Números mostram que 2020 foi, apesar da crise pandémica, o terceiro melhor ano de sempre, segundo a JLL. E 2021 também promete.
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Imobiliário “dá luta” à pandemia: investidos 24 mil milhões de euros na compra de casa em 2020
nathsegato por Pixabay

O setor imobiliário português está a “dar luta” à pandemia da Covid-19. Os números revelados pela JLL mostram isso mesmo, comprovando que o setor está resiliente à crise pandémica. “O mercado manteve um volume de transações elevado, estimando-se 2,6 mil milhões de euros investidos em imobiliário comercial e outros 24 mil milhões de euros em compra de habitação”, revela a consultora, frisando que, em ambos os casos, trata-se do terceiro melhor ano de sempre do mercado: em 2019 foram transacionados 3,240 mil milhões de euros em imobiliário comercial e 25,1 mil milhões de euros em residencial e no ano anterior 3,356 mil milhões de euros em imobiliário comercial e 24,1 mil milhões de euros em residencial.

“O ano começou a todo o gás nos diferentes segmentos do mercado e, não fosse a proliferação da Covid-19, 2020 teria sido o melhor ano de sempre para este setor, quebrando novos recordes”, refere Pedro Lancastre, diretor geral da JLL. “(...) Depois de um segundo trimestre de pânico num quadro de absoluto desconhecimento, o terceiro trimestre foi trazendo normalidade ao setor, com as transações a acontecerem, e o quarto trimestre foi já marcado por uma maior confiança e o regresso de muitos investidores ao ativo, também porque a vacina deixou de ser uma miragem para passar a ser uma realidade”, acrescenta, citado em comunicado.

2020 à lupa, por segmento (resultados preliminares):

  • Investimento comercial

Apesar da quebra de cerca de 20% face a 2019, 2020 registará o terceiro melhor ano de que há registo em Portugal ao nível do investimento em imobiliário comercial. Para Fernando Ferreira, Head of Capital Markets da JLL, o país “mantém-se no radar dos investidores internacionais, pois continua a apresentar os fundamentais que antes os atraíam”. 

“Os escritórios foram um dos ativos mais apetecíveis, pois mantiveram uma boa procura mesmo na pandemia, ao passo que o retalho sofreu maior escrutínio por parte dos investidores, devido ao impacto da pandemia na livre circulação dos consumidores, o que provocou uma quebra na performance de muitos ativos deste segmento, especialmente no que respeita os centros comerciais. Por outro lado, o mercado residencial tem tido forte procura, incluindo os ativos para arrendamento de longo-prazo, mais conhecido por Multifamily, no qual a falta de produto acabado e pronto a funcionar, tem atrasado alguns processos de compra e venda”, aponta.

  • Habitação/residencial

Segundo Patrícia Barão, Head of Residential da JLL, “o arranque do ano foi muito promissor, com o melhor primeiro trimestre de sempre em número de unidades vendidas e em valor”. “Com o confinamento imposto no segundo trimestre, o mercado abrandou cerca de 20% face ao período homólogo. A partir do verão voltámos a sentir um aumento de procura e, desde então, nota-se um regresso paulatino do mercado, inclusive do segmento internacional. As vendas a estrangeiros continuam muito ativas, com uma procura especialmente ativa por negócios de Golden Visa”, diz, salientando que “a nova oferta está a adaptar-se às tendências que surgiram com a pandemia, trazendo para o mercado opções residenciais com espaços de trabalho e espaços exteriores, o que será muito importante para a dinâmica do mercado em 2021”.

  • Escritórios

A absorção deverá atingir os 120.000 a 125.000 metros quadrados (m2) em Lisboa, menos 35% que em 2019. De acordo com Mariana Rosa, Head of Office/Logistics Agency & Transaction Management da JLL, “a atividade no setor de escritórios é visível e os fundamentais do mercado continuam presentes em Lisboa e Porto, atraindo investidores e empresas”. “Prova disso é que as rendas mantêm os valores ao longo do ano, com a renda prime fixa nos 25 euros por m2 por mês”, afirma, deixando um aviso: “Há já muitas empresas que estão a redesenhar os seus espaços, adaptando-os à nova realidade do teletrabalho, reconvertendo áreas individuais em áreas sociais e colaborativas. Isto é especialmente importante agora que o ‘pipeline’ esperado nos últimos anos começa a vir para o mercado. Este ano foram concluídos 30.000 m2 de novos escritórios e para os próximos quatro anos esperam-se outros 660.000 m2”, conclui.

  • Industrial & Logística 

Mostrou um comportamento em contraciclo, com um aumento expressivo da procura devido ao boom do e-commerce durante a pandemia, refere a JLL. 

