Agora, vendem-se menos casas (-2,8%). Mas as habitações são vendidas por valores bem mais elevados do que em 2021, diz INE.
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Comprar casa em Portugal
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O contexto de inflação que hoje se vive em Portugal fez-se logo sentir nos preços da energia e dos alimentos e depressa contagiou toda a economia. Sem surpresa, a inflação chegou ao setor da construção subindo os preços dos materiais e, por conseguinte, aterrou no mercado residencial, dando gás à subida dos preços das casas para comprar, que já estava em sentido ascendente desde o final de 2013. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), esta sexta-feira divulgados, revelam que as casas para comprar ficaram 13,1% mais caras no terceiro trimestre do ano face ao período homólogo. E a dinâmica do mercado residencial foi influenciada: no verão 2022 venderam-se menos casas do que no mesmo período do ano passado (-2,8%), mas este negócio somou 8,1 mil milhões de euros, mais 9,6%. Isto quer dizer que, agora, vende-se menos casas, mas bem mais caras do que em 2021.

“No terceiro trimestre de 2022, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços da Habitação (IPHab) foi 13,1%, 0,1 pontos percentuais (p.p.) abaixo do registo do trimestre anterior”, começa por indicar o INE no boletim publicado esta sexta-feira, dia 23 de dezembro. Já face ao trimestre anterior, os preços das casas transacionadas subiram 2,9%.

Com os preços das casas a subir, a inflação a esmagar os orçamentos familiares e os créditos habitação cada vez menos atrativos à medida que as taxas de juro escalam, as famílias veem-se menos disponíveis para comprar casa no país. E os dados do INE mostram esta realidade: entre julho e setembro de 2022, transacionaram-se 42.223 habitações, menos 2,8% face ao mesmo período do ano anterior e menos 3,2% em relação ao trimestre anterior. Esta foi “a primeira redução homóloga do número de transações desde o primeiro trimestre de 2021”, destaca o INE.

O que os dados do gabinete nacional de estatística também revelam é que quem se aventura hoje a comprar casa está a pagar valores bem mais elevados, dada a subida dos preços das habitações novas e usadas. Apesar do número de habitações vendidas ter caído no verão, o valor deste negócio atingiu 8,1 mil milhões de euros, mais 9,6% que em idêntico período de 2021.

Isto quer dizer que no verão de 2022 venderam-se menos casas, mas a preços bem mais elevados do que no verão do ano passado. Ora, as famílias gastaram, em média, cerca de 169 mil euros para comprar casa entre julho e setembro de 2021, um valor que sobe para 190 mil euros no mesmo período do ano corrente. Contas feitas, as famílias estão a pagar mais 21 mil euros, em média, para adquirir casa em Portugal.

Casas novas e usadas: como variaram os preços e as vendas?

Olhando para a tipologia das habitações, o INE revela que tanto as casas novas como as usadas ficaram mais caras entre o verão de 2022, muito embora preços das habitações existentes tenha superado o das habitações novas:

  • Casas usadas: ficaram 14,7% mais caras entre o verão de 2021 e o verão de 2022;
  • Casas novas: preços homólogos subiram 8,4%.

“Em ambos os casos, os aumentos de preços registados no terceiro trimestre de 2022 foram idênticos aos do trimestre anterior”, assinada ainda o instituto. Já entre o segundo e o terceiro trimestre do ano, as casas novas evidenciaram um aumento dos preços de 4,0%, acima da taxa de variação registada nas habitações usadas (2,6%).

No que diz respeito ao tipo de casas vendidas em Portugal (que caiu neste período), os dados mostram que as famílias continuam a apostar na compra de casas usadas, muito embora a aquisição de habitações novas esteja a crescer. Do total das transações registadas entre julho e setembro, 34.627 corresponderam a habitações usadas, traduzindo-se numa redução de 4,1% em termos homólogos. Nas casas novas, as transações aumentaram 3,3%, contabilizando-se 7.596 unidades.

O negócio de compra e venda de casas também caiu 3,2% entre o segundo e o terceiro trimestre do ano. E esta redução é justificada de semelhante modo pela queda na compra de casas usadas (-3,1%), como na aquisição de casas novas (-3,4%).

