
As previsões do Banco de Portugal (BdP) para 2023 e para os anos seguintes dão um novo ânimo à economia. Isto porque o regulador português estima que a inflação – que chegou aos 9,9% em novembro – deverá começar a cair gradualmente, fixando-se em 5,8% no próximo ano. E, apesar de estar em cima da mesa uma recessão técnica na área euro pelo Banco Central Europeu (BCE) no próximo ano, a economia portuguesa deverá esquivar-se a este cenário, estando previsto um crescimento de 1,5% em 2023.
A alta inflação e a subida dos juros diretores pelo BCE em 250 pontos base tiveram um impacto nos bolsos dos portugueses, reduzindo o poder de compra e encarecendo, sobretudo, os créditos habitação de taxa variável. Mas a economia de Portugal mostrou-se resiliente aos choques deste cenário macroeconómico. Mário Centeno, governador do BdP, acredita que a economia portuguesa estar agora “mais preparada” para lidar com este tipo de choques do que estava em anteriores crises.
Mas porquê? Porque foi criada uma “almofada”, mediante a redução do nível de endividamento e da estabilidade do mercado de trabalho, apontou Mário Centeno, citado pelo Público. O impacto da inflação e da subida das taxas de juro “é quase todo compensado pelo aumento projetado dos rendimentos das famílias”, disse ainda o governador do BdP, dando nota que “a economia em pleno emprego tem dado resposta aos desafios que temos tido pela frente”, disse citado pelo mesmo jornal.
Mas ,de qualquer forma, Mário Centeno alerta que “temos de estar vigilantes” à evolução do cenário macroeconómico. Mas como é que a inflação e a economia vão evoluir nos próximos anos? E o consumo privado? O idealista/news passou a pente fino a previsões do regulador português divulgadas no Boletim Económico de dezembro de 2022 publicado na passada sexta-feira, dia 16 de dezembro, e explica tudo.
Inflação em Portugal começa a cair em 2023
Há boas notícias no que diz respeito à evolução da inflação em 2023 e nos anos seguintes. Segundo as previsões do BdP, a inflação em Portugal deverá evoluir da seguinte forma:
- Inflação atinge 8,1% em 2022;
- Inflação cai para 5,8% em 2023;
- Inflação desce novamente para 3,3% em 2024;
- Inflação volta a cair para 2,1% em 2025 ( o nível em que é assegurada a estabilidade de preços).
E quais são os fatores que estão por detrás da redução gradual da inflação nos próximo três anos? Menores pressões de origem externa, nomeadamente, “o abrandamento da atividade mundial e a dissipação dos constrangimentos nas cadeias de fornecimento contribuem para atenuar as pressões inflacionistas externas ao longo do período de projeção, assumindo-se uma desaceleração do preço das importações e, em particular, uma redução no caso do gás e do petróleo”, explica o regulador português.
E também há pressões internas que ajudam a contrabalançar a evolução da inflação em Portugal, “num contexto da margem reduzida de recursos no mercado de trabalho e em que os trabalhadores tentam mitigar perdas dos salários reais e as empresas recuperar margens de lucro”, sublinha ainda o BdP. Além disso, os aumentos das taxas de juro pelo BCE têm-se repercutido no custo de financiamento das empresas e famílias, o que contribui para conter as pressões inflacionistas.
O que o BdP também reforça é que o ciclo da inflação não deverá ser só travado pelo BCE: “À política monetária é necessário juntar o esforço dos restantes setores institucionais — administrações públicas, empresas e famílias — para que o processo inflacionista seja invertido e limitado no tempo”. Neste contexto, um estímulo orçamental generalizado “não seria desejável” e “é importante os aumentos de salários e margens de lucro sejam consistentes com um quadro de estabilidade de preços, contribuindo para evitar pressões inflacionistas e preservar a competitividade externa”, sublinha ainda.

