Joana Resende, a mais recente embaixadora da AMPSI, reforça a importância de promover a diversidade e a inclusão na profissão.
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Joana Resende
Joana Resende, CEO da Century 21 Arquitectos e embaixadora da AMPSI em Portugal

Ajudar outras mulheres a romper barreiras no imobiliário, capacitando-as e dando-lhes ferramentas para serem ainda mais empoderadas. Este é um dos grandes objetivos de Joana Resende, CEO da Century 21 Arquitectos e a mais recente embaixadora da Associação de Mulheres Profissionais do Setor Imobiliário (AMPSI) em Portugal. Trabalha no ramo há quase uma década e acredita que o feminino pode e deve contribuir para moldar o futuro do setor. Em entrevista ao idealista/news, explica como pretende inspirar outras mulheres a ter sucesso na profissão, analisando, em paralelo, a atualidade e tendências de mercado.

Arquiteta de formação, mãe de duas filhas, e empresária desde os 27 anos, assume que a estagnação não tem lugar na sua vida. A realização, detalha, passa por um crescimento pessoal e profissional contínuo, e pela vontade de estabelecer novas metas e desafios. Como embaixadora da AMPSI espera “poder trazer para a associação mais mulheres do setor, e fazer com que sintam isto: podem ser competentes, criar uma carreira de muito reconhecimento, e não precisam de pôr em causa o resto da condição de mulher. Muito menos deixar que o façam”, salienta.

O seu papel será, por isso, o de construir pontes entre Espanha e Portugal, dando a conhecer a associação e cedendo a todas as imobiliárias portuguesas interessadas, os meios adequados ao relacionamento e cooperação entre os diferentes operadores do mercado e colaboradores de qualquer lugar do mundo. O objetivo é, por isso, fomentar as qualidades de desempenho das mulheres em qualquer cargo, e a suas capacidades de gestão e de multitasking.

mulheres no imobiliário
Foto de LinkedIn Sales Solutions no Unsplash

A responsável garante que não se escolhe as pessoas para os lugares “porque são mulheres ou homens”, mas pelas suas competências, formação ou softskills. No entanto, relembra que ainda há uma disparidade significativa quanto à presença das mulheres em cargos de liderança no setor, daí que continue a ser importante, defende, promover a diversidade e a inclusão no imobiliário através de iniciativas, associações profissionais e programas de desenvolvimento de liderança voltados para mulheres, como a AMPSI.

Como em qualquer profissão, a mediação imobiliária está repleta de desafios. E numa era em que “tudo já foi inventado”, considera que para para “vingar” é necessário aplicar o que sabemos ser as regras básicas, nomeadamente investir na formação, e estar sempre atualizado sobre tendências e desenvolvimentos do setor; concentrar-se na criação de uma ampla rede de contactos; criar uma marca pessoal forte; e “estar preparado para lidar com rejeições e fracassos temporários, aprendendo com eles e seguir em frente”.

Ao longo da entrevista, a CEO da C21 Arquitectos, avalia o atual estado da habitação em Portugal e o programa Mais Habitação, analisando os principais desafios que o setor imobiliário enfrenta, e como perspetiva a sua evolução no atual contexto económico e financeiro.

Há quanto tempo é que a Joana está ligada ao ramo imobiliário?

Faz precisamente em junho oito anos que assinei o contrato de franquia com a Century 21 Portugal, contrato esse que me abria as portas a esta atividade. Até esse dia, o ramo imobiliário era para mim uma área totalmente desconhecida. Sou arquiteta de formação, exercia já há cerca de 10 anos, e não estava nos meus planos abraçar de uma forma tão plena outra atividade. Mas desde que iniciei a formação na marca, até abrir as portas da primeira loja (em Rio Tinto), em outubro de 2015, a atividade imobiliária tornou-se a minha única profissão. E confesso: não há outra tão apaixonante quanto esta. Ver o meu projeto crescer da forma como cresce, uma equipa altamente profissional, com um serviço de enorme qualidade a operar neste mercado, faz-me acreditar que esta atividade será cada vez mais profissionalizada e respeitada.

Na sua biografia podemos ler que é arquiteta e mãe de duas filhas. Como se encontra o equilíbrio certo entre a vida pessoal e profissional? 

Encontrar o equilíbrio certo entre a vida pessoal e profissional pode ser um desafio para nós mulheres. No entanto, com organização, flexibilidade e apoio, é possível criar uma harmonia saudável entre essas duas esferas. Acho que é fundamental estabelecer prioridades claras e realistas. Reconhecer que nem tudo pode ser feito ao mesmo tempo é essencial. Temos de definir metas alcançáveis tanto no trabalho como em casa, permitindo que nos concentremos no que é mais importante em cada momento.

