A comunidade e os negócios LGBTI+ atraem investimento para Portugal. E o imobiliário não é exceção.
Comentários: 0
bairros LGBTI+
Pexels

Junho é conhecido como o mês do orgulho LGBTI+, em que se reforça a importância de promover maior inclusão em diferentes esferas e setores da sociedade. A comunidade dá cada vez maior impulso aos negócios, e o imobiliário não é exceção – há um nicho consolidado que atrai investimento e faz mexer o mercado. Em todos os países, de resto, há zonas que se destacam pela forma como “abraçam” a diversidade e, em Portugal, o Príncipe Real afirmou-se desde sempre como bairro inclusivo. Mas já tem concorrência: entre Arroios e Margem Sul (com Almada e Caparica), até Marvila/Braço de Prata que, muito em breve, poderá assumir-se como zona emergente, onde as pessoas LGBTI+ sentem que podem viver com respeito e segurança. À semelhança de outros anos, o idealista/news analisou as tendências e evolução de preços, para saber quanto custa viver numa zona LGBTI+ friendly.

O Príncipe Real, localizado na freguesia da Misericórdia, em Lisboa, continua a ser uma zona LGBTI+ por excelência, até porque muitos dos principais e mais icónicos negócios frequentados pela comunidade continuam a localizar-se nesta zona. No entanto, Portugal tornou-se uma “casa apetecível para viver” e há cada vez mais locais a assumirem-se como novos destinos de investimento, tal como explicou João Passos, consultor e responsável pelo projeto LisboaPride, numa entrevista recente ao idealista/news.

O responsável relembra que a guerra na Ucrânia “reavivou questões essenciais que há muito não eram questionadas pelas pessoas e às quais a comunidade LGBTI+ é particularmente atenta quando procura um lugar para viver: segurança, liberdade, tolerância política e estabilidade governamental, salvaguarda da integridade física, moral e emocional”. Fatores que, diz, “fazem com que a comunidade internacional olhe cada vez mais para Portugal como uma casa apetecível para viver".

O consultor imobiliário aponta um crescimento da procura nas zonas limítrofes dos grandes centros urbanos e coloca a ênfase na margem sul, que “cresce cada vez mais como preferência”, por estar próxima da capital e de uma extensa zona de praias. Como nova tendência de mercado e zona ‘up and coming’ destaca Marvila/Braço de Prata, “bastante convidativa num futuro próximo à comunidade, pelo seu rápido crescimento e desenvolvimento urbanístico, cultural, gastronómico etc., e pelo mindset qualidade/liberdade que se faz sentir no movimento de desenvolvimento dessa zona”.

bairros arco-íris
Foto de Karolina Grabowska no Pexels

Bairros arco-íris 2023 em Portugal

Apesar de estagnado em matéria de Direitos LGBTI+ face a outros países, Portugal ocupa, ainda assim, a 11.ª posição do ranking anual da ILGA Europa, que analisa o panorama legislativo, político e social de 49 países em áreas como igualdade, família, crimes de ódio e liberdade de afirmar a identidade de género e orientação sexual. É um país onde, apesar de tudo, as pessoas sentem que podem ocupar o espaço público, independentemente, da sua identidade ou expressão de género. Consegue atrair turismo, investimento, e prepara-se para receber em 2025 o EuroPride, o maior evento de celebração do Orgulho das identidades LGBTI+ na Europa.

Ana Aresta, presidente da ILGA Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo, alertou, também recentemente em entrevista ao idealista/news, que é preciso “desbloquear o quanto antes os processos legislativos e governamentais que reforçam a proteção das pessoas LGBTI+ e das suas famílias”. Para a responsável, “não basta proclamar intenções”, uma vez que “a igualdade também precisa de investimento”.

Ainda assim, apesar do caminho que falta percorrer, o país é visto já cada vez mais como um destino LGBTI+ friendly e, à boleia desta dinâmica, prospera a procura por imobiliário, seja para comprar ou arrendar e fixar residência, como segunda habitação ou investimento. Neste sentido, e no âmbito do Pride 2023, o idealista/news analisa desde a oferta e procura aos preços nos bairros arco-íris portugueses.

Príncipe Real, o para sempre bairro arco-íris

O bairro do Príncipe Real, localizado na freguesia da Misericórdia, em Lisboa, reúne alguns dos melhores restaurantes, lojas, jardins e mercados da cidade - e até já foi eleito como um dos bairros mais ‘cool’ do mundo.  Está repleto de coisas para ver e fazer, e continua ser um dos destinos mais LGBTI+ friendly do país. Quanto custa viver nesta zona?

Dados do idealista/data até maio de 2023, face ao período homólogo, mostram que esta freguesia registou um aumento da procura de casas para comprar (+27%), verificando-se no último ano, porém, uma quebra no volume da oferta (-29%). No mercado de arrendamento, observa-se uma tendência inversa: uma subida da oferta, e uma quebra na procura. Comprar ou arrendar no Príncipe Real está mais caro que há um ano: os preços subiram em ambos os mercados. O valor do m2 na compra e venda está nos 6.416 euros (+5%), e no arrendamento nos 26,2 euros (+47%).

diversidade
Foto de Thirdman no Pexels

Face à proximidade geográfica à freguesia da Misericórdia, importa destacar igualmente a freguesia de Santo António, que é também uma das mais caras para se viver.

