É preciso combinar mais habitação, escritórios, lojas e serviços, diz responsável da Nhood, em entrevista ao idealista/news.
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Cidades dos 15 minutos
Galeria Comercial de Alverca | Carlos David, Head of Development da Nhood Nhood

“As cidades e os edifícios não são apenas para serem edificados ou vendidos, são feitos para serem vividos”. É tendo por base esta premissa que se enquadra o conceito da Cidade dos 15 Minutos, que repensa a forma como as pessoas se deslocam para definir novas formas de viver, trabalhar e de estar nas cidades. E “essa transformação sustentável das cidades está interligada ao desenvolvimento de projetos de uso misto, não apenas no desenvolvimento de habitação”, considera Carlos David, Head of Development da Nhood, em entrevista ao idealista/news.

As formas de viver estão em constante evolução, acabando por moldar a procura de casa, seja para comprar ou arrendar. A proximidade a espaços verdes, serviços, transportes públicos, escolas e hospitais são aspetos que pesam cada vez mais na hora de escolher a casa ideal para viver. E é por isso que na hora de regenerar as cidades, o conceito da Cidade dos 15 Minutos encaixa, pois “oferece uma visão holística do setor imobiliário”, diz o responsável. Assim, os serviços essenciais para viver estão a um passo de 15 minutos das famílias.

"Os modelos de gestão do território em Portugal têm de evoluir, mas este processo tem sido genericamente muito lento"

Para que isso seja possível, é preciso construir mais projetos imobiliários de uso misto, que combinam habitação, escritórios e retalho, por exemplo. E ainda uma maior colaboração público-privada para agilizar processos de aprovação destes projetos, defende. “Ao construirmos com enfoque nos usos mistos, nas diferentes funções sociais, criativas e de trabalho de cada espaço, estamos a promover o bem-estar das comunidades e a influenciar o futuro das cidades, mais resistentes e sustentáveis”, sustenta o Head of Development da Nhood, que está em Portugal desde 2021.

É com este objetivo que a empresa está a contribuir para regenerar as cidades portuguesas. Uma delas é Alverca, que se situa no concelho de Vila Franca de Xira (na Grande Lisboa). Aqui, estão a transformar uma galeria comercial em novas lojas e serviços e as Torres de Alverca em mais de 100 casas para arrendar. “Estamos ainda a desenvolver projetos de transformação nas cidades da Maia, Famalicão e no Porto, tendo todos eles em comum o objetivo de regenerar e transformar espaços urbanos para benefício da comunidade”, revela Carlos David na entrevista, que pode ser lida em baixo.

Casas novas em Lisboa
Cinco District, Lisboa The Edge Group

A Nhood chegou a Portugal em 2021 tendo previsto construir 1.700 casas e investir 500 milhões de euros até 2025. Como está a correr o investimento imobiliário até agora?

Criar, revitalizar e transformar locais e cidades para uma nova visão urbana, que combine valor, sustentabilidade e comunidade é a missão da Nhood. Como tal, o nosso foco tem sido em desenvolver projetos de uso misto que se alinhem com esta nossa visão. Devido à desaceleração do mercado causada pela pandemia, os níveis de investimento inicialmente previstos estão a ser revistos. No entanto, estamos a acelerar nos nossos projetos de desenvolvimento, e já vemos resultados efetivos. Pretendemos reforçar esta ambição nos próximos anos.

"O futuro do urbanismo passa pela cocriação de bairros multifuncionais, sustentáveis e abertos à comunidade"

Como é que as cidades e os bairros se estão a adaptar aos novos modos de vida em Portugal? O que é preciso fazer mais por parte do Governo, autarquias e privados?

O futuro do urbanismo passa pela cocriação de bairros multifuncionais, sustentáveis e abertos à comunidade. Nesse sentido, a colaboração público-privada desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de cidades inteligentes, permitindo que governos e empresas aproveitem os seus recursos e conhecimentos complementares para criarem ambientes urbanos mais eficientes, sustentáveis e adaptados às necessidades da população. É importante que essa colaboração seja baseada em objetivos partilhados e transparência, mas acima de tudo na agilidade dos processos de aprovação. É necessário por parte do Governo a promoção de iniciativas para este aumento de agilidade, mas não basta promover políticas, há que monitorizar os resultados e garantir que existem meios nas autarquias, bem como formas de operacionalizar estas mudanças estruturais.

Lojas novas na Maia
Galeria Comercial Maia Nhood

O conceito da Cidade dos 15 Minutos é uma das vossas inspirações. Porquê? Como é que têm contribuído para que haja maior conexão entre habitações e as cidades?

O conceito da Cidade dos 15 Minutos foca-se no equilíbrio entre os diferentes eixos da vida dos cidadãos, num binómio entre mobilidade e acessibilidade, permitindo repensar como as pessoas se movem e definir uma nova forma de viver, consumir, trabalhar e estar na cidade. Essa transformação sustentável das cidades está interligada ao desenvolvimento de projetos de uso misto, não apenas no desenvolvimento de habitação. Para que exista esta maior conexão é essencial estruturar programas complexos e promover a relação entre eles. Para nós esta complexidade faz sentido e é promotora de projetos duradouros. As cidades e os edifícios não são apenas para serem edificados ou vendidos, são feitos para serem vividos. Isso significa que para garantir a perenidade de projetos imobiliários é essencial considerar não apenas a fase de construção ou promoção, mas também os aspetos essenciais da sua vivência. Nesse contexto, o conceito da Cidade dos 15 Minutos oferece uma visão holística do setor imobiliário.

"O ecossistema do imobiliário nacional deve impulsionar a flexibilidade que se procura nos espaços, tendo em vista a sua multifuncionalidade e não apenas uma única utilização"

Hoje, têm vários projetos em Portugal em carteira, desde retalho e habitação a escritórios e hotéis. Porque é que o foco está voltado para imóveis de uso misto?

Atualmente, o setor de retalho em Portugal apresenta desafios significativos, entre os quais está a existência de edifícios sem qualquer uso, sendo esta uma das razões para a necessidade de se repensar os espaços e a sua forma de utilização. Por exemplo, os edifícios podem ser projetados para acomodar várias funções, nomeadamente, como um espaço comercial pode ser transformado para a realização de eventos durante o período da noite ou como área de coworking durante o dia.

O ecossistema do imobiliário nacional deve impulsionar a flexibilidade que se procura nos espaços, tendo em vista a sua multifuncionalidade e não apenas uma única utilização. Ao construirmos com enfoque nos usos mistos, nas diferentes funções sociais, criativas e de trabalho de cada espaço, estamos a promover o bem-estar das comunidades e a influenciar o futuro das cidades, mais resistentes e sustentáveis.

Reabilitação de cidades
Nhood

Querem deixar um “impacto positivo” nos projetos imobiliários. Como é que isso se faz?

O exemplo mais recente dessa “marca” que pretendemos deixar nos projetos é a transformação da Galeria Comercial de Alverca, que materializa o conceito de regeneração urbana que defendemos. Este projeto vem revitalizar um complexo imobiliário bem conhecido no território de Alverca, negligenciado nos últimos 30 anos, garantindo a expansão e diversificação da sua funcionalidade de origem, bem como a sua adaptação em função do contexto social, figurando agora como um elemento central do tecido urbano, em estreita relação com o ecossistema envolvente. Neste projeto de uso misto, a área comercial ganha novas lojas e serviços, que vêm complementar o hipermercado e a galeria já existentes, nomeadamente uma Loja do Cidadão implementada em parceria com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira; um ginásio; um espaço de saúde e bem-estar e uma loja Leroy Merlin, que incluirá área de construção e acrescentará um novo conceito ao mix comercial.

Adicionalmente, vai desenvolver uma nova centralidade convertendo a antiga utilização de escritórios das conhecidas Torres de Alverca, abandonadas por décadas e sem qualquer utilidade, em soluções para arrendamento. Serão mais de 100 unidades, desde estúdios a T3, prontas a ocupar por mais de 200 pessoas, complementadas por uma área de lazer e desporto aberta a todos. Também neste projeto inovador, a estratégia ESG foi desenhada para ser uma referência de construção sustentável, com destaque para a certificação BREEAM, soluções de eficiência energética e redução das emissões de carbono.

Estamos ainda a desenvolver projetos de transformação nas cidades da Maia, Famalicão e no Porto, tendo todos eles em comum o objetivo de regenerar e transformar espaços urbanos para benefício da comunidade. 

"O desafio da descarbonização e da transição energética está aí, com o setor imobiliário a mobilizar-se para cumprir os objetivos mais exigentes"

Quais são os principais desafios que enfrentam para garantir a sustentabilidade e eficiência dos edifícios? Este é o futuro?

O desafio da descarbonização e da transição energética está aí, com o setor imobiliário a mobilizar-se para cumprir os objetivos mais exigentes. As metas estão traçadas, a tecnologia e as ferramentas necessárias estão à disposição e a informação nunca foi tanta como hoje. A reabilitação dos edifícios existentes será um dos principais contributos para a descarbonização do parque imobiliário. Já estão disponíveis soluções de energia limpa, de autoconsumo, novos materiais mais sustentáveis, mais eficientes, recicláveis e duráveis. E a industrialização da construção pode também ajudar a otimizar processos e a reduzir a pegada das empreitadas. Cabe agora aos vários players do setor fazerem as melhores escolhas e adotarem as melhores práticas para criarem um imobiliário verdadeiramente “verde”, sendo que esta será a norma de mercado dentro em breve.

Cidade dos 15 minutos
Galeria Comercial Maia Nhood

A vossa missão passa por “construir bairros e cidades melhores e contribuir para um planeta e um futuro melhor”. O Governo e o imobiliário em Portugal estão alinhados neste sentido? Como avaliam o planeamento das cidades e a gestão dos projetos imobiliários?

Todos os esforços realizados com vista à descarbonização e modernização das cidades são fundamentais para enfrentar os desafios globais relacionados com as alterações climáticas e a sustentabilidade urbana. Os modelos de gestão do território em Portugal têm de evoluir, mas este processo tem sido genericamente muito lento. Vemos planos diretores cujo processo de revisão decorre há mais de 10 anos e quando chegarem já não serão um reflexo das necessidades atuais. Temos de evoluir para um sistema de planeamento urbano mais ágil e mais matricial, menos suportado nos usos e mais condicionado pelo impacto carbónico.

"À medida que as áreas urbanas crescem (...), a necessidade de repensar a mobilidade torna-se cada vez mais premente"

Quais são as vossas expectativas sobre a conexão das cidades para o futuro? Têm mais projetos imobiliários na calha?

À medida que as áreas urbanas crescem e enfrentam desafios como congestionamento, poluição do ar e emissões de gases de efeito estufa, a necessidade de repensar a mobilidade torna-se cada vez mais premente. É por essa razão que a Nhood se tem vindo a focar em projetos imobiliários no Grande Porto e Grande Lisboa. De momento estamos a analisar projetos de transformação na Maia, em Famalicão, Porto e Oeiras. Em todos estes projetos, que são as nossas maiores prioridades, apenas um deles é desenvolvido em 'greenfield'. Neste sentido, o nosso foco vai continuar a recair em densificar locais e comunidades com potencial e regenerar centros urbanos. 

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