Algo que desde que sou mãe também tenho feito com mais rigor é estabelecer limites claros entre o trabalho e a vida pessoal. Definir horários específicos para o trabalho e não levar tarefas para casa. Da mesma forma, quando estou em casa, dedico-me inteiramente à família, reservando tempo de qualidade para estar presente e desfrutar dos momentos com as minhas filhas.

Acho que é fundamental estabelecer prioridades claras e realistas. Reconhecer que nem tudo pode ser feito ao mesmo tempo é essencial. Temos de definir metas alcançáveis tanto no trabalho como em casa

Tenho também um apoio enorme dos meus pais, a minha rede, que foram (e são) os meus maiores exemplos de vida, e a quem entrego também grande parte do dia a dia das minhas filhas, naqueles horários em que não me é possível estar.

Acho que o segredo é mesmo estar aberta a ajustes e ser gentil comigo mesma. Aceitar que haverá momentos em que o equilíbrio será mais desafiador de alcançar, mas ter a certeza que estou a fazer o meu melhor. Celebrar as minhas, por menores que sejam, e lembrar-me que ser uma mãe profissional é uma jornada única, repleta de ensinamentos e momentos preciosos. E que a todo o momento, estou a ser um exemplo para as minhas filhas.

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Foto de MART PRODUCTION no Pexels

“Estagnação não tem lugar na minha vida, e a minha ambição é crescer sempre”. Em que medida? 

Sou uma mulher muito realizada. Mas essa realização passa por um crescimento pessoal e profissional contínuo. A ambição de que falo é a de crescer, de me impulsionar a estabelecer novas metas desafiadoras, e novas formas de me melhorar pessoal e profissionalmente. Quando comecei esta jornada com a Century 21 Arquitectos a minha equipa contava apenas com 5 consultores, e volvidos quase 8 anos, somos uma equipa de mais de 100 pessoas, com duas lojas, e com um staff de 14 pessoas, a prestar o melhor serviço ao consultor e ao cliente.

Nada disto seria possível se não houvesse essa ambição, que me leva a abraçar os desafios e a encará-los como ensinamentos. Que em vez de temer ou evitar situações desconfortáveis, vou além da zona de conforto, e trago novas habilitações, conhecimentos e experiências. E tudo isto em conjunto com a equipa, que é quem me dá a força e o impulso necessário para o fazer. Não vamos parar por aqui. Não o podemos fazer. Vamos continuar a fazer crescer a marca Century 21 Arquitectos, naquilo que nos desafiarem e fizerem sentido para nós, sempre como equipa.

Foi convidada por Ana Luengo, presidente da AMPSI, para ser embaixadora desta comunidade em Portugal. O que é que este convite significou para si? 

Fui apresentada a Ana Luengo pelo Sr. Joaquim Rocha de Sousa, Charmain da Century 21 Ibéria, para juntamente com a minha colega Isabel Augusto, da Century 21 Rio (Almada), sermos embaixadoras da associação em Portugal. A AMPSI é a maior associação imobiliária que existe, que com convénios com associações internacionais, agrupa 300 mulheres do setor. Ora, fiquei muito lisonjeada com o convite, porque para além de sentir que o meu trabalho faz diferença e marca posição no setor, posso ajudar ainda mais na profissionalização, porque tenho mais uma forma de elevar a minha voz, e de trocar mais experiências que ajudem as consultoras imobiliárias a serem ainda mais empoderadas.

Tenho mais uma forma de elevar a minha voz, e de trocar mais experiências que ajudem as consultoras imobiliárias a serem ainda mais empoderadas.

Quais são os objetivos da AMPSI e qual será o seu papel enquanto embaixadora no país? 

Os objetivos prioritários da AMPSI são a defesa e o desenvolvimento dos interesses profissionais de todas as associadas em qualquer parte do mundo, contribuindo para a promoção e capacitação da mulher, no âmbito profissional e social do setor imobiliário, e facilitando em pelo menos a formação e capacitação técnica das suas associadas. O meu papel, enquanto embaixadora de Portugal, consiste em construir pontes entre Espanha e Portugal, dando a conhecer a associação e cedendo a todas as imobiliárias portuguesas interessadas, os meios adequados ao relacionamento e cooperação entre os diferentes operadores do mercado e colaboradores de qualquer lugar do mundo. Desta forma, criamos sinergias profissionais que nos permitem alcançar colaborações internacionais e fortalecer o papel das mulheres no setor imobiliário para que continuem a subir para alcançar cargos de gestão relevantes.

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Foto de Ketut Subiyanto no Pexels

Quando é que esta associação foi criada? E qual a sua importância para todas as mulheres que trabalham no setor? 

A AMPSI foi fundada em 2013. Quando falei com a Ana Luengo, percebi que uma das maiores preocupações da associação vem do facto de que 68% do setor é feminino, mas quase não há mulheres em cargos de gestão superior. Em Portugal, essa questão é ainda muito vincada, e a verdade é que se formos a olhar para as empresas, associações, fundos do setor, é residual (quase inexistente) o número de mulheres nos lugares de chefia. Uma associação com este formato, ajuda a fomentar as qualidades de desempenho das mulheres em qualquer cargo, e a suas capacidades de gestão e de multitasking. A partilha que existe dentro desta associação, quer de formação, de experiências, de motivação, funciona como mais uma ajuda na motivação diária da profissão, bem como na profissionalização necessária. Eleva por isso as mulheres, permitindo exercer a sua profissão com todas as ferramentas e capacidades necessárias à melhor performance da atividade, garantindo que podem a qualquer momento exercer qualquer papel dentro do ramo, por muito exigente que seja.

Como pretendem ajudar e inspirar outras mulheres a ter sucesso no imobiliário? 

Como mulher empresária que sou desde os meus 27 anos, é certo que muitas das dificuldades ou condicionantes que a AMPSI constata e refuta não foram por mim sentidas. Talvez por isso, e pela educação e valores que os meus pais me transmitiram, acabo por aplicar no meu dia a dia. A minha empresa conta neste momento com 115 colaboradores, sendo que se dividem em 50% do género feminino, e 50% masculino. Na estrutura da empresa, ou seja, no staff que dá apoio à equipa comercial, somos 14 colaboradores, em que 78% são mulheres. Não o faço de forma deliberada, mas sim porque olho para os géneros de forma igualitária. Não escolho as pessoas para os lugares porque são mulheres ou homens, mas pelas suas competências, formação ou softskills. Não me condiciona se uma funcionária vai-se ausentar porque vai ter bebé (eu também sou mãe, e uma mãe muito presente na vida das minhas filhas), se tem de faltar porque o filho está doente (também o faço), ou porque tem de dar apoio aos seus. Uma mulher faz isso, e ao mesmo tempo é tão competente quanto um homem.

Como embaixadora da AMPSI espero poder trazer para a associação mais mulheres do setor, e fazer com que sintam isto: podem ser competentes, criar uma carreira de muito reconhecimento, e não precisam de por em causa o resto da condição de mulher. Muito menos deixar que o façam.

Quais são as linhas “mestras” a seguir para quem quiser vingar na profissão? 

O mais importante é saber que na mediação imobiliária já tudo foi inventado, e que o que podemos fazer para vingar na profissão é aplicar o que sabemos ser as regras básicas.  Acho que em primeiro lugar é fundamental investir na formação, e estar sempre atualizado sobre tendências e desenvolvimentos do setor. De seguida, concentrar-se na criação de uma ampla rede de contactos, já que a construção de relacionamentos sólidos é crucial para o sucesso como consultor imobiliário.

Por outro lado, o consultor deve destacar-se, criando uma marca pessoal forte. Desenvolver uma identidade visual consistente, com ferramentas digitais profissionais e utilizando estratégias de marketing eficazes para promover seus serviços. Duas atitudes fundamentais são também persistência e resiliência. A profissão de pode ser desafiadora e competitiva, é essencial ser persistente e resiliente, especialmente em momentos de dificuldade. É necessário estar preparado para lidar com rejeições e fracassos temporários, aprendendo com eles e seguir em frente.

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Foto de RDNE Stock project no Pexels

Por fim, e muito importante, ter ética profissional. Manter os mais altos padrões éticos em todas as suas interações e transações. A integridade e a confiabilidade são características valorizadas no setor imobiliário e contribuem para a construção de uma reputação sólida e duradoura.

Quantas mulheres trabalham no imobiliário e que percentagem ocupam do total? E em cargos de liderança?

É importante destacar que o setor imobiliário tem sido historicamente dominado por homens, especialmente em cargos de liderança. No entanto, nas últimas décadas, houve um aumento gradual na representação das mulheres neste setor e um esforço para promover a igualdade de género. Embora não seja possível fornecer números específicos, é encorajador notar que cada vez mais mulheres entram para o setor imobiliário e vão conquistando posições de destaque.

Quanto à presença das mulheres em cargos de liderança no setor, também há uma disparidade significativa. Em geral, as mulheres ocupam menos cargos de liderança do que os homens. As barreiras e desafios enfrentados pelas mulheres para avançar para cargos de liderança incluem questões de desigualdade de género, falta de representatividade e estereótipos arraigados.

