André Ramalho é designer de profissão e apaixonado por fotografia. Abre muitas portas antigas (e fechadas) e dá-lhes nova vida através da sua lente.
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A beleza do património esquecido ou em ruínas: este fotógrafo “caça” abandonados por todo o país
O fotógrafo criou o projeto “Abandonados” em 2016 André Ramalho

Espaços abandonados, na grande maioria vandalizados ou em ruínas, deixados à sua sorte. André Ramalho percorre o país à procura de locais com histórias para contar. Começou a fotografar em 2014, como um hobbie, até que em 2016 decidiu criar o “Abandonados”, um blog no qual partilha os registos de lugares devolutos que vai encontrando em Portugal. Acredita que é importante “sensibilizar as pessoas para o património que temos abandonado”, e tentar, sobretudo, “que estes locais sejam reaproveitados”. Mas desengane-se quem acha que esta é tarefa fácil: a maioria dos edifícios apresenta estruturas instáveis e vulneráveis, à beira do colapso. Ainda assim, a beleza do património português vale o “risco”.

Apesar da dedicação ao projeto, que já lhe valeu um galardão - foi vencedor do prémio final do Blog do Ano da Media Capital, em 2018 -, André Ramalho mantém a sua profissão de designer. No “Abandonados” move-o, sobretudo, a paixão pela fotografia e pela descoberta. Esta prática é apelidada de Urbex (Urban Exploring), isto é, o ato de visitar locais que se encontram ao abandono e registá-los em fotografia documental. O fotógrafo explica que, na prática, o objetivo passa por manter o mais intacto possível o local que se visita, mas não impede que, algumas vezes, seja necessário trespassar propriedades alheias. Situações que, de resto, já lhe valeram alguns sustos – (quase) todos com finais felizes.

Desde o processo de pesquisa dos locais, passando pela visita dos mesmos até ao seu “registo”, sem esquecer, claro, todos os perigos que também entram nesta equação. André Ramalho explica tudo sobre o “Abandonados” em entrevista ao idealista/news.

A beleza do património esquecido ou em ruínas: este fotógrafo “caça” abandonados por todo o país
Palácio das Águias André Ramalho

O André é designer de formação correto? A fotografia surgiu quando? Como um hobbie?

Sim, trata-se apenas de um hobbie, sou designer de interfaces (sites e aplicações), mas sempre adorei fotografia, e durante a minha licenciatura tive a oportunidade de fazer fotografia analógica, e de experimentar fazer revelação em câmara escura e isso despertou ainda mais o gosto pela fotografia.

Como e quando é que começou o projeto "Abandonados"?

Comecei a fotografar locais abandonados como um hobbie em 2014, depois de visitar uma antiga discoteca abandonada que cheguei a frequentar quando era mais jovem. Numa noite, no decorrer de uma conversa, o tema da discoteca surgiu, alguém mencionou que estava abandonada e como éramos da zona, ficámos curiosos em saber em que estado estava e fomos visitar. Adorei a experiência, foi um misto de nostalgia com sensação de aventura.

Em 2016 apareceu o projeto “Abandonados” com o intuito de partilhar algumas fotos e histórias sobre os vários locais abandonados que vou visitando em Portugal.

Como é que descobre estes locais? Deve envolver um grande processo de pesquisa...

Alguns locais encontro através de pesquisas na internet, outros através de buscas no Google Maps, encontrando locais que parecem abandonados e depois ir presencialmente ao local confirmar se estão ou não. E também trocando referências com outras pessoas que têm este gosto por locais abandonados. Mais recentemente, como o meu blog tem tido bastante visitas recebo muitos e-mails com sugestões de locais também.

"Alguns locais encontro através de pesquisas na internet, outros através de buscas no Google Maps"

O que o atrai nos lugares abandonados?

Várias coisas. São locais cheios de história, diria mesmo que são locais místicos, e existem várias formas de sentir estes locais. Existe quem olhe para as minha fotos e pense "que triste ver locais assim", mas eu não, eu olho para os locais que visito e vejo beleza em todos eles. Mesmo abandonados, por vezes já vandalizados, consigo ver potencial artístico para fazer fotografias, porque considero muitos destes locais bastante bonitos, cada um à sua maneira.

"Mesmo abandonados, por vezes já vandalizados, consigo ver potencial artístico para fazer fotografias, porque considero muitos destes locais bastante bonitos, cada um à sua maneira"

O que pretende transmitir com as fotografias destes locais?

