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Fim à vista da "galinha dos ovos de ouro" do imobiliário nacional? Franceses questionam regime
GTRES

Os franceses têm sido, em várias frentes, os grandes impulsionadores do imobiliário português nos últimos anos. Desde a compra individual de casas até à promoção de projetos residenciais, escritórios, turismo e outros - como residências universitárias e séniores, ou lojas -, o dinheiro gaulês, fomentado por benefícios fiscais, tem sido um propulsor do imobiliário, em particular, e da economia em geral, gerando mais emprego e receitas fiscais. Mas agora em França começam a levantar-se ondas contra este movimento e o presidente Emmanuel Macron está a estudar o que fazer. Será o fim da "galinha dos ovos de ouro"?

Depois da Suécia e da Finlândia, agora é a vez de França questionar o Regime dos Residentes Não Habituais (RNH), existente em Portugal e que tem servido de 'íman' para atrair pessoas de rendimentos elevados e profissionais de alto valor acrescentado para Portugal, em troca de isenção de IRS aos reformados e uma taxa reduzida de imposto (20%) aos rendimentos de trabalho.

Franceses lideram investimento estrangeiro em Portugal

Criado há cerca de 10 anos, este programa gerou já um investimento direto entre os 9 e os 11 mil milhões de euros, atribuíndo autorizações a cerca de 25 mil cidadãos provenientes de 146 países, segundo os dados mais recentes citados pela APEMIP. E os franceses são de longe os maiores investidores estrangeiros em Portugal.

Incitado pelos protestos dos 'coletes amarelos' - que têm marcado fortemente a agenda política e social em França reinvindicando, por exemplo, baixa de impostos e apoio ao pequeno comércio e à indústria francesa - Emmanuel Macron decidiu abrir uma discussão sobre o que querem ou não os franceses.

E as "borlas fiscais" dadas por Portugal é um dos temas a levantar polémicas, levando o presidente a considerar colocar um ponto final nos acordos bilaterais a este nível.

Fim à vista da "galinha dos ovos de ouro" do imobiliário nacional? Franceses questionam regime
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'Eldorado fiscal' em Portugal "é um verdadeiro escândalo"

No 'site' do "grande debate" têm surgido opiniões e propostas partilhadas que chamam aos franceses que estão a usufruir da isenção fiscal em Portugal "exilados fiscais" e a Portugal "um 'eldorado' fiscal", segundo conta a Lusa, dando nota de que, apesar de uma parte da discussão sobre os mais diversos temas desde o funcionamento da democracia até à fiscalidade em França, ter acontecido em reuniões públicas, uma parte das quase dois milhões de propostas feitas pelos franceses chegaram através da internet.

Estas propostas foram recebidas de janeiro a meados de março de 2019 e serão todas analisadas de forma a darem origem a medidas a aplicar pelo Governo de Macron.

"Os exilados fiscais reformados que vivem há seis meses em Portugal e, brevemente, em Itália, continuam a receber a sua pensão dada pelos organismos públicos. É fácil identificá-los. No entanto, eles continuam a vir tratar-se em França gratuitamente apesar de já não contribuírem para o nossos sistema social. É preciso que paguem os preços reais dos tratamentos médicos que recebem", escreveu um utilizador, que se identificou como V marc.

Outra proposta para sancionar quem se muda para Portugal ou outros países que promovem isenções fiscais é o corte de 50% das pensões atribuídas por França, indica a agência de notícias. "É preciso fazer pagar de alguma maneira todos os reformados que partem para fugir aos impostos em França, já que como não consomem aqui, o seu dinheiro não volta a entrar na economia francesa. Eles empobrecem a França. É um verdadeiro escândalo e uma prova de grande egoísmo", sugeriu outro utilizador no site oficial do "grande debate".

Famosos abriram caixa de pandora

Além de críticas aos seus concidadãos, os franceses estão preocupados com o impacto desta medida portuguesa e pedem que haja uma análise "sem tabus" aos acordos com Portugal.

"É importante abrir um debate sem tabu sobre este dispositivo, que leva a uma dupla isenção dos reformados franceses que se mudam para Portugal. Esta dupla isenção leva a que os Estados sejam privados de receitas fiscais e promovem concorrência desleal entre os Estados-membros da União Europeia", escreveu um utilizador que se identificou como Porto e que apelidou a sua proposta de "acabar com a evasão fiscal no 'eldorado' português".

O sistema adotado por Portugal para atrair reformados tem sido debatido em França depois de algumas declarações polémicas de estrelas da música e do cinema que afirmaram publicamente que se mudavam para terras lusas devido à isenção fiscal, escreve ainda a Lusa.

Em 2017, Florent Pagny, cantor e ator, disse numa entrevista que iria viver para Portugal "por razões fiscais", enumerando todas as vantagens dadas aos estrangeiros que se instalam no país. Esta entrevista, tal como recorda a agência de notícias, levou o ministro da Economia e das Finanças, Bruno Le Maire, a convidar o artista a ficar em França, afirmando que o Governo estava a preparar medidas adicionais para manter as grandes fortunas em território nacional.

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