CEO do grupo Fortera, Elad Dror, foi detido no âmbito da Operação Babel, por suspeitas de corrupção em projetos urbanísticos.
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Skyline
Skyline, Grupo Fortera

Elad Dror, CEO do grupo Fortera, uma promotora imobiliária com capitais israelitas que vai construir o Skyline em Gaia, o prédio mais alto de Portugal, com 28 andares, foi detido no âmbito da Operação Babel. A investigação criminal levou a Polícia Judiciária (PJ) às autarquias de Gaia, Porto, ao Metro do Porto e ao gabinete do premiado arquiteto Eduardo Souto de Moura, no seguimento de suspeitas que investigam um “esquema de corrupção e de favorecimento” relacionado com licenciamentos urbanísticos de projetos em torno dos 300 milhões de euros.

Num comunicado divulgado esta terça-feira, 16 de maio de 2023, o grupo imobiliário assumiu que irá “colaborar ativamente com a justiça”, em reação à detenção do seu diretor-executivo e fundador, Elad Dror. O grupo Fortera, com sede em Vila Nova de Gaia, com capitais israelitas e que se dedica à promoção imobiliária adianta “que tem em curso um investimento relevante na área” deste município do distrito do Porto, admitindo que “poderá ser em torno do mesmo que será necessário prestar esclarecimentos”. “Reafirmamos que iremos colaborar ativamente com a investigação”, lê-se ainda na nota de imprensa citada pela Lusa.

Skyline, o megaprojeto imobiliário da Fortera em Portugal

Em causa está o emblemático projeto Skyline, em Gaia. A empresa de promoção imobiliária havia anunciado a construção daquele que será o prédio mais alto do país, onde espera instalar um hotel de cinco estrelas e um conjunto de apartamentos de luxo, em novembro de 2020, no qual previa um investimento a rondar os 100/120 milhões de euros – entretanto, o valor do investimento subiu, estimando-se uam cifra de 150 milhões. Na altura, Elad Dror, ambicionava iniciar a obra em 2021 e terminá-la no prazo de dois ou três anos, mas o tempo passou e a empreitada não chegou a avançar, tal como o idealista/news noticiou. Ao que tudo indica, as obras do empreendimento da Fortera, assinado pelo arquiteto Souto de Moura - que é também suspeito do Ministério Público de ter ido favorecido neste esquema, deveriam arrancar no início deste ano.

A torre Skyline com 28 andares será construída na zona de General Torres, em Gaia. O edifício desenhado pelo Pritzker Souto de Moura terá 111 apartamentos de luxo, uma piscina “infinita”, um clube de bem-estar, bar, restaurantes e vista panorâmica. Além disso, o projeto contará também com um hotel de cinco estrelas, parque de estacionamento, uma praça urbana, e centro de congressos para 2.500 pessoas.

No ano passado, Elad Dror disse ao Dinheiro Vivo que as casas de luxo que vão ser desenvolvidas neste edifício terão entre 40 e 100 metros quadrados (m2) e serão dos “os apartamentos mais caros de Portugal”, uma vez que o preço rondará os sete mil euros por metro quadrado (m2).

Skyline
Skyline, Fortera

Os investimentos imobiliários do grupo Fortera em Portugal

Fundada em 2015, a Fortera é uma empresa que atua no ramo imobiliário de luxo, "com objetivo de ser um dos importantes players do setor em Portugal".

As suas grandes áreas de atuação centram-se na aquisição de imóveis para construção de raiz ou reabilitação de espaços para fins hoteleiros ou residencial. A atividade iniciou-se a Norte, no grande Porto, mas é na cidade Invicta e em Espinho onde incidem, por enquanto, os principais investimentos, particularmente nas zonas da Boavista, Santo Ildefonso, Nevogilde, Campanhã.

Atualmente, tem já vários projetos concluídos e comercializados, e vários investimentos em curso para os próximos anos. É o caso empreendimento residencial Alive Riverside, localizado nas margens do rio Douro, em Vila Nova de Gaia, no total de 126 apartamentos, que deverá custar 110 milhões; ou ainda do antigo Convento do Carmo, em Braga, que deverá ser transformado em habitação.

"O grupo está a desenvolver e a gerir vários projetos com mais de 1.000 apartamentos, 818 quartos de hotéis e 235.000 m2 de uso misto (...) Temos mais de 700 milhões de euros de projetos em curso para os próximos 5 anos", segundo informação divulgada no site da Fortera. 

Alive Riverside
Alive Riverside, Grupo Fortera
  • Quem é Elad Dror, CEO da Fortera?

Elad Dror, nascido em Telavive, Israel, criou os primeiros negócios em Portugal em 2010, depois de já ter passado por países como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e Bélgica, de acordo com o jornal ECO. Nessa altura, diz a publicação, assinou dez contratos com lojas dos centros comerciais Dolce Vita para vender carrinhos telecomandados e, à data tinha uma participação minoritária nos franchisings da Huawei e Xiaomi Store. O Expresso acrescenta que o CEO da Fortera tem passaporte português enquanto judeu de origem sefardita, reconhecido como tal pela Comunidade Israelita do Porto. Cria a Fortera anos mais tarde, com Nir Shalom e, posteriormente, fixou residência no Porto.

"Elad tem conduzido negócios em Portugal desde 2010. A sua vasta experiência na gestão de projetos complexos no mercado nacional e internacional permitiram um crescimento consistente da sua atividade, contando já com perto de 100 colaboradores", pode ler-se no site do grupo. 

Projetos imobiliários no centro da Operação Babel – o que se sabe

A “Operação Babel centra-se na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”, explicou a PJ, em comunicado, esta terça-feira. 

“Nesta fase, foram já constituídos 12 arguidos, estando os detidos, um titular de cargo político [o vice-presidente da autarquia de Gaia, Patrocínio Azevedo], dois funcionários de serviços autárquicos, um funcionário de Direção Regional de Cultura do Norte, dois empresários e um profissional liberal, indiciados pela prática dos crimes de recebimento ou oferta indevidos de vantagem, corrupção ativa e passiva, prevaricação e abuso de poder praticados por e sobre funcionário ou titular de cargo político”, deu conta a PJ.

O diretor-executivo e fundador do Grupo Fortera, Elad Dror, é um dos sete detidos pela PJ durante a Operação Babel. A detenção foi avançada à agência Lusa por fonte judicial, acrescentando que um segundo empresário do ramo imobiliário detido nesta investigação (Paulo Malafaia) já o havia sido no âmbito da “Operação Vórtex”, ao abrigo da qual o ex-presidente da Câmara de Espinho Miguel Reis se encontra em prisão preventiva.

  • Buscas nas autarquias de Gaia, Porto, ao Metro do Porto e ao gabinete de Souto de Moura

O vice-presidente do município de Vila Nova de Gaia, Patrocínio Azevedo, que tem o pelouro do Planeamento Urbanístico e Política de Solos, Licenciamento Urbanístico, Obras Municipais e Vias Municipais, e dois funcionários da câmara do Porto, um deles chefe de uma divisão da área urbanística e outro com ligações a esta divisão, também foram detidos. A PJ deteve ainda um técnico superior da Direção Regional de Cultura do Norte e um jurista.

Durante a operação policial, segundo a PJ, foram efetuadas 55 buscas domiciliárias e não domiciliárias, em várias zonas do território nacional, em autarquias e diversos serviços de natureza pública, bem como a empresas relacionadas com o universo urbanístico. As câmaras do Porto e de Vila Nova de Gaia, assim como a Metro do Porto, foram alvo de buscas.

Porto
Foto de Rui Alves no Unsplash

Em comunicado, no final da manhã de terça-feira, a Câmara Municipal do Porto afirmou que as buscas da PJ nos serviços do urbanismo não visaram o município, mas empresas privadas com processos urbanísticos ali a tramitar. Entretanto, o autarca da Invicta, Rui Moreira, já reagiu, considerando “normal” a presença da PJ nos serviços municipais, afirmando desconhecer os projetos urbanísticos que estarão a ser investigados. Além disso, o governante confirmou a detenção de dois funcionários da câmara.

A Câmara de Vila Nova de Gaia adiantou que as buscas da PJ na autarquia, estão “basicamente ligadas” aos serviços de urbanismo e que terão origem numa denúncia anónima. “Hoje estivemos, desde o início da manhã (de terça-feira), a fornecer elementos solicitados por uma investigação no âmbito de um processo que já se tornou público, que decorre alegadamente de uma denúncia anónima e visa aspetos basicamente ligados a dossiers dos serviços municipais do urbanismo”, lê-se num comunicado enviado à Lusa por aquela autarquia do distrito do Porto. A câmara garantiu ainda que “como é evidente, todos os elementos foram fornecidos” [à PJ] e que o presidente da câmara municipal, Eduardo Vítor Rodrigues, “deu indicação expressa aos serviços para a cedência de todos os elementos necessários às averiguações legais”.

