Miguel Barbas, CEO do atelier Sabrab, fala ao idealista/news sobre o estado em que se encontra o setor em Portugal.
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Arquitetura e engenharia em Portugal
Miguel Barbas, CEO do atelier Sabrab, e alguns dos projetos da empresa Sabrab

O atelier de arquitetura e engenharia Sabrab foi fundado em 2006. A história do atelier começou a ser contada numa divisão da casa de Miguel Barbas e o primeiro projeto foi uma pequena casa na aldeia alentejana de Vila Fernando, revela o CEO da empresa em entrevista ao idealista/news. Desde então, muita coisa mudou, tendo conquistado vários prémios internacionais. E até uma pandemia houve pelo meio. “O que se deve retirar desta pandemia é que a arquitetura e a engenharia têm de ganhar obrigatoriamente respeito pela natureza, e não querer sobressair por vaidade perante ela”, avisa.

Em jeito de recado ao mercado, Miguel Barbas comenta que a construção sustentável está na ordem do dia, mas lembra que não é por se colocar “um painel solar fotovoltaico que a casa é sustentável”. “Na realidade, ele nem estará a ter muita utilidade se a energia fornecida já for de energia verde do produtor”. 

Fazendo um balanço de atividade, o CEO da Sabrab diz que o atelier teve “sempre os pés bem assentes na terra” durante os 16 anos de existência e que nunca quis "ir mais além” do que podia fazer, o que pode ajudar a explicar o sucesso alcançado, mesmo em tempos mais complicados. “As crises foram os nossos melhores anos, pois as empresas não eram estáveis e nós, com o mesmo princípio, conseguimos ir crescendo lentamente e de forma sustentável”, conta. 

Atelier de arquitetura e engenharia português
Sabrab

O atelier de arquitetura e engenharia Sabrab foi fundado em 2006, há quase 16 anos. Sobreviveu à troika e, agora, à crise pandémica. Quais os segredos do sucesso?

Não se trata de um segredo, mas sim de termos encarado sempre os projetos de uma forma integrada, onde temos desde o arquiteto, ao engenheiro, à equipa de técnicos de construção, e acima de tudo com humildade, sinceridade e respeito pelos clientes.

Esta opção pioneira, em Portugal, da integração, manteve sempre uma procura constante, os clientes preferem ter somente um interlocutor, num mercado complicado, que temos lutado para mudar o estigma, de prazos, de valores a mais, pois quando damos um prazo e um valor é o que irá acontecer na realidade. 

Já existem diversas empresas no mercado que vendem a “chave na mão”, hoje em dia até as imobiliárias vendem essa expressão, contudo, subcontratam tudo, pois têm somente uns gestores de projeto que vão contratar a engenharia, a arquitetura e o pessoal de obra. É isso que nos difere, pois temos “in the house” as equipas, que se preocupam desde a fase de design à sua conclusão.

Tivemos sempre os pés bem assentes na terra, nunca quisemos ir mais além do que podíamos fazer, e as crises foram os nossos melhores anos, pois as empresas não eram estáveis e nós, com o mesmo princípio, conseguimos ir crescendo lentamente e de forma sustentável.

O atelier Sabrab conta com uma equipa multidisciplinar, formada por engenheiros, gestores, arquitetos e técnicos de construção, certo? Fale-nos sobre a atividade do atelier.  

O atelier em termos de projeto atua em todos os setores do ramo imobiliário, tendo este ano efetuado o projeto quinhentos. Na área da reabilitação, que é um mercado que nos apaixona, efetuámos o projeto de reabilitação do maior forte da europa, o Forte da Graça, em Elvas, entre muitos outros.

"Nos últimos anos optámos por um género de arquitetura mais sustentável, onde as casas tentam sempre invadir o menos possível os lotes onde são inseridas. Se o lote tem árvores, não vamos cortar para depois plantar outras, tentamos adaptar a casa ao existente, e os resultados têm sido muito bem aceites"

Em termos habitacionais, desde moradias de 200 metros quadrados (m2) a 1.500 m2, tendo nos últimos anos optado por um género de arquitetura mais sustentável, onde as casas tentam sempre invadir o menos possível os lotes onde são inseridas. Se o lote tem árvores, não vamos cortar para depois plantar outras, tentamos adaptar a casa ao existente, e os resultados têm sido muito bem aceites.

Outra área na qual atuamos muito, e onde temos diversos prémios internacionais, é a área da saúde: somos o maior player português na criação de espaços clínicos. Entre 2020 e 2021 efetuámos 56 clínicas, tendo duas delas sido reconhecidas internacionalmente, nomeadamente a Clínica de Santa Madalena e a Clínica Medis.

Atelier de arquitetura português premiado
Sabrab

Recuemos uns anos na história do atelier. Como surgiu e porquê?

A Sabrab surgiu após eu ter trabalhado dois anos numa empresa de engenharia e ter, na altura, decidido que queria ter uma empresa e seguir o meu caminho, pois achei que faltava a integração do arquiteto e engenheiro em Portugal. Então criei a Sabrab, sem grandes perspetivas concretas de trabalho, num balcão de empresa na hora, sem qualquer trabalho contratado, mas acreditando no que poderia fazer.

O primeiro escritório foi uma divisão da minha casa. Contactei todas as pessoas que poderiam estar interessadas, e começámos com uma casa pequena, numa aldeia no Alentejo, em Vila Fernando, concelho de Elvas. Seguiu-se um hotel em Vila Viçosa e foi o começo.

Onde têm escritórios? Está prevista uma expansão?

Temos em Lisboa e Elvas. Tendo em conta a pandemia, e o teletrabalho, optámos por manter estes dois locais. O país é pequeno, mas ainda existe a mentalidade que Porto ou Lisboa é outro país. Já fizemos perceber a clientes que podemos fazer projetos no Porto tendo a sede em Lisboa, é difícil ainda de interiorizar, mas já começam a surgir alguns pedidos, pois se conseguimos fazer um projeto no Dubai estando em Lisboa, porque não haveríamos de conseguir no Porto? 

Foi essa mentalidade que nos fez manter somente estes dois locais e abdicar do Porto. Temos a ambição de abrir em Madrid, mas a pandemia atrasou os planos, mas ainda o faremos.

Atelier de arquitetura Sabrab
Sabrab

Por quantas pessoas é composta a equipa? Está prevista a entrada de mais pessoas em 2022?

Tendo em conta a parte de projeto e obra somos em média 17. Este ano estamos a pensar crescer na parte de projeto. Podíamos ser mais, mas na Sabrab temos a filosofia de os estágios serem remunerados e os vencimentos justos. Não gostamos de explorar ninguém, ao contrário do que acontece em muitos locais, onde os recém-formados quase que pagam para trabalhar, para poderem ter acesso à ordem.

"Recusamos projetos por não conseguirmos darmos resposta, pois temos picos que precisávamos de mais capital humano, contudo é um mercado volátil, e de um momento para o outro pode o trabalho reduzir-se, e depois teríamos em excesso"

Recusamos projetos por não conseguirmos darmos resposta, pois temos picos que precisávamos de mais capital humano, contudo é um mercado volátil, e de um momento para o outro pode o trabalho reduzir-se, e depois teríamos em excesso.

O que distingue o atelier Sabrab da concorrência? 

Foi o que referirmos anteriormente, que é ter uma real solução integrada de arquitetura, engenharia e construção, onde há somente um interlocutor e o cliente reúne connosco, até ao último dia de obra, e falará somente com uma pessoa, pois as reuniões de câmara, licenciamento e obra são efetuadas por nós.

Em termos de projeto é a nossa linha verdadeiramente sustentável, onde buscamos cada vez mais o uso de materiais sustentáveis, respeito pela natureza e a criação de espaços que as pessoas já dizem: “Esta casa só pode ser da Sabrab”.

O atelier Sabrab já foi reconhecido com vários prémios de renome a nível nacional e internacional, como por exemplo o German Design Award Special em 2019, o A´Design Award Winner 2019 e, mais recentemente, o German Design Award 2022. Que significado têm estas conquistas?

Contamos com 14 prémios internacionais. Normalmente digo, em tom de brincadeira, que somos mais conhecidos lá fora que cá dentro, pois santos da casa não fazem milagres. Em 2021, fomos o atelier que mais prémios internacionais recebeu.

Estas conquistas dão prestígio e confiança aos clientes, pois um reconhecimento internacional é uma verificação por entidades credenciadas, como o German Design Council, composta por um jurado de mais de 40 designers e arquitetos do mundo inteiro, que analisam os projetos e escolhem. Acaba por ser uma montra para o mundo, e além de credibilidade dá visibilidade e respeito.

Atelier Sabrab
Sabrab

Quem são os clientes do atelier Sabrab? Mais particulares ou empresas? E de que nacionalidades são?

Na área residencial é mais privado, e temos uma quota de 55% estrangeiros e 45% nacionais. Na área da saúde é 100% empresas e 100% nacional.

Que tipo de projetos têm desenvolvido ao longo dos anos?

Nos últimos dois anos houve um equilíbrio, do residencial com a área da saúde, pois até então a saúde representava a maior parte da faturação.

Que balanço faz da atividade em 2021, um ano (mais um) marcado pela pandemia? 

Foi o melhor ano da história da Sabrab, tanto em volume como em receita. Desenvolvemos 98 projetos. As pessoas procuraram muito alterar as suas casas e levou a este crescimento.

"2021 foi o melhor ano da história da Sabrab, tanto em volume como em receita. Desenvolvemos 98 projetos. [Para 2022] Esperamos o nosso melhor ano. Já temos trabalho contratado para seis meses (...)."

O que esperar do ano de 2022? 

Esperamos o nosso melhor ano. Já temos trabalho contratado para seis meses, e com muitas propostas na área residencial a serem desenvolvidas.

Muitos players consideram que a pandemia trouxe alterações nas preferências dos consumidores, que optam agora, no caso do segmento residencial, por casas mais espaçosas e/ou com mais varandas, por exemplo. Ou que querem viver em zonas mais afastadas dos grandes centros urbanos? Partilha desta opinião? 

Vai haver uma pequena mudança, especialmente na questão dos espaços exteriores, pois valorizam-se. Em Lisboa, nunca se fizeram casas com espaços exteriores, o que foi sempre um erro, com os dias de sol que temos. Vamos ao norte, com menos dias de sol, e a arquitetura valoriza os espaços exteriores. Essa vai ser uma das mudanças que irá acontecer, pois casas sem varandas terão muito menos procura. 

As pessoas estão à procura de casas afastadas dos centros urbanos, pelos espaços exteriores, mas essencialmente pelo custo, pois a maior parte das pessoas não consegue suportar a compra de uma casa em Lisboa. Os centros irão ficar para os estrangeiros com poder de compra muito superior, e basta passear pelo Chiado e Avenidas Novas, por exemplo, que damos conta disso: nem parece que estamos no nosso Portugal.  

Ateliers de arquitetura portugueses
Sabrab

Que ilações e/ou lições há a retirar da pandemia para o setor da arquitetura e da engenharia? 

O que se deve retirar desta pandemia é que a arquitetura e engenharia têm de ganhar obrigatoriamente respeito pela natureza, e não querer sobressair por vaidade perante ela. É o que acontece: derrubamos árvores para fazer urbanizações e depois vamos colocar oliveiras compradas noutro local, enchemos de alfazemas os caminhos e a biodiversidade fica esquecida. 

Porque não adaptarmos as casas ao existente? É essa pergunta que faço muitas vezes quando vejo notícias de novos empreendimentos, que dizem que são sustentáveis, mas o princípio básico é esquecido, que é o respeito pelo que existe, e criamos um floreado de ‘greenwashing’ sem qualquer sentido.

"Porque não adaptarmos as casas ao existente? É essa pergunta que faço muitas vezes quando vejo notícias de novos empreendimentos, que dizem que são sustentáveis, mas o princípio básico é esquecido, que é o respeito pelo que existe, e criamos um floreado de ‘greenwashing’ sem qualquer sentido"

A natureza é mais forte que toda esta vaidade, e pode colocar-nos em casa fechados por dois anos por não a respeitarmos. A humanidade tem memória curta e não aprende com os erros, em poucos anos voltaremos a cometer os mesmos. 

Há um pré-pandemia e um pós-pandemia no setor imobiliário, nomeadamente no segmento da arquitetura, da engenharia e da construção?

Não acredito que vá existir, sem ser na parte da criação de mais espaços exteriores e de alguns promotores em utilizarem realmente soluções sustentáveis. Hoje em dia todos dizemos que a construção é sustentável, mas não é por colocarmos um painel solar fotovoltaico que a casa é sustentável. Na realidade, ele nem estará a ter muita utilidade se a energia fornecida já for de energia verde do produtor. 

O que devemos aprender é a ter realmente respeito, e a fazer realmente algo sustentável, não apenas um ‘greenwashing’ de marketing.

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1 Comentários:

Fatima Arruda
24 Fevereiro 2022, 18:23

Casas horríveis, parecem caixotes que inseridos no meio da natureza. Destoam e roubam a cena junto a prédios históricos. Mau gosto disfarçado de modernidade. Ambiente frio,sem personalidade.

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