Francisco Rocha Antunes, fundador da gestora de cooperativas de habitação, alerta para a urgência de descarbonizar o imobiliário.
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Cooperativas em Portugal
Francisco Rocha Antunes, fundador e presidente executivo da MOME MOME

Numa altura em que a crise habitacional está na ordem do dia em Portugal, havendo escassa oferta de casas, e a preços acessíveis para a generalidade das pessoas, ressuscitar o movimento cooperativo parece ser uma tendência que está a ganhar força. A MOME, gestora profissional de cooperativas de habitação, está a desenvolver dois projetos no Porto, o Pedras.coop e o Hera.coop, havendo já um terceiro na calha, também na cidade Invica, revela ao idealista/news o fundador e presidente da empresa. Francisco Rocha Antunes alerta para a urgência de descarbonizar o imobiliário, reduzindo ao máximo o uso do aço e do betão na construção e apostando na madeira. “Na MOME já adotamos a construção híbrida como regra”, diz.

“Esta é uma indústria que não gosta de grandes mudanças, não está habituada a grandes mudanças, mas desta vez vai ter de mudar. As pessoas já não aceitam que continuemos a construir da maneira que se constrói, utilizando os recursos da maneira que utilizamos sabendo que há alternativas, que há outras maneiras de construir que não gastam os mesmos recursos”, adianta, à margem da apresentação da NOS Smart Home, uma nova solução de casa inteligente e conectada direcionada para promotores imobiliários, na qual participou na semana passada. 

A solução passa, então, por usar mais madeira na construção? “A mensagem essencial é o híbrido”, responde Francisco Rocha Antunes. “Para cada tipo de edifício terá de ser encontrada a combinação de materiais com menor impacto de carbono. Provavelmente para edifícios mais altos só a madeira não chega e terá de se utilizar aço e em algumas partes betão, mas só pode ser utilizado o betão que for preciso utilizar. Esta é uma tendência que está a acontecer em toda a Europa, nós é que levamos sempre um pouco mais de tempo”, acrescenta. 

"Para cada tipo de edifício terá de ser encontrada a combinação de materiais com menor impacto de carbono. Provavelmente para edifícios mais altos só a madeira não chega e terá de se utilizar aço e em algumas partes betão, mas só pode ser utilizado o betão que for preciso utilizar"

Em causa não está a utilização de madeira convencional, mas sim com engenharia. “É madeira processada de maneira a ter um grande grau de resistência. Não estamos a falar das tábuas do costume, estamos a falar de sistemas construídos baseados em madeira. São métodos construtivos que garantem que conseguem ter um desempenho estrutural equivalente ao do betão e do aço”, explica. 

No caso concreto da MOME, adianta o fundador e presidente da empresa, que nasceu em 2021, a aposta já está a passar por métodos de construção híbridos: “Temos uma fortíssima preocupação com a questão da sustentabilidade. Já adotamos a construção híbrida como regra e, portanto, se os prédios terão mais madeira [ou menos] dependerá do projeto em si. Mas temos como grande objetivo reduzir o carbono ao mínimo”. 

Aposta nas cooperativas de habitação em Portugal
Assim será o projeto Hera.coop, no Carvalhido, Porto, que ficará concluído em 2026 MOME

“Estamos no mercado dos terrenos a identificar as oportunidades mais interessantes”

Em jeito de balanço de atividade, Francisco Rocha Antunes conta que os dois projetos da MOME – o Pedras.coop, em Lavadores, Vila Nova de Gaia, e o Hera.coop, no Carvalhido, Porto – estão a avançar a bom ritmo: “No caso do Pedras, temos grande parte das casas comprometidas, faltam poucas para darmos o arranque. Já no Hera, contamos estarmos em condições de abrir as adesões no primeiro trimestre de 2024, sendo que tem havido um interesse muito grande”. 

E será que há novos empreendimentos na calha? “Estamos a negociar o terceiro projeto de habitação cooperativa, mas ainda não podemos adiantar nada, ainda é uma possibilidade de negócio. Neste caso é mesmo no centro do Porto”, desvenda.

"Estamos a negociar o terceiro projeto de habitação cooperativa, mas ainda não podemos adiantar nada, ainda é uma possibilidade de negócio. Neste caso é mesmo no centro do Porto"

Uma coisa é certa, garante, a empresa está “ativamente no mercado dos terrenos a identificar as oportunidades mais interessantes para desenvolver cooperativas”. “Significa isto, portanto, que o nosso plano de cumprirmos três ou quatro cooperativas novas em 2024 vai ser cumprido”, sustenta.

Cooperativas de habitação
Vista exterior do projeto Pedras.coop, em Vila Nova de Gaia, que estará concluído em 2025 MOME

Dúvidas quanto ao modelo de cooperativas do Governo

Quando questionado sobre o objetivo do Governo de apostar também no modelo cooperativo de habitação de forma a aumentar a oferta de casas no mercado, uma medida que consta no programa Mais Habitação, o também Chair da ULI Portugal e CDO da +Urbano considera que há que esperar para ver. “No Mais Habitação existe muito pouca definição na área das cooperativas e a que existe não é para o modelo que nós desenvolvemos”, explica. 

“Em Portugal há dois modelos de cooperativas: um que tem propriedade individual, que é o que desenvolvemos e que corresponde às cooperativas que as pessoas conhecem, em que no fim são donas da sua casa e conseguem comprá-la através de um financiamento bancário. Mas o Governo optou por ir por outro modelo, que é o da propriedade coletiva. É um modelo mais vanguardista, mas não percebi como é financiado, mas seguramente o Governo saberá”, conclui. 

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