a “larga maioria dos contratos continuam a ser feitos com taxa de juro variável (ao contrário do resto da Europa)”. Em 2020, indica o relatório, mais de 93% dos contratos vigentes era a taxa variável, o que representava quase 92% do montante do saldo em dívida; nesse ano, mais de 82% do número de novos contratos e do montante das novas operações foram a taxa variável e os principais indexantes eram a Euribor a 6 e 12 meses.

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