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As cicatrizes da crise nas casas dos portugueses
The Visual Hunt

As feridas abertas pela crise na vida das famílias portugueses continuam por sarar, sobretudo ao nível das condições habitacionais. Em causa estão as características físicas e sanitárias dos alojamentos em que se vive e a carga das chamadas “contas da casa” nos orçamentos familiares, sejam as faturas da água, eletricidade, gás, condomínio, seguros, saneamento, pequenas reparações, rendas ou juros relativos ao crédito da habitação principal. 

A edição 2016 do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento que o Instituto Nacional de Estatística (INE), realizada junto de mais de dez mil agregados familiares do país, revela que um dos indicadores que se agravou durante 2016, de 4,7% para 4,9%, foi a taxa de privação severa das condições da habitação, ou seja, a proporção de pessoas que vivem num alojamento sobrelotado com pelo menos um dos seguintes problemas: inexistência de instalação de banho ou duche; ou inexistência de sanita com autoclismo; ou apodrecimento das janelas ou soalho, teto que deixa passar água ou humidade nas paredes; ou insuficiente luz natural num dia de sol.

O agravamento, segundo escreve o Expresso, foi sobretudo entre as famílias, com crianças, que vivem nas cidades, e que estão no segundo quintil de rendimentos, ou seja, no grupo imediatamente acima do mais pobre. É o que se pode chamar de “classe média-baixa” ou de “famílias-sanduíche” já que têm dificuldades em pagar as contas, mas não são considerados pobres que baste para aceder aos apoios sociais.

Outro indicador que estagnou nos 10,3% desde a 2014 — tendo-se mesmo agravado entre as tais “famílias-sanduíche” — é a taxa de sobrelotação da habitação, ou seja, a proporção da população que vive em alojamentos sem divisões que cheguem para albergar todos os membros do agregado familiar. 

Fardo das despesas ainda em níveis de antes da crise

Dois indicadores que estão a recuperar, mas ainda ficam aquém dos níveis pré-crise, são a carga mediana e a taxa de sobrecarga das despesas em habitação. Estes permitem avaliar o peso das “contas da casa” no rendimento disponível das famílias, deduzidas as transferências sociais relativas à habitação.

Em 2016, aponta ainda o semanário, a carga mediana das despesas em habitação desceu para 26,5% do orçamento familiar entre a população em risco de pobreza e para 12,4% do orçamento familiar se considerada toda a população do país. Mas convém notar que, mesmo no atual contexto de mínimos nos juros da prestação da casa, este indicador está pior face ao período pré-crise, revelando a falta de margem orçamental das famílias para enfrentarem uma eventual escalada dos juros. Em 2016, a taxa de sobrecarga das despesas em habitação ainda atingia 29,1% da população em risco de pobreza e 7,5% da população total, quando em 2010 se ficava pelos 4,2%.

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