Crescimento económico será de 1,5% em 2023
No que diz respeito à evolução economia portuguesa, o BdP acredita que esta deverá crescer 6,8% em 2022. Estas são as estimativas para os próximos anos:
Crescimento económico de 1,5% em 2023
Nos primeiros seis meses do ano o crescimento da economia “será contido, projetando-se uma moderação das despesas das famílias, algum adiamento dos planos de investimento das empresas e um abrandamento das exportações”, explica o BdP. Importa sublinhar que “estes desenvolvimentos ocorrem num quadro de incerteza global acentuada, manutenção de preços de energia elevados, erosão do poder de compra, aperto das condições financeiras e enfraquecimento da procura externa”.
Já na segunda metade de 2023, o supervisor liderado por Mário Centeno estima que a atividade economia deverá acelerar, “refletindo a expetativa de atenuação das tensões nos mercados energéticos, a recuperação gradual do rendimento real das famílias, a melhoria da procura externa e a normalização das cadeias de abastecimento globais”. Alem isso, “uma maior absorção dos fundos europeus suporta também a atividade neste período”, diz.
As previsões do BdP para o crescimento da economia portuguesa em 2023 são, portanto, mais animadoras do que as estimativas do Conselho do BCE, que admite que a economia europeia só irá crescer 0,5% em 2023. "A atividade económica na área do euro poderá registar uma contração no presente trimestre e no próximo, devido à crise energética, à elevada incerteza, ao enfraquecimento da atividade económica mundial e às condições de financiamento mais restritivas", revelam. Ou seja, uma recessão económica, a verificar-se, "seria relativamente curta e pouco profunda", explica o BCE em comunicado publicado na semana passada, na sequência do último aumento dos juros diretores.
Crescimento económico acelera a um ritmo próximo de 2% em 2024 e 2025
“Em 2024-25, a evolução do PIB assenta na manutenção do contributo das exportações de bens e serviços em 0,9 pontos percentuais (p.p), enquanto o contributo do investimento aumenta para 0,5 p.p,, situando-se nos dois casos próximos dos observados nos anos anteriores à pandemia. Em contraste, o consumo privado cresce menos do que o PIB, com um contributo inferior ao da média de 2015-19”, explica o regulador português.

Poupanças sustentam consumo das famílias
Apesar da inflação estar elevada e do rendimento disponível real ter estagnado, o consumo privado continua resiliente em 2022, devendo aumentar 5,9%. Mas o que explica esta evolução? “A resiliência do consumo é explicada pelo desempenho do mercado de trabalho — que se estima numa situação de pleno emprego —, pelo impacto das medidas públicas de apoio e pelo recurso às poupanças acumuladas durante a pandemia”, resume o BdP na mesma publicação.
Contudo, para os próximos anos o crescimento do consumo privado deverá abrandar face ao estimado para este ano, prevê o BdP:
Consumo privado cresce 0,2% em 2023
Em 2023, os fatores que têm suportado o consumo privado deverão “perder importância”, adianta o supervisor. “Não só se estima que a margem de ajustamento resultante da riqueza acumulada durante a pandemia se reduza, como se projeta que o aumento da perceção do risco de alteração das condições do mercado de trabalho, ainda que sem materialização na presente projeção, condicione as decisões de consumo”, explica.
Isto porque o BdP prevê que o rendimento disponível nominal desacelere em 2023, refletindo a estabilização do emprego e o desaparecimento das medidas temporárias de apoio, a par do aumento do serviço da dívida. E, por isso, admite que o poder de compra volte a estagnar dada a inflação ainda elevada. “O impacto do aumento das taxas de juro e da inflação sobre a situação financeira das famílias deverá ser mais marcado para os agregados endividados de menor rendimento”, destaca ainda.
Consumo das famílias sobe 1,0%, em média, em 2024 e 2025
“A recuperação do consumo privado em 2024-25 reflete a dissipação da incerteza e o crescimento moderado do rendimento disponível real, num quadro de redução da inflação e estabilização das taxas de juro, prevendo-se uma ligeira redução do serviço de dívida. A evolução projetada para o rendimento e o consumo neste período é consistente com uma recuperação da taxa de poupança, que se manterá ainda assim abaixo dos valores anteriores à pandemia”, explica o regulador português.

Há incerteza “elevada” sobre a evolução da inflação e do crescimento económico
“A incerteza em torno das projeções é elevada, sendo identificados riscos em baixa para a atividade económica e em alta para a inflação”, destaca o BdP. Os principais riscos identificados pelo regulador surgem da possibilidade de ocorrer:
- Repercussões mais adversas do conflito na Ucrânia, em particular, sobre o abastecimento de energia à Europa, desencadeando uma nova escalada dos preços e cortes de produção, e sobre a confiança dos agentes;
- Crescimento mais forte dos salários e das margens de lucro das empresas com efeitos de segunda ordem sobre os preços, estimulando a espiral inflacionista;
- Riscos associados ao ritmo e à sincronização da subida de taxas de juro nas principais economias avançadas, que podem implicar um impacto mais restritivo que o projetado.
“A incerteza sobre a persistência das pressões inflacionistas, associada quer à duração dos choques que lhe deram origem quer aos fatores de propagação, cria também incerteza sobre o processo de normalização monetária na área do euro. Uma maior persistência da inflação traduzir-se-ia num maior aperto da política monetária e das condições de financiamento, com repercussões sobre as decisões de consumo e de investimento”, conclui o regulador português.
Para poder comentar deves entrar na tua conta