
O mercado financeiro estremeceu nos últimos dias depois de os bancos norte-americanos o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature terem falido. Os fantasmas da crise financeira de 2008 começaram a reaparecer, mas os governantes já vieram dizer que não há razões para alarme. O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assegurou que o sistema bancário dos EUA é "sólido" e que os depósitos das famílias e empresas "estão seguros". Desde Portugal, também o ministro das Finanças, Fernando Medina, garantiu que o sistema bancário europeu é “mais robusto” e tem “regras mais apertadas” que o dos EUA.
Foi na passada sexta-feira, dia 10 de março, o banco californiano Silicon Valley Bank (SVB) anunciou falência. E, logo depois, o Signature Bank também fechou. O que esteve por detrás destes colapsos? Uma vaga de levantamentos bancários, gerada pela subida das taxas de juro nos EUA, que tornaram outros produtos financeiros mais rentáveis e apetecíveis aos olhos das famílias do que as contas correntes e as obrigações do tesouro (onde investiu o SVB parte dos seus depósitos).
Os mercados financeiros logo começaram a recear o pior, mas entretanto a Reserva Federal dos EUA (Fed) anunciou que vai disponibilizar um "financiamento adicional" aos bancos norte-americanos para ajudar a garantir que as instituições tenham capacidade para satisfazer as necessidades "de todos os seus depositantes".
"A situação é séria e a forma como as autoridades dos EUA reagiram, ao garantir os depósitos e a facilitar linhas de crédito para evitar o contágio, mostra que o caso é para levar a sério, pois pretende evitar-se o alargamento da crise", considera Filipe Garcia, da IMF - Informação de Mercados Financeiros, citado pela Lusa.
Esta segunda-feira, Joe Biden falou ao país transmitindo uma mensagem de calma sobre a solidez do sistema bancário norte-americano: “Fiquem tranquilos: o sistema bancário é sólido, os vossos depósitos estão seguros” e “estarão disponíveis quando precisarem”, assegurou o Presidente dos Estados Unidos. Ainda assim, Joe Biden não escondeu que os investidores e acionistas não estarão protegidos das perdas.
Num momento em que a confiança é essencial para evitar um contágio em grande escala dos problemas do Silicon Valley Bank, Joe Biden garantiu que "faremos tudo o que for necessário" para que os norte-americanos confiem que o sistema bancário é "sólido", sublinhando que vai "reforçar" a regulação do setor, a qual foi apertada após a falência do Lehman Brothers, em 2008, mas depois aliviada por Donald Trump, antecessor de Biden.
Crise bancária nos EUA poderá contagiar sistema bancário europeu?

Olhando para a situação do mercado bancário norte-americano, o ministro das Finanças, Fernando Medina, garantiu esta segunda-feira, (dia 13 de março), em Bruxelas, que o sistema bancário europeu não é comparável aos dos EUA, sendo “mais robusto” e com “regras mais apertadas”.
“O sistema bancário europeu está sujeito à supervisão do Banco Central Europeu (BCE), tem regras mais rígidas [do que as dos EUA], está muito mais robusto, a supervisão e a regulação tiveram uma mudança grande nestes anos pós crise financeira [de 2013]”, disse Fernando Medina em declarações à entrada da reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro (Eurogrupo).
O SVB, salientou ainda o ministro das Finanças, que era uma instituição “muito regional” e “muito especializada”. Isto porque o Silicon Valley Bank era especializado no setor tecnológico e fazia negócios principalmente com empresas emergentes. Ainda assim "o SVB era o 16.º maior em termos de depósitos e isso significa quase o tamanho do sistema bancário português", precisa Filipa Garcia.
Por seu turno, o comissário europeu para a Economia, Paolo Gentiloni, sublinhou não haver “qualquer contágio direto” para o sistema bancário europeu, na sequência da falência do SVB. “Não há qualquer contágio direto e a possibilidade de um impacto indireto é algo que nós devemos vigiar, mas, até agora, não há qualquer risco significativo”, referiu o comissário.
O que está a ser feito para que a crise bancária nos EUA não se alastre?

Pouco depois destes dois bancos abrirem falência, as autoridades norte-americanas anunciaram que iriam garantir a retirada de todos os depósitos do banco californiano falido e disseram que vão também permitir o acesso a todos os depósitos de outro estabelecimento, o Signature Bank, que foi encerrado pelo regulador.
Além disso, a Reserva Federal dos EUA (Fed) logo anunciou que vai disponibilizar um "financiamento adicional" aos bancos norte-americanos para ajudar a garantir que as instituições tenham capacidade para satisfazer as necessidades "de todos os seus depositantes", nomeadamente aos levantamentos dos seus clientes.
Por seu turno, o HSBC, o maior banco europeu, comprou a filial do SVB no Reino Unido depois do seu colapso na semana passada, através de um resgate privado facilitado pelo Governo britânico e pelo Banco de Inglaterra, anunciou o executivo britânico esta segunda-feira. "Os clientes do SVB do Reino Unido podem aceder aos seus depósitos e serviços bancários normalmente a partir de hoje", afirmou o Tesouro britânico.
"O caso SBV mostra uma das implicações das subidas de taxas de juro de forma rápida", afirma Filipe Garcia
Como a subida das taxas de juro nos EUA contribuiu para o colapso dos dois bancos norte-americanos, segundo dizem os analistas, este cenário reforça as expectativas de abrandamento da política monetária do Fed. "É importante notar que a subida dos juros nos EUA contribuiu para a atual situação, pelo que poderá fazer com que os decisores de política monetária nos EUA comecem a ponderar abrandar ou até mesmo parar a subida dos juros, sendo que as atuais circunstâncias poderão também fazer com que o BCE pondere e esteja atento a eventuais riscos na banca devido à subida abrupta dos juros ao longo dos últimos meses", afirma Henrique Tomé, analista da XTB.
O mesmo diz Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa: "Os investidores antecipam agora uma desaceleração do ritmo de aumento das taxas de juro, sobretudo do banco central dos EUA", acrescentando que "este abrandamento poderá mitigar as atuais dificuldades nos pequenos bancos, em grande parte impulsionadas pela subida dos juros para travar a inflação mais elevada das últimas décadas".
Em relação a eventuais efeitos da falência dos dois bancos, Paulo Rosa nota que, hoje, o mercado monetário dos EUA apresenta-se "calmo" e não antevê repercussões até ao momento, mas considera que "é normal existirem receios dos investidores, nomeadamente dos que estão mais expostos ao setor bancário, relativos a potenciais contágios e ao escalar deste fenómeno".
*Com Lusa
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