Eu faço este hobbie porque gosto de fotografar locais abandonados, o meu principal intuito não é transmitir nenhuma mensagem específica, mas se as minhas fotografias e reportagens que publico no blog gerarem interesse e contribuírem para a recuperação de património abandonado, tanto melhor. É importante sensibilizar as pessoas para o património que temos abandonado, e tentar que estes locais sejam reaproveitados por alguém.

A beleza do património esquecido ou em ruínas: este fotógrafo “caça” abandonados por todo o país
Convento do Monfurado André Ramalho

Dedica-se a fotografar só em Portugal ou já se aventurou por outros destinos no estrangeiro?

Dedico-me exclusivamente a fotografar locais em Portugal, tenho oportunidade de ir lá fora, mas não quero. Em Portugal aproveito um ou dois dias por mês e vou fotografar, não perco dias de férias com este hobbie, mas para ir ao estrangeiro teria de sacrificar dias de férias, várias horas para planear a viagem, despender muito dinheiro, etc.. e pessoalmente não me apetece fazê-lo, prefiro passar as minhas férias a descansar, passear e conviver com a minha família e amigos. E Portugal é tão interessante, abandonados não faltam!

Consegue dizer-nos a quantos edifícios abandonados já tirou fotos?

É difícil dizer... algumas centenas.

Pode ser arriscado? Deve haver espaços muito degradados...

Alguns locais que fotografo são ruínas e outros a caminhar a largos passos para isso, não são na sua grande maioria locais seguros para estar.

E depois claro, riscos relacionados com o desconhecido, risco de encontrar pessoas ou animais, ou até mesmo um local que pode parecer abandonado, e na realidade não estar. Já tive problemas com donos das propriedades, vizinhos, segurança e até com a polícia... mas no final tudo se resolveu.

Já encontrei também sem-abrigos diversas vezes neste sítios, mas nunca tive problemas com nenhum deles, é preciso respeitar o espaço deles e tentar não incomodar.

Há algum edifício que se tenha destacado ao longo deste tempo? Ou que André gostasse de destacar...

Gostaria de destacar o Seminário de Santa Teresinha, porque infelizmente grande parte do edifício ardeu recentemente, mas ficam as fotografias que tirei em 2017 para recordar o seminário.

A beleza do património esquecido ou em ruínas: este fotógrafo “caça” abandonados por todo o país
Seminário de Santa Teresinha André Ramalho


Há algum episódio curioso que já se tenha passado?

O episódio menos usual foi também o mais perigoso. Em 2018 fui visitar um local sozinho (algo que nunca se deve fazer e que atualmente já não faço), cai e magoei-me gravemente na mão direita, felizmente consegui pedir ajuda a pessoas que estavam a passar na rua e fui encaminhado para o hospital mais próximo onde a ferida foi suturada com 30 pontos. Depois de vários meses de fisioterapia recuperei, mas ficam sempre algumas mazelas pelo caminho e uma lição aprendida. Muito cuidado e nunca ir sozinho para locais abandonados!

Nunca revela as localizações. Há muitas pessoas a querer saber onde ficam estes edifícios?

Alguns locais que publico no blog coloco o nome real dos locais, mas a grande maioria coloco um nome fictício e não divulgo a localização. É preciso proteger esses locais de vandalismo e furtos. Recebo pedidos de localizações diariamente, no início respondia a todos, mas atualmente já não consigo fazê-lo. 

"Alguns locais que publico no blog coloco o nome real dos locais, mas a grande maioria coloco um nome fictício e não divulgo a localização"



 

A beleza do património esquecido ou em ruínas: este fotógrafo “caça” abandonados por todo o país
Grande Sanatório do Caramulo André Ramalho

Além da fotografia, o André também escreve os textos. Conta com alguma ajuda no blog? Ou nas produções fotográficas?

Conto apenas com a ajuda do meu irmão, que ocasionalmente faz a revisão dos textos.

Como difunde o projeto?

O meu projeto cresce organicamente, vou publicando com regularidade no blog e nas redes socais e vai crescendo dessa forma, mas não estou preocupado com número de seguidores, fossem 100 ou 100 mil a minha dedicação ao projeto seria igual.

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1 Comentários:

Luis Soares
7 Outubro 2020, 12:16

Falta aqui a ficha tecnica do fotografo e seu nome completo, como o podemos contactar???????

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