Muito embora haja o número de casas vendidas em Portugal no verão tenha diminuído, o capital movimentado por estes negócios aumentou no mesmo período. Aqui o valor alocado à compra de casas usadas (representa 76% do total) é bem superior ao aplicado à aquisição de casas novas (pesa quase 24%). “No trimestre em análise, observou-se uma variação homóloga de 9,4% no valor das transações das habitações existentes, perfazendo 6,1 mil milhões de euros e um aumento de 10,1% no valor das habitações novas, totalizando 1,9 mil milhões de euros”, destaca o INE.

Já face ao trimestre anterior, o valor das habitações transacionadas diminuiu 2,9%. A redução no valor das transações foi extensível a ambas as categorias de habitações: -2,5%, no caso das habitações usadas e -3,9%, nas habitações novas.

Comprar casa nova em Portugal
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Quem compra mais casas em Portugal? Residentes ou estrangeiros?

Foram as famílias as responsáveis pela grande maioria da compra de casas em Portugal no terceiro trimestre do ano: encabeçaram 36.647 transações de alojamentos, representando 86,8% do total. Mas o “número de transações apurado representa uma redução de 3,4% face a idêntico período de 2021 e uma taxa de variação de -4,0% relativamente ao trimestre anterior”, destaca o gabinete de estatística português.

Já o montante movimentado pelas famílias para comprar casa ascendeu a 6,9 mil milhões de euros, correspondendo a um crescimento homólogo de 8,7% e uma redução de 3,3% face ao trimestre anterior.

E quem é que compra mais casas no país? Considerando o número total de casas transacionadas por famílias e instituições, o INE diz que os compradores residentes em Portugal são os responsáveis pela grande maioria das casas vendidas (39.456 transações), bem como pelo capital movimentado (cerca de 7,1 mil milhões de euros). Mas dá nota que o número de transações caiu 3,7% em termos homólogos.

Já o número de transações de habitações levadas a cabo por compradores com domicílio fiscal estrangeiro aumentou 12,6% entre o verão de 2021 e o verão de 2022:

  • Compradores com domicílio fiscal em países da União Europeia: compraram um total de 1.486 unidades, mais 12,9% face ao período homólogo. Movimentaram um total de 420 milhões de euros;
  • Compradores com domicílio fiscal nos restantes países: foram responsáveis por 1.281 transações (+12,2%), investindo 508 milhões de euros.

Onde é que se compraram mais casas durante o verão?

A compra de casas no verão de 2022 – embora tenha caído – dinamizou o mercado residencial de norte a sul no país, mas não de igual forma. Há regiões que atraem mais as famílias e investidores a adquirir habitação, tal como mostram os dados o INE:

  • Área Metropolitana de Lisboa: aqui foram transacionadas 12.461 casas, representando 29,5% do total das transações, menos 0,6 p.p. face ao período homólogo. Esta é a segunda vez na série do INE, desde o primeiro trimestre de 2013, que esta região regista um peso relativo inferior a 30%. No que diz respeito ao investimento, foram alocados mais de 3,4 mil milhões de euros (cerca de 42,1% do total);
  • Norte: registaram-se 11.995 transações, correspondendo a 28,4% do total, menos 0,4 p.p. em termos homólogos. A compra de casas na região Norte do país movimentou 1,9 mil milhões de euros. Dentro desta região está Área Metropolitana do Porto, onde foram vendidas 6.264 casas por 1,1 mil milhões.
  • Centro: com 9.091 transações foi a região com o maior incremento de peso relativo, mais 0,9 p.p., perfazendo 21,5% do total. Estes negócios movimentaram cerca de 1,1 mil milhões de euros.
  • Algarve: aqui foram vendidas 3.666 casas no verão de 2022, representado 8,7% do total. Estas transações soaram cerca de mil milhões de euros;
  • Alentejo: nesta região foram compradas 3.087 casas (cerca de 7,3% do total), captando cerca de 352 milhões de euros.
  • Região Autónoma da Madeira: aqui observou-se um aumento de 0,8 p.p. no respetivo peso relativo, representando 2,8% do total, totalizando 1.180 transações. Foram alocados à região açoriana cerca de 229 milhões de euros.
  • Região Autónoma dos Açores: transacionaram-se 743 habitações, o que correspondeu a uma quota regional de 1,8%. Em resultado, foram investidos 108 milhões de euros em habitação.
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