
Ao longo de 2024, as taxas Euribor caíram mais de 110 pontos base para todos os prazos, reduzindo – e muito – as prestações da casa das famílias. Mas para este ano são esperadas reduções mais lentas da Euribor, apesar de se perspetivar que o Banco Central Europeu (BCE) vá continuar a aliviar a sua política monetária, tal como o fez esta quinta-feira, dia 30 de janeiro. Assim, as famílias podem esperar novas reduções dos juros no crédito habitação, mas menos expressivas face ao ano passado.
O ano de 2024 fechou com as três taxas Euribor abaixo de 3% e reduções das prestações da casa superiores a 100 euros para novos empréstimos da casa a taxa variável, tal como revelam as simulações do idealista/créditohabitação. Este cenário não só incentivou a procura por crédito habitação na Europa e no nosso país, como também aliviou as finanças das famílias que já estavam a pagar o empréstimo da casa.
"A batalha comercial entre os bancos garante que os empréstimos poderão ser contratados nas melhores condições que temos visto em últimos anos”, Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal
Acontece que, no arranque de 2025, as taxas Euribor têm oscilado devido a sinais económicos contraditórios e também já têm descontado o novo corte dos juros do BCE (de 25 pontos base) avançado esta quinta-feira. “Há dois fatores que puxam as taxas Euribor em direções opostas. A perspetiva de cortes do BCE e a lentidão geral da economia da zona euro defendem taxas mais baixas. Mas isso é contrabalançado por sinais tímidos de melhoria económica (…) e por dados de inflação que não são suficientes para excluir riscos inflacionistas”, explicam os analistas da Ebury Portugal ao idealista/news.
É por isso que os mesmos analistas de mercado admitem que são necessários sinais mais precisos e unilaterais (nomeadamente no controlo da inflação) para que a Euribor a 12 meses “ultrapasse de forma convincente a barreira dos 2,5%”. A média mensal provisória para janeiro deste indexante está nos 2,526%, o que significa que terá subido ligeiramente face a dezembro (2,436%).
Atualmente, as previsões apontam para que a Euribor caia para cerca de 2% no final de 2025, tal como antecipou o Banco de Portugal (BdP) e o Bankinter. Se assim for, significa que a Euribor tem margem para cair entre 40 e 80 pontos base este ano (consoante o prazo), menos do que em 2024, quando somou reduções superiores a 110 pontos. O que os analistas têm bem claro é que a trajetória descendente da Euribor no curto prazo já é limitada.
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Como ficam os novos créditos habitação se a Euribor cair para 2%?
Embora as taxas Euribor possam abrandar o ritmo de descida até aos 2%, o que é certo é que quem contratar um crédito habitação a taxa variável nos próximos meses deverá pagar prestações mais baixas do que se o tivesse feito antes.
“As boas notícias para o mercado hipotecário continuam, pois continuaremos a ver como as renovações anuais dos créditos habitação a taxa variável trazem grandes poupanças aos consumidores. Além disso, a batalha comercial entre os bancos garante que os empréstimos poderão ser contratados nas melhores condições que temos visto em últimos anos”, comenta Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.
É isso que mostram as seguintes simulações preparadas pelos intermediários de crédito do idealista, tendo em conta empréstimos habitação a taxa variável de 150.000 euros (com spread de 0,7% e prazo de 30 anos):
- se a Euribor a 6 meses cair dos atuais 2,632% (média mensal de dezembro) para 2,5% significa que as prestações mensais vão descer de 660 euros para 648 euros (menos 12 euros);
- se a Euribor a 6 meses descer para 2,25%, as prestações da casa serão de 628 euros, uma redução de 32 euros face a quem contratou o crédito em janeiro de 2025 (que usa a taxa média mensal de dezembro);
- se a Euribor a 6 meses cair para 2%, as prestações da casa vão fixar-se em 608 euros durante um semestre, menos 52 euros do quem contratou o empréstimo em janeiro.
Crédito habitação mais barato em 2025 anima imobiliário
Estas recentes descidas das taxas Euribor (e as esperadas para 2025) têm sido um incentivo à contratação de novos créditos para comprar casa. Este é um cenário sentido na área euro – e Portugal não é exceção.
“A procura de empréstimos à habitação continuou a registar uma forte recuperação” na zona euro, afirma o BCE num resumo do inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito. E este crescimento sentido no final do ano passado foi sobretudo impulsionado pela descida das taxas de juro. Para os primeiros três meses de 2025, os bancos europeus esperam a procura de empréstimos continue a aumentar no caso das famílias, em especial no segmento da habitação.
Também em Portugal foi sentido um aumento da procura por créditos habitação no final de 2024, tal como revelou o mais recente Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito do Banco de Portugal (BdP). Aliás, em novembro o valor de novos contratos de crédito da casa foi de 1.667 milhões de euros, o segundo mais alto em dez anos.
“O nível geral das taxas de juro e, em menor grau, a confiança dos consumidores e o regime regulamentar e fiscal do mercado da habitação contribuíram para o aumento da procura neste segmento”, explica o regulador. A medida fiscal em destaque é a isenção do IMT que tem atraído muitos jovens a comprar casa desde agosto.
As expectativas para o início de 2025 também são animadores no nosso país, com os bancos a esperar um “aumento da procura de empréstimos no segmento da habitação”. Até porque ao IMT Jovem somam-se ainda os efeitos da garantia pública no crédito habitação para jovens que começou a ser aplicada em janeiro. E, com a descida dos juros, os bancos tendem a melhorar as condições do crédito para atrair mais clientes.
Enquanto os requisitos hipotecários na área euro permaneceram praticamente inalterados no final de 2024, em Portugal os critérios de concessão estiveram “ligeiramente menos restritivos”. E também os termos e condições ficaram mais acessíveis às famílias portuguesas, registando-se uma “ligeira diminuição da taxa de juro praticada”, bem como do “spread aplicado nos empréstimos de risco médio”. Tudo isto deveu-se, em parte, à concorrência entre os bancos.
Também há diferenças sobre o que esperar da oferta de crédito habitação no arranque de 2025: os bancos da zona euro admitem que haja uma pequena restritividade líquida, enquanto em Portugal a expectativa da banca é que os critérios de concessão de crédito habitação se mantenham inalterados.

Venda de casas retoma em Portugal - mas preços aceleram
Todo este ambiente económico em Portugal marcado por juros mais baixos, novos incentivos fiscais e um mercado de trabalho estável tem, portanto, incentivado as famílias a comprar casa com recurso a crédito habitação. E esta retoma já se reflete nos dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE): no verão de 2024 foram vendidas 40.909 habitações, o que representa um aumento homólogo de 19,4%.
Acontece que esta dinâmica no mercado habitacional português acabou por estimular a subida dos preços das casas, que voltaram a acelerar para 9,8% neste período, o crescimento mais expressivo em dois anos.
O aumento de venda de casas em Portugal acaba por ter um impacto direto na subida dos preços, porque a oferta de habitação continua escassa e a não acompanhar a evolução da procura, apesar de haver incentivos governamentais destinados à construção e reabilitação de casas - acontece que chegam a conta gotas e não têm reflexo no curto prazo.
É neste contexto que são esperadas novas subidas dos preços das casas em 2025. Ainda assim, os mediadores imobiliários ouvidos pelo idealista/news antecipam que as transações e os preços das casas deverão abrandar a subida, porque a falta de habitação deverá limitar estes negócios.
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