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António Guterres vence corrida à ONU
António Guterres com Simonetta Sommaruga, ministra suíça da Justiça. GTRES

O antigo primeiro-ministro português António Guterres foi esta quarta-feira (dia 6 de outubro) indicado como secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo Conselho de Segurança à Assembleia-geral, que deverá aprovar o seu nome dentro de alguns dias. O Conselho de Segurança anunciou que o português é o “vencedor claro” da votação, recebendo 13 votos de encorajamento (em 15), sem qualquer veto.

Este órgão, com poder de veto, deverá aprovar hoje (quinta-feira, dia 6 de outubro) uma resolução a indicar o nome de António Guterres para a Assembleia-Geral das Nações Unidas, formalizando assim a eleição do sucessor de Ban Ki-moon.

Guterres vai liderar, a partir de janeiro, uma casa que conhece bem, depois de ter chefiado o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), entre junho de 2005 e dezembro de 2015, uma organização com cerca de 10.000 funcionários em 125 países, escreve a Lusa.

De acordo com a sua biografia oficial, promoveu “uma profunda reforma estrutural” no ACNUR, reduzindo o número de funcionários 20% na sede, em Genebra, enquanto triplicou o volume de atividades do organismo, num mandato marcado por algumas das maiores crises de refugiados e deslocados das últimas décadas, nomeadamente devido aos conflitos na Síria, Iraque, Sudão do Sul, República Centro-Africana e Iémen.

Na corrida à liderança da ONU, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apelidou-o como “o melhor de todos nós” enquanto o Governo português considerou que a apresentação da sua candidatura era “um imperativo, num tempo em que, mais que nunca, é urgente mobilizar o mundo em prol da paz e da segurança, dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável”.

António Guterres chega ao cargo após uma campanha que se iniciou em fevereiro, numa corrida em que foram introduzidas algumas novidades para procurar garantir maior transparência do processo. Todos os candidatos participaram em debates e audições públicas promovidas pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, à exceção da búlgara Kristalina Georgieva, que só se juntou à corrida na semana passada e foi ouvida publicamente esta semana.

As reações

Marcelo Rebelo de Sousa salienta, num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, que “é bom quando ganham os melhores”. “Vencer na cena internacional é extremamente complexo, tal a junção de razões conjunturais e estruturais, ainda por cima num mundo mais imprevisível que nunca. Mesmo para os melhores. Mas quando os melhores ganham é bom, é muito bom. Foi o que aconteceu neste caso. António Guterres era e é, claramente, o melhor para o cargo”, disse o Presidente da República.

Também o ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, felicita António Guterres, num artigo de opinião publicado no jornal Público, considerando ser “uma grande e merecida honra para ele” e “para o país”. Durão Barroso refere que apoiou a candidatura de António Guterres desde o início, “não apenas por um sentimento patriótico, mas porque sabia” que este “desempenharia o cargo com grande competência e dedicação”.

O ex-Presidente da República Jorge Sampaio também enaltece a vitória de António Guterres, num artigo de opinião publicado no Público. “[O mandato de António Guterres] terá lugar num tempo extremamente complexo, marcado por uma imperiosa necessidade de pacificar as relações entre os povos, pôr fim a violentos conflitos que grassam em várias regiões do mundo e assegurar a construção de um mundo mais igual, marcado pela afirmação dos direitos, da justiça e pelo desenvolvimento sustentável”.

Quem é António Guterres?

António Manuel de Oliveira Guterres, 67 anos, nasceu a 30 de abril de 1949 na freguesia de Santos-o-Velho, em Lisboa, tendo a sua infância sido dividida entre a capital e a terra natal da mãe, Donas, na Beira Baixa.

Em 1965, entra para o curso de Engenharia Eletrotécnica no Instituto Superior Técnico, licenciando-se em 1971, com a classificação final de 19 valores.

Profundamente católico, envolve-se, nessa altura, nas discussões religiosas e sociais do “Grupo da Luz”, que integrava, entre outros, Helena Roseta e Marcelo Rebelo de Sousa. Nesse grupo conhece também o padre Vítor Melícias que, em 1972, celebra o seu casamento com Luísa Melo.

Nesse mesmo ano filia-se no PS, abandona a carreira universitária e inicia uma longa carreira política. Chega ao Parlamento em 1976 e é deputado ao longo de 17 anos, chegando a líder da bancada socialista.

Em 1992, disputa a liderança do PS com Jorge Sampaio, então “a braços” com uma pesada derrota nas legislativas de 1991. Contudo, só em 1995 consegue a sua grande vitória eleitoral, pondo fim a 10 anos de governação de Cavaco Silva, e chegando ao poder numa eleição em que teve como principal adversário Fernando Nogueira.

Começa aqui a sua caminhada de seis anos à frente do Governo, que irá terminar na noite de 16 de dezembro de 2001, ao demitir-se após a derrota eleitoral do PS nas eleições autárquicas, decisão que justificou com a necessidade de evitar que o país, “num momento de crise internacional”, caísse num “pântano político”. “É meu dever, perante Portugal, evitar esse pântano político”, afirmou na altura.

Foi presidente da Internacional Socialista entre 1999 e 2005, de onde saiu para o ACNUR.

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