Evidencia-se, nesta zona, uma quebra na oferta de casas para venda e arrendamento com variações de -26% e -32%, respetivamente. A procura de casa para comprar, por sua vez, aumentou, observando-se uma variação de 12%. Já no que diz respeito ao arrendamento, os dados mostram uma descida (-9%). Os preços apresentam subidas em ambos os casos e comprar uma casa em Santo António tem agora um custo mediano de 854.419 euros; já para arrendar será preciso desembolsar em torno de 2.675 euros por mês.

Multicultural e diverso: assim é Arroios

De há uns anos para cá, o eixo Almirante Reis, especialmente a zona de Arroios, começou a destacar-se no mapa dos bairros mais inclusivos, “devido à diversidade de espaços e culturas”, tal como adianta João Passos. A freguesia, aliás, assume-se como “Lugar de todos” e, em 2019, foi escolhida para receber a Casa da Diversidade no Mercado do Forno do Tijolo, inaugurado nos anos 50. 

Ao nível da procura podemos ver que a freguesia de Arroios apresenta dinamismo quer para o mercado de compra e venda (+23%), quer para o arrendamento (+28%). Quanto ao stock disponível, em ambos os mercados verificou-se no último ano uma quebra, -30% no mercado de compra e venda e -26% no arrendamento. Comprar uma casa nesta freguesia tem um custo mediano de 484.443 euros, já as rendas rondam os 1.703 euros mensais. Em ambos os casos, os preços aumentaram. Ainda assim, continuam menos elevados que no Príncipe Real.

bandeira LGBTI
Foto de Pavel Danilyuk no Pexels

Almada e Caparica: preços mais baixos e próximo das praias

A pouco distância de Lisboa, destaca-se a margem sul, com preços mais baixos e proximidade de praias. Almada e Caparica continuam a assumir-se, por isso, como zonas emergentes, até porque como explica o consultor imobiliário João Passos, “quando uma zona em particular começa a receber uma comunidade como residente, no geral, o que acontece é que a vida comercial, cultural e social associada à comunidade começa também a desenvolver-se e, consequentemente, a convidar mais membros da comunidade a sentir-se em casa nessa zona”.

O responsável relembra que a margem sul, acaba por “trazer ar livre a quem procura mais tranquilidade, privacidade e proximidade com a natureza e a praia, bem como casas com uma outra generosidade em termos de metros quadrados e espaços verdes”. “Esta zona é, por isso, muito atrativa para a feição mais madura da comunidade e não só para a feição mais jovem”, refere.

A procura de casas para arrendar em Almada é bem evidente (+116%), mas o stock disponível não acompanha essa tendência. O volume de oferta caiu quer no arrendamento (-22%), quer no mercado de compra e venda (-5%). Comprar uma casa nesta freguesia tem um valor por m2 a rondar os 2540 euros – neste caso, os preços registaram uma variação anual de 9%. Arrendar casa também está mais caro que há um ano, e será preciso pagar em torno de 959 euros mensais para viver nesta zona.  

Quem estiver à procura de casa para comprar na Caparica e Trafaria terá de gastar em torno de 371.654 euros - o preço registou uma variação de 17%, face a período homólogo. Ainda nesta freguesia, destaca-se a evolução do mercado de arrendamento, cujo preço apresenta uma variação de 101%. Para arrendar uma habitação nesta zona será preciso pagar agora em torno de 1.501 euros mensais.  

praias em Portugal
Foto de Chedi Tanabene no Pexels

Marvila: uma zona LGBTI+ em ascensão

Perto do rio e do centro da cidade, Marvila, uma zona industrial e fabril do século XIX, ganhou vida e começou a assumir-se desde há uns anos como um bairro ‘trendy’, multiplicando-se os projetos que estão a ajudar a revitalizar esta freguesia lisboeta. Um dos mais famosos, como se se tratasse de uma autêntica “vila à beira-rio”, é o empreendimento Prata Riverside Village, estando equipado com espaços comerciais e de serviços, ciclovia e parques infantis capazes de servir não só a comunidade de residentes, mas também de atrair visitantes de outros bairros lisboetas. Marvila está a “mexer” e a crescer, e é tida para João Passos como uma zona “up and coming” que considera poder ser “bastante convidativa num futuro próximo” à comunidade LGBTI+.

Prata Riverside Village
Prata Riverside Village/ Ricardo Oliveira Alves

Face há um ano, em Marvila há menos stock disponível de casas quer para comprar (-27%), quer para arrendar (-16%). O preço por m2 para comprar está nos 3.833 euros, registando-se uma variação anual de 12%; e para arrendar nos 16,3 euros (+ 37%). Segundo os dados, comprar casa em Marvila tem um custo mediano de 399.428 euros; já para arrendar, o valor ronda os 1.523 euros mensais.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta