
O contexto económico marcado pela perda de poder de compra devido à inflação e juros no crédito habitação altos impactaram a compra e venda de casas ao longo de 2023. É isso mesmo que refletem os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) esta sexta-feira divulgados: foram vendidas 136.499 habitações em 2023, menos 18,7% face ao ano anterior, sendo este o “registo mais baixo desde 2017”. Mesmo perante a diminuição dos negócios, os preços das casas subiram 8,2% em 2023, tendo apenas abrandado o crescimento face ao ano anterior.
“Em 2023, foram transacionadas 136.499 habitações, o que representa uma redução de 18,7% relativamente a 2022 e o registo mais baixo desde 2017”, começa por referir o INE no boletim publicado esta sexta-feira, dia 22 de março. A venda de casas durante o ano passado movimentou um total de 28 mil milhões de euros, menos 11,9% que em 2022.
O que salta à vista é que, em 2023, houve uma redução “particularmente intensa” na venda de casas usadas, em comparação com a transação de casas novas, destacam ainda:
- Casas usadas: foram vendidas um total de 108.380 habitações, menos 21,4% face ao ano anterior. Estas vendas movimentaram 20,1 mil milhões de euros (-16,5%);
- Casas novas: foram transacionadas 28.119 novas habitações, menos 6,1% que em 2022. Já em termos de valor observou-se um aumento 2,6%, fixando-se nos 7,9 mil milhões de euros.
Também no último trimestre do ano passado foram transacionadas 34.126 habitações, correspondendo a uma redução homóloga de 11,4%. Esta queda na venda de casas foi menos acentuada face ao trimestre anterior (-18,9%), dando, assim, sinais de recuperação de mercado numa altura em que os juros do crédito habitação começaram também a descer ligeiramente, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter deixado as suas taxas de juros diretoras inalteradas. Também o valor das habitações transacionadas caiu 2,6%, totalizando 7,2 mil milhões de euros.
Este arrefecimento do mercado de compra e venda de casas refletiu-se nos preços da habitação, que continuaram a subir, mas a menor ritmo. Isto porque, apesar da procura ter descido, continua a ser bem superior à oferta de habitação disponível no mercado. Em concreto, os preços das casas cresceram 8,2% em 2023, menos 4,4 pontos percentuais (p.p.) que variação registada em 2022. E o preço das casas usadas tive um maior aumento (8,7%) que o preço das casas novas (6,6%).
A nível trimestral, a variação homóloga dos preços das casas no nosso país foi de 7,8%, 0,2 p.p. acima do trimestre anterior. "Por categorias, tal como sucedeu nos demais trimestres do ano, o aumento dos preços foi superior nos alojamentos existentes comparativamente aos alojamentos novos, 8,1% e 6,9%, respetivamente", explica o instituto.
Famílias compram menos casas em 2023 – mas estrangeiros fora da UE estão em contraciclo
A esmagadora maioria das casas vendidas em 2023 foram adquiriras por famílias (85,5% do total). Mas compraram menos casas face ao ano anterior: “O setor institucional das famílias adquiriu 116.752 habitações em 2023, por um total de 23,5 mil milhões de euros, o que representa uma redução anual de 19,8% em número e 13,8%, em valor”.
O que também salta à vista é que foram os compradores residentes em Portugal que mais se retraíram na hora de comprar casa durante o ano passado. Já os compradores que vivem fora das fronteiras do espaço europeu estão em contraciclo, avançando com mais aquisições:
- Domicílio fiscal no Território Nacional: vendas de casas diminuíram 19,8% relativamente a 2022, para um total de 126.108 unidades. “Este registo representa 92,4% do número total de transações, o peso relativo mais baixo da série iniciada em 2019”, refere o instituto
- Domicílio fiscal na União Europeia: foram compradas 5.025 casas, menos 13,5%;
- Domicílio fiscal fora da UE: observou-se um aumento de 9,3% nas aquisições por estes compradores estrangeiros, para um total de 5.366 casas.

Quantas casas foram vendidas em cada região?
O arrefecimento da venda de casas em 2023 foi sentida em todas as regiões do país, com a Península de Setúbal, Algarve e os Açores a registar as maiores quedas nas vendas (na ordem dos 20%). Já o Centro “foi a região que apresentou a menor contração do mercado imobiliário no último ano (de -11,8%)”, diz o INE:
- Grande Lisboa: aqui foram transacionadas 25.854 casas, representando 18,9% do total das transações. No que diz respeito ao investimento, foram alocados um total de 9 mil milhões de euros (cerca de 32,3% do total);
- Península de Setúbal: no ano passado foram vendias 12.738 casas (9,3%), com um investimento de quase 2,6 mil milhões de euros (9,1%);
- Norte: registaram-se 39.715 transações, correspondendo a 29,1% do total. A compra de casas na região Norte do país movimentou 6,6 mil milhões de euros (23,7%). Dentro desta região está a Área Metropolitana do Porto, onde foram vendidas 20.709 casas por 4,2 milhões de euros;
- Centro: contabilizou 21.406 transações, 15,7% do total. Estes negócios movimentaram cerca de 2,5 mil milhões de euros (8,9% do total);
- Oeste e Vale do Tejo: contabilizaram-se 12.734 transações (9,3%), por 1,7 mil milhões de euros (6,2%);
- Algarve: aqui foram vendidas 11.402 casas, representado 8,4%. Estas transações somaram cerca de 3,6 mil milhões de euros (12,9%);
- Alentejo: nesta região foram compradas 6.966 casas (5,1% do total), captando cerca de 798 milhões de euros (2,8%);
- Região Autónoma da Madeira: aqui totalizaram-se 3.299 transações (2,4% do total). Foram alocados à região madeirense cerca de 747 milhões de euros em 2023 (2,7%);
- Região Autónoma dos Açores: transacionaram-se 2.385 habitações, o que correspondeu a uma quota regional de 1,7%. Em resultado, foram investidos quase 351 milhões de euros em habitação (1,3% do total).
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