“Esta situação identificou novos ‘players’ e novos negócios, fazendo aumentar a necessidade de novas unidades de armazenamento, especialmente as chamadas ‘last-mile’, ou seja, as que estão mais próximas dos pontos de venda. No entanto, este é um mercado com poucas opções de oferta, sobretudo para áreas superiores a 10.000 m2, o que acaba por pressionar os níveis de ocupação”, adianta Mariana Rosa. Segundo a responsável, “os investidores estão muito atentos a este segmento e perspetiva-se que a atual escassez de instalações modernas de qualidade venha a ser colmatada com o arranque de projetos em ‘pipeline’, que só na área metropolitana de Lisboa se estima ser de 340.500 m2 nos próximos anos”.

  • Retalho

Foi um dos setores mais afetados pela pandemia, refletindo todas as limitações impostas, com impacto quer nos centros comerciais quer no comércio de rua.

Para Patrícia Araújo, Head of Retail da JLL, “no início da pandemia, o retalho sofreu muito pela diminuição de vendas devido ao confinamento imposto aos portugueses e à falta de turistas a visitar o país”, tendo a restauração sido uma das áreas mais afetadas. “Mas setores como o de decoração e bricolage, além do desportivo, beneficiaram das tendências que nasceram do ‘lockdown’. No retalho de rua, há também uma nota positiva para o comércio de conveniência e de proximidade. Os centros comerciais sofreram mais no início da pandemia (...), mas têm tido cada vez mais afluência, uma vez que a ida ao centro comercial se mostrou bastante segura, visto terem sido tomadas todas as precauções necessárias para a segurança dos seus visitantes por parte dos proprietários dos centros e das próprias marcas”, comenta.

  • Hotelaria 

As quebras na ocupação e desempenho poderão atingir os 60% a 70%, segundo os cálculos da consultora. Karina Simões, Hotel Advisory da JLL em Portugal, considera que o anúncio das vacinas e início da toma serão um marco na recuperação do setor, mas lembra que “a ativação das viagens de lazer só deverá acontecer no final do primeiro semestre do próximo ano, sendo os destinos preferenciais os países mais sustentáveis e próximos de casa”. “É possível que os destinos resort recuperem mais rapidamente, uma vez que estão associados ao segmento alto e este será o primeiro a voltar a viajar. Em Portugal, será de destacar a continuação da tendência de crescente interesse por cidades secundárias e destinos localizados em ambientes mais rurais”, afirma.

  • Development

A incerteza em torno da pandemia levou ao adiamento de algumas decisões de investimento, apesar de se ter verificado uma inversão do cenário no último trimestre do ano. Segundo Gonçalo Santos, Head of Development da JLL, “a pandemia veio trazer imprevisibilidade sobre o comportamento dos preços e das rendas, além de uma maior dilatação dos prazos de licenciamento, o que afastou temporariamente alguns investidores do mercado de promoção imobiliária e aumentou a cautela por parte dos que se mantiveram ativos”. Uma situação que “amenizou no último trimestre do ano”, conta. “Mesmo neste cenário, o segmento habitacional teve um desempenho muito bom (...). A habitação será um dos segmentos mais relevantes na promoção imobiliária no próximo ano [2021], com muita diversidade de ‘targets’, incluindo quer projetos para venda quer para arrendamento, além dos usos alternativos onde se incluem as residências de estudantes e de seniores. Mas no geral, identificamos um elevado nível de liquidez e ótimas oportunidades no mercado português, pelo que 2021 iniciará com um pipeline muito relevante de futuras operações para promoção”, conclui

Como será o imobiliário em 2021?

Para Pedro Lancastre, o mercado de investimento imobiliário, quer na vertente de aquisição para rendimento quer na vertente de promoção/desenvolvimento, vai continuar muito dinâmico em 2021. “Existe muita liquidez no mercado e, além dos investidores tradicionalmente interessados em imobiliário, as baixas taxas de juro vão direcionar novo capital para este segmento. Ao mesmo tempo, o mercado português mantém os seus fatores distintivos de atratividade”, refere. 

“2021 deverá ser outro bom ano para o setor imobiliário nacional. Portugal sai bem posicionado da pandemia face a outros congéneres europeus, mantendo, além disso, os seus atrativos intactos”
Pedro Lancastre, diretor geral da JLL 

O diretor geral da JLL considera que, no caso da habitação, a par dos usos tradicionais “estão a emergir projetos para novas ocupações como as residências seniores ou de estudantes, onde o arrendamento é o segmento alvo de investimento institucional”. 

Segundo o responsável, “2021 deverá ser outro bom ano para o setor imobiliário nacional”, sendo que “Portugal sai bem posicionado da pandemia face a outros congéneres europeus, mantendo, além disso, os seus atrativos intactos”. 

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