O Governo vai contestar impugnação de obras no aeroporto Humberto Delgado. Agência do Ambiente tem 30 dias para contestar.
Comentários: 0
Obras no aeroporto de Lisboa
Getty images
Lusa
Lusa

O Ministério Público (MP) apresentou em dezembro uma petição no Supremo Tribunal Administrativo (STA) para “a declaração de nulidade e anulação de diversos atos administrativos” relacionados com obras de modificação e ampliação no aeroporto de Lisboa. Entretanto, o Governo disse que vai apresentar uma contestação à ação administrativa avançada pelo MP que pode atrasar as obras de melhoria do aeroporto Humberto Delgado.

A notícia da ação interposta pelo MP a 12 de dezembro junto do STA foi avançada pelo Jornal de Negócios e confirmada na quinta-feira (9 de janeiro de 2025) à Lusa pelo STA, que esclareceu que o processo se encontra neste tribunal em fase de citação, ou seja, a fase em que “se dá conhecimento às entidades demandadas e aos contrainteressados de que contra eles foi proposta uma determinada ação, e que são chamados ao processo para dentro do prazo legal, se defenderem e pronunciarem”.

Entretanto já chegaram contestações. O Governo vai apresentar uma contestação à ação administrativa avançada pelo Ministério Público que pode atrasar as obras de melhoria do aeroporto Humberto Delgado.

"O Governo recebeu a referida notificação sobre a ação administrativa proposta pelo Ministério Público junto do Supremo Tribunal Administrativo e, na condição de entidade demandada, usará os prazos legais [30 dias] para analisar esta ação que incide nomeadamente sobre uma Resolução de Conselho de Ministros de dezembro de 2023 (RCM 201/2023) e sobre a decisão da Agência Portuguesa do Ambiente de 22 de janeiro de 2024, para apresentar a respetiva contestação", adiantou à Lusa fonte oficial do Ministério das Infraestruturas.

Esta ação do MP não suspende as obras no imediato, mas poderá levar a atrasos caso a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) tenha de realizar o estudo de impacto ambiental (AIA).

Em reação à notícia, a ANA comentou que "lamenta essa tentativa de impedir a realização, entre outras, das obras consignadas em dezembro resultantes da RCM 201/2023, alterada pela 67/2024, que visam assegurar aos passageiros melhores condições de serviço, com mais espaço nos terminais e a redução dos embarques e desembarques por autocarros, melhorando assim a pegada carbónica das operações em terra", disse à Lusa fonte oficial da gestora dos aeroportos nacionais.

Agora, a concessionária, e as outras entidades notificadas, entre as quais APA, NAV - Portugal, vários ministérios e o regulador do setor (ANAC), têm 30 dias para apresentar contestação.

Atraso nas obras do aeroporto de Lisboa
Aeroporto Humberto Delgado, Lisboa Getty images

A que se deve a "intervenção" do Ministério Público?

A ação do MP pretende que seja declarada nula a decisão da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), de 22 de janeiro de 2024, que dispensou da obrigatoriedade de avaliação de impacte ambiental (AIA) as obras previstas para o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, assim como as deliberações do Conselho de Ministros de 28 de dezembro de 2023, que obrigavam a ANA – Aeroportos de Portugal, a realizar obras e investimentos naquela infraestrutura.

O MP quer ainda ver anulada a resolução de Conselho de Ministros de maio de 2024, já da responsabilidade do atual Governo, que “prevê medidas para reforçar a capacidade do Aeroporto Humberto Delgado”, assim como os pareceres favoráveis da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

“O MP pede ainda que a ANA Aeroportos de Portugal S.A. seja condenada à abstenção de comportamento, qual seja, a de execução de projetos de modificação e ampliação do Aeroporto Humberto Delgado com impacte significativo no ambiente não precedidos de avaliação de impacte ambiental”, adianta ainda o STA.

O MP especifica, refere a nota do STA, que em causa estão “todos os projetos mencionados na Resolução de Conselho de Ministros n.º 201/2023 e ainda outros que integrem o seu plano de desenvolvimento, ou o seu plano de melhoria operacional ou o seu plano diretor para o Aeroporto Humberto Delgado, salvaguardas as intervenções de mera manutenção, ou de força maior por razões de segurança”.

Avião da TAP
Getty images

PGR confirma entrega da ação administrativa no STA

Em resposta à Lusa, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a entrega da ação administrativa no STA a 12 de dezembro que “visa essencialmente o cumprimento do regime jurídico de avaliação de impacte ambiental no respeitante às obras a realizar no Aeroporto Humberto Delgado previstas”.

“A ação administrativa do MP considera que a avaliação de impacte ambiental deve incidir sobre a totalidade dos projetos decididos – e não somente os que se referem na Resolução do Conselho de Ministros n.º 67/2024 – levando, outrossim, em conta, que a última e única avaliação de impacte ambiental data de 2006, sob pena de, assim não se fazendo, ocorrer fracionamento de avaliação de impactes”, referiu a PGR na resposta à Lusa.

Na ação interposta pelo MP, a que a Lusa teve acesso, recorda-se as obras feitas para dar resposta a um acréscimo de tráfego aeroportuário, mas argumenta-se que “o problema não é realizarem-se obras”, mas sim “realizarem-se obras significativas de resposta a esse acréscimo sem avaliação de impacte ambiental”.

“Salvo o devido respeito por quem assim não entende, a avaliação de impacte ambiental é preterida porque, contrariamente ao sucedido em 2006, o planeamento de 2013-2018 não foi submetido a avaliação em termos requisitados pelo Direito da União Europeia, porque os projetos, na sua ponderação de viabilização ambiental, são reiteradamente perspetivados de modo fracionado e porque se erra na aplicação do regime jurídico”, lê-se na argumentação do MP.

Sobre as obras previstas de construção de um novo terminal (PIER SUL), da plataforma de estacionamento de aviões e de remodelação de um terminal, o MP entende que “seria suficiente para considerar a verificação de impactes significativos no ambiente”.

“Mas além disso, ocorre fracionamento de projetos, havendo a considerar obras a montante (tudo o que se fez sem AIA; e em conexão com as obras atuais, o encerramento da pista 17/35), obras concomitantes (as OED [Obrigações Específicas de Desenvolvimento] atrasadas e a extensão do aeroporto para a área militar) e obras a jusante (tudo o que virá a seguir para fazer face a 45 milhões de passageiros)”, lê-se na ação do MP.

Perante isto, o MP defende que “cabe exigir a realização de AIA neste momento, e não apenas mais tarde”.

Obras preveem um investimento de 233 milhões de euros

As obras no aeroporto Humberto Delgado, adjudicadas ao consórcio da Mota-Engil e da Vinci, preveem um investimento de mais de 233 milhões de euros e visam mitigar o atual congestionamento da infraestrutura até ao arranque do novo aeroporto Luís de Camões, em Alcochete

O Governo já anunciou que vai apresentar uma contestação à ação administrativa avançada pelo MP e ANA lamenta a tentativa de impedir obras no aeroporto.

*Notícia atualizada dia 13 de janeiro, às 13h08 com a posição do Governo e da ANA

Acompanha toda a informação imobiliária e os relatórios de dados mais atuais nas nossas newsletters diária e semanal. Também podes acompanhar o mercado imobiliário de luxo com a nossa newsletter mensal de luxo.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta