
A incerteza no mundo subiu de tom com a aplicação das novas tarifas de Donald Trump, presidente do EUA. Teme-se que esta nova guerra comercial tenha impacto em alta na inflação e que acabe por ameaçar o crescimento económico, nomeadamente na União Europeia, que terá de lidar com novas tarifas de 20%. É neste contexto que há membros do Banco Central Europeu (BCE) que admitem que a política monetária deverá ser mais cautelosa daqui em diante. Mas também há quem defenda um novo corte dos juros na reunião da próxima semana.
As novas tarifas de Trump vão “desestabilizar o mundo do comércio, tal como o conhecemos”, disse Christine Lagarde, presidente do BCE, na passada quarta-feira, dia 2 de abril, antes de o presidente dos EUA ter anunciado novas tarifas de 20% a produtos importados da União Europeia, as quais acrescem às de 25% sobre os setores automóvel, aço e alumínio.
Também o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, sublinhou “o nível extraordinariamente elevado de incerteza em torno da política económica e comercial”, admitindo que “as tensões geopolíticas podem conduzir a uma inflação mais elevada devido a choques comerciais, ao aumento dos preços das matérias-primas e dos custos da energia”. Além disso, a despesa com defesa pode ajudar no aumento generalizado dos preços, acrescenta.
Os riscos para a subida da inflação na zona euro não ficam por aqui. Nas atas da reunião de 6 de março, o Conselho do BCE destaca que “a combinação de tarifas americanas e medidas de retaliação pode gerar riscos de alta para a inflação, especialmente no curto prazo”. “Além disso, as empresas também aprenderam a aumentar os preços mais rapidamente em resposta a novos choques inflacionistas”, acrescenta.
Como se não bastasse, vários analistas têm alertado que as novas tarifas de Trump podem condicionar o crescimento económico europeu – que, recorde-se, já está quase estagnado há cerca de dois anos. “A menor procura por exportações da zona euro e menor crescimento resultante do impacto de tarifas mais altas ou tensões geopolíticas podem representar uma ameaça à economia”, avisa Luis de Guindos, recordando que uma escalada da guerra comercial pode levar à depreciação do euro e ao aumento dos custos de importação.
Lagarde admitiu mesmo que a guerra comercial dos EUA poderia reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro em 0,5%, mesmo com o estímulo fiscal da Alemanha.

BCE vai cortar juros em abril? Como fica a Euribor?
Na última reunião de política monetária (realizada a 6 de março), o BCE baixou as suas taxas de juro diretoras em 25 pontos base para 2,5%-2,9%. O próximo encontro está agendado para 16 e 17 de abril e não é claro que decisão vai tomar desta vez: se voltará a baixar os juros ou se vai preferir fazer uma pausa e mantê-los como estão, tal como vários bancos centrais pelo mundo.
O que se sente atualmente é que não há um consenso dentro do próprio BCE sobre que rumo tomar quanto às taxas de juro na reunião de abril. Para Luis de Guindos a instituição deve ser “extremamente prudente na determinação da orientação da política monetária”, perante o perigo iminente para a estabilidade económica. E também o governador do Banco de Itália, Fabio Panetta, defende que o guardião do euro deve ser cauteloso sobre novos cortes dos juros. Já Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP) defende que deverá haver um novo corte de juros em abril.
Os economistas são da opinião de Centeno, admitindo uma maior probabilidade de o BCE voltar a cortar os juros na próxima semana. “Embora não sejam as mais elevadas entre os países afetados, as tarifas de 20% impostas à UE terão um impacto notável nas suas exportações e no seu crescimento. Além disso, os dados de inflação na zona euro de março surpreenderam negativamente e o fortalecimento do euro poderá ajudar a reduzir a inflação importada. Vemos, portanto, que a lista de argumentos 'dovish' está a ficar cada vez mais longa e o corte de abril é agora mais provável. Se tal acontecer, a Euribor a 12 meses poderá registar novas descidas este mês”, explicam os analistas da Ebury Portugal, em declarações ao idealista/news.
“Para o BCE, outro corte de 25 pontos base nas taxas de juros em abril parece agora ainda mais provável”, prevê Jan von Gerich, analista do Nordea, considerando “que os riscos estão inclinados para novos cortes de taxa do BCE nas próximas reuniões”. Por seu turno, Carsten Brzeski, economista do ING, admite que o choque no comércio e a baixa perspetiva de negociações rápidas levará o BCE a cortar os juros em 25 pontos base na reunião de abril.
Já Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, diz que, hoje, não se sabe o verdadeiro impacto desta guerra comercial. "Se por um lado pode levar a um efeito negativo na economia, continuar-se-ia a assistir a um ciclo de juros baixos. Por outro lado, caso se assista a um entendimento moderado, assistir-se-ia a uma pressão nos preços, ou seja inflação, e consequentemente pressão para a subida das taxas de juro", conclui.
“Após a reunião de abril, o BCE analisará o impacto da guerra comercial na inflação e no crescimento económico para determinar as próximas etapas da sua política monetária. Enquanto não for conhecida a reação da UE-27 - quer se trate de medidas de retaliação, o que parece mais provável, ou de uma atitude conciliatória - nós, o BCE e os titulares de crédito habitação com taxa variável estaremos em suspenso”, acrescentam desde a Ebury Portugal.
Os analistas do Bankinter admitem que o BCE tem cada vez menos margem para reduzir as taxas de juro, prevendo que não haverá mais do que dois cortes este ano, deixando os juros em 2%. É neste contexto que esperam que a Euribor a 12 meses fique em 2,1% no final deste ano (2,398% em março), e que possa mesmo retomar a trajetória ascendente em 2026 (quando terminará em 2,5%). Isto quer dizer que as prestações da casa dos créditos a taxa variável (ou mista em período variável) poderão voltar a aumentar.

Fed indica que vai manter juros inalterados – bancos centrais em suspenso
Do outro lado do Atlântico, a Reserva Federal (Fed) dos EUA está preocupada, sobretudo, com a rápida subida da inflação perante as novas tarifas e em avaliar o seu impacto no tempo. “A nossa obrigação é [...] garantir que um aumento único no nível de preços não se torne um problema contínuo de inflação", disse Jerome Powell, presidente da Fed.
O foco de Powell na inflação sugere que a Fed poderá manter a taxa de juro inalterada entre 4,25%-4,5% nos próximos meses, até ser possível contabilizar os impactos destes novos impostos. “É demasiado cedo para dizer qual será o caminho apropriado para a política monetária”, avisou Powell, apesar de estar a ser pressionado por Donald Trump para baixar as taxas de juro. “É a altura perfeita para o presidente da Fed (...) cortar as taxas de juro”, escreveu o presidente republicano na plataforma Truth Social.
Cautela passou a ser a palavra de ordem não só no BCE, nem na Fed, mas em vários países do mundo. Recorde-se que com a escalada da incerteza a nível global perante o anúncio das novas tarifas em mais de 180 países acabou por pesar nas decisões de vários bancos centrais que se reuniram no final de março, acabando por manter os juros inalterados. Foi o caso da Fed, do Banco de Inglaterra, do Banco Central da Suécia, do Banco do Japão e do Banco da China.

*Com Lusa
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