Há empresas com história, que marcam gerações e o desenvolvimento das cidades. É o caso de "A Eléctrica", uma empresa fundada em Vila Nova de Famalicão há 100 anos, que superou várias guerras, crises financeiras e ainda uma pandemia. E, mesmo assim, continuou a crescer e a diversificar negócios além da distribuição de energia, que era a sua principal atividade em 1924. Chegou a comercializar materiais de construção depois da segunda guerra mundial e foi investindo em vários imóveis ao longo dos anos, primeiro em instalações próprias e depois em escritórios, lojas e casas para arrendar (mas não só). “O objetivo do investimento imobiliário foi o da diversificação de atividades e a possibilidade de ter uma fonte de rendimento potencialmente mais estável”, revela Carlos Correia, CEO de “A Eléctrica”, que conta em entrevista ao idealista/news os segredos para superar os desafios nos seus 100 anos de história.
Foi em fevereiro de 1924 que António Dias da Costa fundou “A Eléctrica” em Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga. Começou por distribuir energia elétrica e logo começou a diversificar negócios para a restauração e para a comercialização de automóveis, de materiais de construção e de eletrodomésticos. E foi nos anos 60 que começaram a apostar naquela que é hoje a sua atividade principal: a conceção, fabricação e montagem de soluções para a pintura e secagem. Desde o início, o imobiliário fez parte da estratégia desta empresa famalicense. “Os primeiros imóveis construídos destinavam-se à utilização pela própria atividade da empresa”, como escritórios e armazéns, refere Carlos Correia, neto do fundador e um dos 23 sócios desta empresa centenária.
"O negócio de compra e arrendamento em Famalicão é atualmente rentável, uma vez que continua a existir uma maior procura do que oferta"
Só mais tarde, no final dos anos 80 e início dos anos 90, é que começaram a apostar no imobiliário numa perspetiva de investimento, tendo em vista a venda e arrendamento de escritórios e apartamentos. E surgiu porque “na altura, havia alguma liquidez, derivada da venda da rede elétrica à EDP” e, além disso, Famalicão estava a crescer e viram a oportunidade de investir em imóveis com a inauguração de uma nova rua, explica o atual CEO de “A Eléctrica”, empresa que agora tem a sua longa histórica detalhada no livro “Cem Anos de Superação - A Eléctrica (1924-2024)”, uma obra escrita por Luís Paulo Rodrigues e publicada no início deste ano.
O imobiliário foi, assim, um setor que a centenária empresa encontrou para diversificar negócios e investir em tempos de maior liquidez. “O objetivo do investimento imobiliário foi o da diversificação de atividades e a possibilidade de ter uma fonte de rendimento potencialmente mais estável”, confessa ainda Carlos Correia. Hoje, “A Eléctrica” possui vários imóveis comerciais em Vila Nova de Famalicão, todos arrendados e com uma rentabilidade crescente. “O negócio de compra e arrendamento em Famalicão é atualmente rentável”, tratando-se de “uma atividade com nível de risco relativamente pequeno, o que é igualmente atrativo para os investidores”, afirma Carlos Correia, CEO de “A Eléctrica”, em entrevista ao idealista/news, para ler em seguida.
“Cem Anos de Superação – A Eléctrica 1924-2024” é o título do livro recentemente publicado sobre a história da empresa. Quais foram os principais desafios que "A Eléctrica" teve de superar ao longo do último século?
Os principais desafios que ocorreram na empresa ao longo dos cem anos da sua história foram devido a crises mundiais, como:
- o caso da segunda guerra mundial;
- a crises portuguesas, como no seguimento da revolução de 1974;
- à gestão do processo de sucessão entre os responsáveis da empresa;
- e à evolução das tecnologias, dos mercados e das necessidades dos clientes.
A Eléctrica começou por ser distribuidora de eletricidade em Vila Nova de Famalicão há 100 anos. Quando é que começaram a diversificar os negócios e a expandi-los além-fronteiras? E porquê?
A diversificação da atividade ocorreu logo na origem da empresa. De facto, em 1924, “A Eléctrica” já possuía atividades para além da distribuição da energia elétrica, como sendo o comércio, aluguer e reparação de automóveis.
Poucos anos mais tarde foram sendo acrescentadas outras atividades como a estação de serviço e o Restaurante Íris, a comercialização de materiais de construção, de eletrodomésticos, fabricação de bombas centrífugas e, finalmente, aquela que é nossa atividade principal desde os anos 60 que é a conceção, fabricação e montagem de soluções para a pintura e secagem.
A internacionalização dos negócios teve início nos anos 90, com a criação por parte de clientes da “A Eléctrica” de empresas noutros países. Os motivos da internacionalização foi o de não perder esses clientes e também o de permitir uma maior possibilidade de encomendas.
"O objetivo do investimento imobiliário foi o da diversificação de atividades e a possibilidade de ter uma fonte de rendimento potencialmente mais estável"
Em que momento começaram a apostar na comercialização e distribuição de materiais para a construção civil? O que vos levou a apostar neste negócio ligado à construção?
A comercialização de matérias de construção civil terá tido início logo após a segunda guerra mundial, ou seja, no final dos anos 40. Na altura, “A Eléctrica” estava focada em procurar comercializar uma vasta gama de produtos, sendo que os produtos de construção civil se enquadravam nesse leque. Os produtos de construção civil comercializados eram principalmente as telhas em fibrocimento da “Lusalite”, que tiveram origem por essa altura, e o cimento.