  • Gaia “impôs” contratação do arquiteto Souto Moura

O Ministério Público (MP) diz que o vice-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia obrigou os promotores imobiliários Paulo Malafaia e Elad Dror a adjudicarem ao arquiteto Souto Moura os projetos do Centro Cultural e de Congressos, segundo a Lusa.

“A contratação de Souto de Moura imposta pela Câmara de Gaia ao grupo Fortera terá implicado um custo acrescido de aproximadamente 500 mil euros à entidade privada, por comparação dos honorários cobrados por este arquiteto com outros arquitetos com prestígio no mercado. Na sequência, o promotor imobiliário procurou amortizar o custo acrescido com a obtenção de maior capacidade volumétrica para o projecto”.

A informação consta de um despacho do Departamento de Investigação e Ação Penal Regional do Porto, a que a agência Lusa teve acesso esta quarta-feira, 17 de maio de 2023, sobre o processo principal da Operação Babel, na qual foram detidos, na terça-feira, o vice-presidente da Câmara de Gaia, Patrocínio Azevedo (PS), o diretor-executivo e fundador do Grupo Fortera, Elad Dror, o empresário do ramo imobiliário Paulo Malafaia e o advogado João Lopes.

O MP conta que, em julho de 2020, o vice-presidente da câmara de Vila Nova de Gaia “abordou os promotores imobiliários Paulo Malafaia e Elad Dror, impondo àqueles a necessidade de ser adjudicada a elaboração de projetos de arquitetura do Centro Cultural e de Congressos/hotel previstos na Unidade de Execução ao arquiteto Souto Moura”.

Segundo a investigação, “a contratação de Souto Moura, imposta pela câmara de Gaia ao Grupo Fortera, terá implicado um custo acrescido de aproximadamente 500.000 euros à entidade privada, por comparação dos honorários cobrados por este arquiteto e outros arquitetos com prestígio no mercado”. Devido a esse facto, “o promotor imobiliário procurou amortizar o custo acrescido com a obtenção de maior capacidade volumétrica para o projeto”, sublinha o MP.

Skyline
Skyline, Grupo Fortera

O atelier do arquiteto Souto Moura, situado no Porto, foi um dos locais alvo das dezenas de buscas realizadas, na terça-feira, por inspetores da PJ, nomeadamente “os ambientes de trabalho dos arquitetos Eduardo Souto Moura e Daniel Oliveira e demais funcionários/serviços” para que, “no decurso da diligência”, fosse possível apurar “conexão com os factos em investigação”.

Para o MP, o executivo municipal de Vila Nova de Gaia, “com especial incidência na pessoa do vice-presidente, Patrocínio Azevedo”, atuou “com o desidrato último de favorecer os interesses da sociedade de construções Pereira & Filhos, Grupo Fortera e seu sócio Paulo Malafaia, bem como Eduardo Souto Moura”, no projeto de construção do Centro Cultural e de Congressos.

A investigação assenta esta conclusão em várias decisões, nomeadamente “ao condicionar, em 2019, a celebração de protocolo entre o município, as Águas de Gaia e demais promotores referentes ao projeto Centro Cultural e de Congressos à verificação de negócio de compra e venda dos imóveis entre os privados, beneficiando, assim, a sociedade proprietária originária Construções Pereira & Filhos, representada pelo advogado João Lopes”.

Além disso, “fez aprovar uma segunda proposta de Unidade de Execução referente ao Centro Cultural e de Congressos, na qual os direitos urbanísticos atribuídos ao Grupo Fortera sofreram um incremento de 8.590 m2 de área máxima de construção, cujo valor de mercado ascende a cinco milhões de euros”.

“E conformaram as limitações volumétricas no exclusivo interesse dos privados de forma a operar uma compensação pelo custo assumido pelo promotor com a contratação do arquiteto Eduardo Souto Moura, imposta, informalmente, por Patrocínio Azevedo, beneficiando este por dupla via, o arquiteto e o promotor”, salienta o despacho judicial.

*Com Lusa

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