Modelo de subscrição mensal para autoconsumo está a crescer, diz em entrevista Manuel Pina, diretor geral da Otovo em Portugal.
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Manuel Pina, diretor geral da Otovo em Portugal

O aumento da instalação de painéis fotovoltaicos para autoconsumo está a crescer em Portugal, e poderá dar um salto ainda maior nos próximos anos. A crise energética implicou, para muitas famílias, uma reorganização da atividade doméstica e dos gastos com a casa, sendo a produção de energia própria uma das soluções mais rentáveis para poupar na fatura da eletricidade. Para muitas delas, porém, o nível inicial de investimento é um grande entrave. Ainda assim, o modelo de subscrição mensal para autoconsumo chegou ao país e está a conquistar terreno, tal como explica ao idealista/news Manuel Pina, diretor geral da Otovo em Portugal, empresa de origem norueguesa que foi pioneira na introdução desta alternativa no mercado nacional.

De acordo com o responsável, Portugal tem registado um crescimento acima da média dos outros mercados e, sobretudo ao longo do último ano, esteve sempre entre os quatro países com melhor desempenho a nível de vendas. “Com destaque especial para o modelo de subscrição, que representa 70% do total das vendas no mercado nacional”, refere.

Portugal é conhecido por ter boa exposição solar durante grande parte do ano, tendo um ambiente propício para a instalação de sistemas de energia solar, como painéis fotovoltaicos. Ainda assim, o país está “aquém” na taxa efetiva de penetração solar - segundo Manuel Pina, apenas 4% a 5% do total dos telhados em Portugal têm painéis fotovoltaicos. No entanto, verificou-se um “aumento significativo da procura pelo autoconsumo de energia”, sendo esperado que o setor ganhe impulso nos próximos anos.

O modelo de subscrição, que fomos pioneiros a introduzir em Portugal, tem sido muito bem recebido pelos consumidores nacionais. Sete em cada dez contratos que fechamos são através deste modelo e neste segmento temos tido um crescimento 20% acima da média dos restantes mercados em que estamos presentes”, indica.

Mas será que as instalações fazem sentido em todos os casos? O diretor geral da Otovo em Portugal lembra que não pode ser tida apenas em consideração a vertente financeira, sendo “importante que estejam reunidas condições para que seja possível instalar painéis solares no telhado”.

“Muitas vezes os telhados não têm espaço disponível na zona com a orientação que tem melhor exposição, o que significa que a performance do sistema pode ser afetada ou até impossibilitada”, diz, sublinhando que “este é um ponto muito importante”. “Se pensarmos nas novas construções de prédios e casas, é importante que se tenha em consideração que, nos próximos 20 anos, todas as famílias quererão ter a possibilidade de instalar um sistema de painéis solares e isto deve ser tido em consideração desde momento do projeto”, defende.

Instalação de painéis solares
Foto de Kindel Media on Pexels

A Otovo entrou em Portugal há dois anos. Que balanço faz do negócio? Qual o peso do país na operação global do grupo?

A Otovo foi fundada em 2016 e Portugal foi dos últimos mercados a ser lançado, em agosto de 2022, pelo que o negócio por cá tem menos maturidade que em outras geografias nas quais a empresa está implementada há mais tempo. Ainda assim, o balanço é muito positivo. Portugal tem registado um crescimento acima da média dos outros mercados e, sobretudo ao longo do último ano, esteve sempre entre os quatro países com melhor desempenho a nível de vendas. Com destaque especial para o modelo de subscrição, que representa 70% do total das vendas no mercado nacional.

A maioria das instalações são no segmento residencial? Qual é a distribuição, por segmentos? Qual o número de instalações feitas até agora? Há alguma região que se destaque?

A nossa operação em Portugal é totalmente direcionada para o segmento residencial. A Otovo instala sistemas com um mínimo de três painéis. Desde o lançamento em 2022, já vendemos mais de 1.000 sistemas em Portugal e o principal objetivo agora é chegar aos 10.000 até ao final do próximo ano. Temos instalado sistemas em todo o país, mas a maioria dos nossos painéis encontram-se no litoral entre Lisboa e Braga.

"Desde o lançamento em 2022, já vendemos mais de 1.000 sistemas em Portugal e o principal objetivo agora é chegar aos 10.000 até ao final do próximo ano"

Recuperando declarações de uma entrevista sua... Por que é que ainda há tantos telhados em Portugal que não têm painéis solares? Como funciona a instalação em edifícios de propriedade horizontal?