Como avaliam a evolução do negócio dos materiais de construção e dos preços praticados ao longo dos últimos 100 anos? Hoje, continuam a apostar neste segmento? Porquê?
Há mais de 30 anos que a empresa deixou de comercializar os materiais de construção (desde os anos 90). Como tal, não temos acompanhado a evolução desse negócio. Nessa altura surgiram em Famalicão, e também em concelhos vizinhos, grandes superfícies comerciais, com dimensões substancialmente maiores do que “A Eléctrica” possuía, e como tal com uma capacidade superior para comercialização de mais produtos.
Ao longo do tempo, a empresa também foi adquirindo imóveis em Famalicão. Como surgiu o investimento imobiliário no seio da empresa? E com que objetivo?
Os primeiros imóveis construídos destinavam-se à utilização pela própria atividade da empresa. Teve início logo em 1924, com os primeiros edifícios destinados a escritórios, armazéns e reparação de automóveis, no centro da então vila famalicense. Depois, entre os anos 30 e 40, foram construídos os edifícios para a estação de serviço e restaurante e também um pavilhão industrial para a fundição. Mais tarde foram construídos pavilhões destinados à atividade industrial e também para stand e oficina de reparação de automóveis.
O investimento especificamente imobiliário, destinado a venda e arrendamento de escritórios e apartamentos surgiu no final dos anos de 1980 e início dos anos 90. Na altura, havia alguma liquidez, derivada da venda da rede elétrica à EDP e a oportunidade de investimento no setor imobiliário surgiu na sequência da abertura da Rua Augusto Correia, junto à Câmara Municipal de Famalicão. O objetivo do investimento imobiliário foi o da diversificação de atividades e a possibilidade de ter uma fonte de rendimento potencialmente mais estável.
"Compra e arrendamento em Famalicão tem nível de risco relativamente pequeno, o que é atrativo para os investidores"
Hoje, A Eléctrica tem vários imóveis arrendados em Famalicão. Quais são e de que tipologias (escritórios, lojas, habitação…)? Como avalia a sua rentabilidade? É hoje melhor do que antes? Quais os motivos?
As frações que “A Eléctrica” tem arrendadas em Famalicão são:
- um stand e uma oficina de automóveis;
- um restaurante;
- um supermercado;
- um bar;
- uma loja comercial;
- escritórios;
- lugares de garagem.
A rentabilidade tem aumentado em função do significativo aumento do valor de venda e arrendamento de imóveis que ocorreu genericamente em todo o país e duma forma especial nas cidades, como a de Famalicão. O aumento dos valores de mercado dos imóveis tem essencialmente que ver com a lei da oferta e da procura. Existem poucos imóveis disponíveis no mercado de arrendamento, face ao que é a procura na cidade de Famalicão.
Têm no horizonte comprar mais imóveis (comerciais ou de habitação)? Se sim, quais e onde? Consideram este um negócio rentável (comprar para arrendar)? Porquê?
A vocação imobiliária da “A Eléctrica” passa mais pela rentabilização dos imóveis existentes do que pela aquisição de novos. Desta forma, não existe a perspetiva de aquisição de mais imóveis comerciais ou de habitação.
De qualquer forma, pensamos que o negócio de compra e arrendamento em Famalicão é atualmente rentável, uma vez que continua a existir uma maior procura do que oferta. Por outro lado, trata-se de uma atividade com nível de risco relativamente pequeno, o que é igualmente atrativo para os investidores.
"No caso de “A Eléctrica”, o segredo não é a alma do negócio. Pelo contrário, para nós, a alma é o segredo do negócio".
Quais são os segredos da A Eléctrica (AE) para continuar a dar cartas no mundo dos negócios em Portugal e lá fora (gestão de património imobiliário, indústria metalomecânica…)? O que é a “cultura AE”? E qual é a atual estrutura acionista da empresa (quem são os proprietários)?
No caso de “A Eléctrica”, o segredo não é a alma do negócio. Pelo contrário, para nós, a alma é o segredo do negócio. Essa alma tem a ver com a “Cultura AE”, que é um conceito difícil de definir, mas inerente à responsabilidade de se fazer parte de uma empresa que possui um estatuto e uma reputação de seriedade, honestidade e profissionalismo que nunca pode ser beliscada. Essa forma de ser e de trabalhar foi sendo transmitida dos trabalhadores mais antigos para os mais recentes, desde os primórdios até aos dias de hoje, permitindo a manutenção dos princípios basilares da empresa.
Eu diria que, fundamentalmente, a empresa conseguiu atingir os 100 anos por ter seguido dois princípios essenciais:
- o primeiro foi fazer como a formiga, e não como a cigarra, poupando nos anos de prosperidade para sobreviver nos anos de carestia;
- e o segundo foi ter capacidade de se adaptar às dificuldades e às necessidades do mercado.
Atualmente, a “A Eléctrica” continua a ser uma empresa de matriz familiar. Possui 23 sócios, sendo 22 netos do fundador António Dias da Costa e uma bisneta. A estrutura acionista está bastante dispersa, uma vez que o sócio com maior percentagem possui uma quota de 13,2% da empresa.
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