Novos créditos habitação de taxa variável vão pagar prestações da casa 200 euros mais altas do que em março, segundo simulações.
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Prestação da casa mais cara
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As taxas Euribor continuam a refletir as decisões do Banco Central Europeu (BCE) sobre política monetária. Isto porque a Euribor continua a subir a alta velocidade à medida que o supervisor europeu decide aumentar as taxas de juro diretoras. E as taxas de referência têm subido de tal forma que a Euribor a 12 meses está cada vez mais perto dos 3% e a Euribor a 6 meses já está acima de 2%. Este cenário reflete-se diretamente nos novos empréstimos habitação de taxa variável, que vão contemplar prestações da casa bem mais caras do que no passado. Mas quanto? Tendo por base simulações do idealista/créditohabitação, explicamos como é que as recentes subidas das taxas Euribor vão impactar a prestação da casa e a carteira das famílias.

Hoje, os agregados familiares já apertam o cinto devido à subida generalizada dos preços. E, agora, quem quiser avançar com a compra de casa com recurso a financiamento bancário tem de se preparar para pagar mais. Isto porque as taxas de juros dos créditos habitação – quer fixas, quer variáveis - estão a subir à medida que o BCE decide aumentar os juros diretores para travar a inflação na Zona Euro. Desde julho até agora, o regulador europeu liderado por Christine Lagarde já subiu as taxas de juro diretoras em 200 pontos base. E a sua política monetária mais agressiva parece já estar a dar frutos: a inflação no espaço europeu desceu pela primeira vez nos últimos meses de 10,7% em outubro para 10,0% em novembro, segundo estima o Eurostat, abrindo a porta a uma revisão mais suave agora no dia 15 de dezembro.

Mas ao ter elevado já a taxa de refinanciamento aos 2%, o BCE está também a agravar – e muito – as prestações da casa das famílias. Em Portugal, mais de 90% dos mutuários tem empréstimos habitação de taxa variável, sentindo diretamente nos seus bolsos as decisões de política monetária por via da subida a todo o vapor das taxas Euribor. Assim que forem atualizadas (a 3,6 ou 12 meses consoante o prazo contratado), as prestações da casa vão subir em flecha agravando a sua taxa de esforço.

Em reação aos últimos aumentos dos juros diretores pelo BCE, as taxas Euribor médias voltaram a subir em novembro, fixando-se nos seguintes valores:

  • Euribor a 12 meses (foi durante vários meses a mais utilizada nos novos contratos de crédito habitação em Portugal, mas a tendência está a mudar): atingiu os 2,828% em novembro, uma taxa superior à registada em outubro (2,629%);
  • Euribor a 6 meses (mais utilizada em Portugal no total de créditos habitação): fixou-se em 2,321% no mês passado, contra 1,997% em outubro;
  • Euribor a 3 meses (começa a ganhar nova expressão com a subida dos juros): fixou-se em 1,825% em novembro, mais cerca de 0,4 pontos que em outubro (1,428%).

Novos créditos habitação de taxa variável: qual é a prestação da casa em dezembro?

Os novos créditos habitação de taxa variável contratados este mês (dezembro) vão pagar prestações muito superiores do que quem se antecipou e contratou nos meses anteriores. As diferenças de quem contratou um crédito em março e em dezembro superam os 200 euros mensais, tanto para a Euribor a 12 meses, como para a Euribor a 6 meses.

Para perceber qual o reflexo das subidas das Euribor no valor do empréstimo a pagar ao banco todos os meses, os especialistas do idealista/créditohabitação apresentam simulações com base nestas condições:

  • Novo empréstimo habitação de 150.000 euros;
  • Spread de 1%;
  • Prazo de 30 anos.