Quanto à presença das mulheres em cargos de liderança no setor, também há uma disparidade significativa. Em geral, as mulheres ocupam menos cargos de liderança do que os homens.

De acordo com informações da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), cerca de 40% dos profissionais da área de mediação imobiliária em Portugal são mulheres. Essa percentagem indica, ainda assim, um aumento na participação feminina no setor ao longo das últimas décadas. E muito se deve também a esforços para promover a diversidade e a inclusão no setor imobiliário que têm sido realizados por meio de iniciativas, associações profissionais e programas de desenvolvimento de liderança voltados para mulheres, como a AMPSI.

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Foto de Amy Hirschi no Unsplash

Como avalia o atual estado da habitação em Portugal e o programa Mais Habitação, em termos gerais?

Segundo o estudo que a Century 21 publicou recentemente sobre a Acessibilidade à Habitação em Portugal, o país não tem um problema geral de acesso à habitação: quase 70% da população tem uma situação estabilizada; são proprietários e mais de 90% não têm encargos com a sua habitação ou têm um encargo inferior a 500 euros mensais.

O grande problema é para quem entra agora no mercado: os jovens e famílias que estão a arrendar casa, bem como as necessidades da classe média e a oferta de habitação para classe média. Se olharmos para todo o território, temos 60% da população dentro deste escalão que consideramos classe média e apenas 42% da oferta está direcionada para o poder de compra destas famílias. Em Lisboa, por exemplo, temos 49% da população enquadrada nos escalões do rendimento da classe média para 5% da oferta disponível ajustada ao seu rendimento.

O grande problema é para quem entra agora no mercado: os jovens e famílias que estão a arrendar casa, bem como as necessidades da classe média e a oferta de habitação para classe média.

Já para um jovem, que quer ter a sua primeira casa, o desafio prende-se com a questão da subida das taxas de juro, com o aumento da inflação e a diminuição do poder de compra. Tem de ter o valor mensal para pagar a casa, mas também tem que ter uma poupança significativa que permita dar a entrada da casa.

Com a devida distância, uma vez que ainda aguardamos mais informações quanto às medidas concretas do Programa Mais Habitação, estas estão alicerçadas em 5 eixos fundamentais: o aumento da oferta de habitação, simplificação de processos de licenciamento (para aumento de construção, logo mais fogos), aumento de casas no mercado de arrendamento, e combate da especulação e proteção das famílias.

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Foto de LinkedIn Sales Solutions no Unsplash

Entre as medidas anunciadas, penso que os apoios diretos a rendas e a simplificação dos licenciamentos terão um impacto direto, podendo vir a influenciar o panorama habitacional a médio prazo. Com efeito, a simplificação dos processos para os promotores (bem como algum alívio na carga fiscal), seria uma grande alavancagem quer para aumentar substancialmente a oferta de fogos, bem como um incentivo à nossa economia. Não podemos esquecer que foi precisamente a atividade da construção civil a mais resiliente em tempos de pandemia.

Quais os principais desafios que enfrenta o setor imobiliário atualmente e como perspetiva a sua evolução no atual contexto económico e financeiro?

O setor imobiliário continua a viver um período de atividade e dinamismo, apresentando tanto grandes oportunidades como incertezas. Atualmente, o tempo médio de venda de propriedades habitacionais aumentou, mas os preços mantêm-se estáveis tanto para imóveis novos quanto para usados.

É provável que esta estabilidade persista, uma vez que o mercado continua a enfrentar um grande desafio: a escassez de opções disponíveis tanto para compra quanto para arrendamento.

Por outro lado, assistimos a uma comunicação social alarmista e em desinformação. A verdade é que, ao contrário do que assistimos em 2008/2011 não estamos perante uma crise. Aliás, as famílias não estão em endividamento excessivo, há, pois, disponibilidade de financiamento e o risco de incumprimento devido ao aumento das taxas de juros é significativamente menor do que na última crise financeira. Isso ocorre porque os critérios para concessão de crédito foram drasticamente modificados desde então, visando garantir maior solidez e sustentabilidade ao sistema.
A subida das taxas de juro irá sim provocar uma alteração de critérios na procura de habitação dos portugueses, redefinindo valores a despender, zonas de procura, tipologias, etc.

A grande questão foi e será a falta de stock de habitação social em Portugal, principalmente nas áreas de grande tensão de procura. Aqui reside o grande desafio: é necessário reduzir os custos associados, a fim de permitir que promotores e construtores possam disponibilizar rapidamente novas construções adequadas a uma parte da população que não está a ter resposta pela oferta atual do mercado imobiliário.

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