Se tivermos em consideração a relação entre o potencial do país e a taxa efetiva de penetração do solar, Portugal está claramente aquém neste momento. De acordo com os dados mais recentes, apenas 4% a 5% do total dos telhados no nosso país têm painéis fotovoltaicos. Entre as razões que podem explicar este fenómeno estão, em primeiro lugar, o facto de que, até há poucos anos, os preços da energia tinham pouco impacto no gasto familiar. A partir de 2021, quando se fizeram sentir alguns picos no preço, notou-se um aumento significativo da procura pelo autoconsumo de energia. Adicionalmente, as ofertas que existiam no mercado eram ou pouco competitivas ou desajustadas das necessidades dos clientes no que diz respeito ao autoconsumo, o que dificultava a criação de poupança energética. A título de exemplo, grande parte dos sistemas vendidos para o segmento residencial na década de 2000 não eram sequer para autoconsumo, mas, sim, para produção e venda na totalidade da energia à operadora.

painéis solares
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Atualmente, a maioria das ofertas de sistemas de painéis fotovoltaicos no mercado residencial tem como objetivo principal o autoconsumo. Existem vários modelos de aquisição que se adaptam melhor às necessidades dos clientes, desde modelos de compra única, nos quais é exigido um investimento inicial e depois esperar pela amortização do sistema com base nas poupanças, até ao modelo de subscrição, no qual se paga uma mensalidade baixa e tem acesso a um serviço chave na mão. É por isso esperado que esta penetração venha a aumentar nos próximos anos.

O processo de instalação com a Otovo é bastante simples: o cliente pode ir ao nosso site, colocar a morada e identificar o telhado. De seguida, o nosso algoritmo vai apresentar uma simulação de um sistema que maximiza a poupança do cliente. Caso aceite, o cliente é contactado por um consultor comercial Otovo para explicar os próximos passos. Durante a preparação e a instalação, a Otovo encarrega-se de todos os passos necessários, incluindo a legalização do sistema.

Para muitas famílias, o nível inicial de investimento é o grande entrave. O modelo de subscrição mensal para autoconsumo é inovador, nesse sentido. Qual a adesão? Está a ser bem aceite?

O modelo de subscrição, que fomos pioneiros a introduzir em Portugal, tem sido muito bem recebido pelos consumidores nacionais. Sete em cada dez contratos que fechamos são através deste modelo e neste segmento temos tido um crescimento 20% acima da média dos restantes mercados em que estamos presentes. Acredito que existem dois fatores que explicam esta elevada preferência pelo modelo de subscrição:

  • O facto de não ser necessário fazer um investimento inicial, ficando as famílias a pagar uma mensalidade baixa que permite uma poupança imediata;
  • Com o modelo de subscrição Otovo os clientes têm acesso ao sistema que gera maiores poupanças sem terem de se preocupar com mais nada. É um serviço chave na mão que inclui garantias de 20 anos sobre a instalação, assim como suporte e monitorização durante todo o contrato.

"O modelo de subscrição, que fomos pioneiros a introduzir em Portugal, tem sido muito bem recebido pelos consumidores nacionais. Sete em cada dez contratos que fechamos são através deste modelo"

Relativamente às instalações domésticas, fazem sentido em todos os casos? Quanto é que, em média, os consumidores podem poupar na fatura da luz?

Considerando o contexto económico e climático atual, diria que sim. Mas esta resposta não tem apenas em consideração a vertente financeira. Se por um lado um sistema de painéis tem atualmente uma durabilidade muito superior ao tempo de amortização do respetivo investimento, por outro é importante que estejam reunidas condições para que seja possível instalar painéis solares no telhado. Muitas vezes os telhados não têm espaço disponível na zona com a orientação que tem melhor exposição, o que significa que a performance do sistema pode ser afetada ou até impossibilitada.

Este é um ponto importante: se pensarmos nas novas construções de prédios e casas, é importante que se tenha em consideração que, nos próximos 20 anos, todas as famílias quererão ter a possibilidade de instalar um sistema de painéis solares e isto deve ser tido em consideração desde momento do projeto. Já tivemos alguns clientes que não conseguiram aderir aos painéis fotovoltaicos porque têm uma chaminé a ocupar espaço e a criar sombra na única zona possível para a instalação.

"Se pensarmos nas novas construções de prédios e casas, é importante que se tenha em consideração que, nos próximos 20 anos, todas as famílias quererão ter a possibilidade de instalar um sistema de painéis solares"

Como veem a instalação de painéis fotovoltaicos em massa em Portugal, que criam florestas de vidro? Qual o impacto ambiental?

O crescimento solar fotovoltaico como fonte de produção de energia em Portugal parece-me inevitável. Somos um dos países europeus com melhores condições para a produção de energia solar, e isto deve ser aproveitado. Porém, mesmo acreditando que deve ser promovido, não significa que este crescimento deve ser desregulado. É importante notar que a regulação não deve servir como um bloqueio, mas, sim, pensada de forma a proteger os interesses coletivos da sociedade, incluindo os ambientais. No final do dia, a produção de energia solar em Portugal pode ser fundamental para descarbonizar a economia e para ajudar o país a atingir os objetivos climáticos. E isto faz com que o balanço seja inegavelmente positivo a favor desta fonte de energia renovável.

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Fazem parte do leque de fornecedores de painéis solares do Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis? E as famílias que têm Vales Eficiencia podem contar convosco? Como funciona?

Julgo que todas as empresas que trabalham nesta área fazem parte do leque de fornecedores destes programas de apoio à transição energética que refere, porque os apoios são solicitados pelos próprios consumidores e não pelas empresas envolvidas no processo. Tal como temos feito até aqui, estamos 100% disponíveis para esclarecer os consumidores sobre todos os procedimentos necessários para se candidatarem a estes apoios. Aliás, sempre que há um lançamento de um novo aviso, os consumidores não têm hesitado em contactar-nos para obterem todos os esclarecimentos necessários sobre o tema.

Disse que o programa do Fundo Ambiental não está desenhado para cativar novos consumidores. Porquê? Qual seria a melhor solução?

Antes de mais, é importante deixar claro, acredito que quaisquer medidas que sejam tomadas no sentido de potenciar a transição energética em Portugal, tais como os apoios concedidos no âmbito do Fundo Ambiental, são positivas. No entanto, julgo que estes apoios são passíveis de serem ajustados à realidade das famílias portuguesas. Sobretudo no que respeita às regras de elegibilidade e procedimentos de candidatura.

Tendo como exemplo o último aviso divulgado pelo Governo no âmbito do Programa de Apoio aos Edifícios Mais Sustentáveis, e mais concretamente na parte relativa à instalação de painéis fotovoltaicos, considero que os prazos de candidatura apresentados, no caso entre 16 de agosto e 31 de outubro de 2023, não ajudam a cativar novos candidatos e apenas servem quem já tem os sistemas instalados. Isto porque, se tivermos em conta que, em média, um sistema em Portugal demora oito semanas a instalar, desde o primeiro contacto até à efetiva ativação dos painéis, facilmente se conclui que os prazos indicados são impossíveis de cumprir para consumidores que pretendam fazer a instalação a partir do momento da abertura das candidaturas.

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Neste sentido, acredito também que é pertinente olhar para as estratégias aplicadas por outros Estados-membros de forma a importar, caso faça sentido, as melhores práticas. À semelhança do nosso país, também a Alemanha, Itália, Espanha ou Polónia lançaram diferentes políticas com o propósito único de aumentar a eficiência energética e o autoconsumo de energias renováveis nos respetivos mercados residenciais.

"É pertinente olhar para as estratégias aplicadas por outros Estados-membros de forma a importar, caso faça sentido, as melhores práticas"

O tipo e forma de incentivo varia de país para pais. Tal como Portugal, países como a Itália, Alemanha ou Espanha adotaram modelos de comparticipação total ou parcial do investimento realizado pelas famílias. No caso de Itália, o valor comparticipado seria entregue por forma de compensação em IRS. Na Alemanha e em Espanha, o valor pode ser entregue à empresa instaladora de forma a aliviar a família do investimento inicial.

Outro exemplo relevante é o da Polónia, um dos países da Europa no qual mais cresceu o número de consumidores que adotaram sistemas de produção de energia solar. Durante a última década, o governo polaco introduziu várias medidas para promover o desenvolvimento da indústria solar, incluindo tarifas de aquisição, medição líquida e subsídios. No entanto, a desburocratização de processos acabou por ser o fator-chave para o sucesso da estratégia. Em 2022, este país tornou-se no nº 1 na Europa em termos de sistemas solares descentralizados e ligados à rede.

Com base nas limitações dos anteriores Avisos do Fundo Ambiental em Portugal e nas práticas que tiveram melhores resultados noutros países europeus, podemos retirar algumas conclusões sobre quais os fatores mais importantes para que os incentivos sejam eficazes:

  • Acessibilidade - É importante garantir que mesmo as famílias que não têm o capital inicial para investir possam ter acesso a este tipo de incentivos. Para isso, devem ser contemplados novos modelos de aquisição, como a subscrição ou financiamento;
  • Transparência - As regras de elegibilidade e acesso aos incentivos devem ser de fácil compreensão. Este ponto é fundamental quando estamos a falar de incentivos que se destinam às famílias, para que não tenham de depender apenas das informações disponibilizadas pelas comercializadoras. A transparência deve estar ao nível dos critérios de elegibilidade, assim como dos principais benefícios;
  • Celeridade - É fundamental garantir que as famílias recebem a comparticipação ou incentivo o mais cedo possível após a confirmação da elegibilidade. Isto vai trazer confiança ao processo, o que por sua vez se irá traduzir em mais candidaturas.

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