Tendo em conta estes exemplos e sabendo que um crédito habitação contratado num mês usa a média da Euribor apurada no mês anterior (ou seja, um crédito contratado em dezembro usa a média da Euribor de novembro), podemos concluir o seguinte:

  • Crédito habitação contratado com Euribor a 12 meses: esta taxa está cada vez mais perto dos 3%. E, contas feitas, quem contratar um empréstimo para comprar casa em dezembro vai pagar mais 17 euros no primeiro ano do que quem assinou o contrato em novembro;
  • Crédito habitação contratado com Euribor a 6 meses: esta taxa também voltou a subir e superou a barreira dos 2%. Posto isto, um crédito habitação assinado em dezembro (que usa a média da Euribor de novembro) ficará 26 euros mais caro nos primeiros seis meses do que um contrato assinado em novembro (usa a taxa média de outubro);

As diferenças nas prestações da casa são ainda mais expressivas, se olharmos para os meses anteriores. Assim sobem as despesas mensais com a casa no caso de uma família contratar um crédito habitação em dezembro face a quem decidiu avançar com o empréstimo da casa em março:

  • Crédito habitação com Euribor a 12 meses: de março a novembro a taxa Euribor com prazo a um ano deu o salto de 3,163%. E esta diferença reflete-se – e muito – nas prestações da casa que as famílias têm de pagar. Quem contratou um crédito habitação em março com a Euribor a 12 meses (média de fevereiro de -0,335%) paga de prestação 460 euros no primeiro ano (ou seja, até março de 2023). Já quem for pedir um empréstimo com as mesmas condições em dezembro (média de 2,828% em novembro) pagará mais 241 euros de prestação da casa mensal até dezembro de 2023.
  • Crédito habitação com Euribor a 6 meses: quem pediu um crédito para comprar casa em março, com uma taxa de -0,476%, pagou 450 euros de prestação até agosto (6 meses). Agora, quem pedir um empréstimo habitação nas mesmas condições vai pagar mais 208 euros no semestre seguinte, desembolsando 658 euros por mês até maio de 2023.
Juros a subir nos créditos habitação
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Como é que a subida da Euribor influencia os créditos habitação novos e existentes?

A subida da Euribor tem um efeito direto na prestação da casa de quem tem – ou pretende contratar – um crédito habitação de taxa variável, uma vez que entra para o cálculo da taxa de juro (TAN= spread + Euribor contratada). Mas os efeitos da subida de juros podem ser distintos entre os contratos de empréstimo habitação novos e existentes.

  • Crédito habitação novo: prestações mais altas e menos capacidade de endividamento

Quem decidir comprar casa neste mês de dezembro vai sentir, desde logo, uma prestação da casa mais elevada do que se tivesse contratado o empréstimo nos meses anteriores, quer para taxa fixa como variável. Isto porque as decisões do BCE também elevam a oferta de taxas fixas dos bancos.

Além disso, há ainda outro efeito indireto: como as prestações da casa vão ser mais elevadas, o seu peso face ao rendimento disponível das famílias será maior. E quanto maior for a taxa de esforço, menor será a capacidade de endividamento das famílias, ou seja, reduz o montante que os bancos estão autorizados a emprestar.

  • Crédito habitação existente: subida dos juros depende do ano do contrato

No caso das famílias que já contrataram um crédito habitação há algum tempo, as prestações da casa só irão refletir o aumento da Euribor quando forem atualizadas, a 3,6 ou a 12 meses. E a dimensão desta subida vai depender de vários fatores, como o ano do contrato, o capital em dívida e do spread.

Quem já passou vários anos a amortizar capital, o aumento da Euribor terá um menor reflexo. Isto acontece porque à medida que os anos passam, o sistema de amortização francês dá maior peso ao capital do que aos juros na prestação. Por outro lado, quem contratou um empréstimo para comprar casa recentemente deve estar atento às subidas dos juros, já que neste momento ainda está a pagar uma maior parcela de juros do que capital na prestação da casa.

De notar que as famílias que optaram pela taxa fixa não vão sentir qualquer aumento da prestação da casa. Quem optou pela taxa de juro mista e ainda estiver no período inicial de fixação da taxa, também não deverá ver a prestação da casa a alterar. Mas assim que o período de taxa fixa terminar, estes contratos, vão ficar sujeitos às flutuações da Euribor.

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