Nos últimos anos, o mercado de design de interiores em Portugal tem assistido a uma transformação significativa, impulsionada por diferentes conceitos e tendências. Um deles é o Quiet Luxury, que também está na génese da Silent Home. Mais do que uma loja, assume-se como um projeto de vida. Para os fundadores, Hugo Covaneiro e Daniel Fonseca, o luxo não reside apenas na exclusividade ou no preço elevado, mas na capacidade de personalizar espaços e criar uma conexão emocional entre as peças e as pessoas. Elementos neutros e minimalistas convivem com cores vibrantes e texturas ricas, numa abordagem que é um convite à reinterpretação do luxo: menos sobre ostentação e mais sobre criar áreas que contam histórias e refletem a essência de quem os habita.
A paixão pela arte levou Hugo Covaneiro a estudar design industrial em Portugal e arquitetura de interiores em Inglaterra, onde trabalhou com nomes de renome, como Kelly Hoppen e Versace Home. Com décadas de experiência internacional, trabalhou em inúmeros projetos ao longo da carreira. Também Daniel Fonseca esteve desde sempre ligado ao mundo das artes e da moda. Trabalhou no mercado de luxo durante quase oito anos, passando por marcas de renome como a Louis Vuitton.
Depois de vários anos em território britânico, decidiram regressar a Portugal para fundar a Silent Home, um espaço que desafia o conceito tradicional de luxo. A loja, localizada no centro Lisboa, perto da Avenida da Liberdade e das Amoreiras, não é apenas um showroom de peças exclusivas, mas também um local onde se celebra a individualidade e o caráter e alma dos sítios. Numa visita ao espaço, os responsáveis partilharam com o idealista/news como surgiu a ideia de criar este projeto.

“Consegui fazer projetos para o mundo inteiro, sempre ‘high-end luxury’. Penso que um bocadinho pelo facto de eu ter trabalhado com a Versace. Os clientes foram surgindo, foi muito divertido, realizei muitos sonhos, concretizei muita coisa. E depois chegou a um ponto em que pensei ‘E agora’? E eu sempre fui assim, meio irrequieto”, conta ao idealista/news.
“Sempre gostei bastante de artes de moda. E depois de trabalhar durante tantos anos no mercado de luxo, em Londres, decidi que era o momento de fazer uma pausa. Comecei a sentir que a parte criativa estava a ficar para trás e que era a hora de tentar fazer alguma coisa diferente”, acrescenta Daniel Fonseca.
A tendência do luxo “silencioso”
Inspirada pela tendência do Quiet Luxury, que valoriza a personalização e a ligação emocional com o ambiente, a Silent Home combina peças únicas, parcerias com designers emergentes e um serviço adaptado às necessidades de cada cliente.
“O luxo hoje em dia é a casa adaptar-se à pessoa que lá vive, porque todos nós temos gostos diferentes, todos nós temos vivências diferentes, experiências em casas diferentes”, comenta Hugo Convaneiro, para quem o luxo é muito pessoal. “Não se decora uma casa da mesma forma em Nova Iorque, como em Marrocos, por exemplo. Qualquer pessoa consegue perceber isso. Então a tendência do luxo é personalizar espaços, é também customizar as experiências”, salienta.

A diversidade de produtos reflete o desejo de democratizar o design, segundo os fundadores. Desde móveis de alto padrão a peças acessíveis, o espaço atrai um público heterogéneo. “Eu abri este projeto com um objetivo. Eu queria muito que aquilo que nós oferecemos seja acessível a todos. E uma coisa interessante que eu descobri foi que nós não temos um perfil de cliente único. Aliás, é muito variado precisamente porque praticamos preços acessíveis. Mas também porque temos peças muito fora do comum”, refere o designer.
“Eu acho que um erro muito comum sobre o que as pessoas pensam que é o Quiet Luxury reflete muito isto, que é a ideia de que tudo monocromático, tudo muito creme, tudo muito cinzento. E não é. O luxo é uma coisa pessoal”, defende. “E o curioso é que temos um público muito diversificado, desde casas de luxo a um apartamento T0 aqui ao lado”, acrescenta.
Na prática, tal como explicam os mentores do projeto, o Quiet Luxury apresenta um conceito minimalista e neutro, frequentemente associado ao equilíbrio e à serenidade. Contudo, esta ideia de luxo contemporâneo além de marcas e tendências restritivas. A pandemia influenciou uma transformação nesta visão, levando à valorização de peças artesanais e personalizadas, que capturam a essência de quem vive o espaço. O uso da cor, por exemplo, é defendido como uma expressão silenciosa e única, adaptada ao contexto e ao ambiente, rejeitando a homogeneidade do monocromático.

O papel das emoções e do contexto na decoração
A loja oferece uma ampla curadoria de mobiliário e decoração, destacando-se pela inclusão de cores, texturas e elementos fora do comum. O serviço Silent For You é um dos pilares da marca, ajudando os clientes a transformar as suas casas através de um processo meticuloso que inclui moodboards e consultoria personalizada, adaptando cada espaço às preferências e vivências do proprietário.
“A Silent Home nasceu um bocadinho com este objetivo. O de transformar a casa das pessoas e incorporar peças que tornem os espaços únicos. Ou seja, espaços que se calhar precisam de um bocadinho de arte, um bocadinho de cor, um bocadinho de identidade também. Já tivemos alguns projetos em que conseguimos fazer quase milagres”, comenta Daniel Fonseca.

No design de interiores de luxo, o contexto e as emoções são fundamentais. Não se trata apenas de seguir tendências, mas de respeitar a arquitetura e a história de cada espaço, adaptando peças e cores que contam histórias, segundo os fundadores.
“As pessoas começaram a perceber que o luxo não tem que ser caro, não tem que ser inacessível. É óbvio que existem projetos e projetos. É óbvio que se fizermos um projeto de uma casa de 10 milhões, não é a mesma coisa que um projeto de uma casa de 100.000. Mas não quer dizer que a casa de 100.000 seja inferior. Essa casa pode ficar incrível”, diz Hugo Covaneiro.
"É preciso trazer alma e caráter aos espaços"
O especialista explica que o fenómeno Ikea, felizmente, fez muita coisa boa. Trouxe para o mundo do design algo que não existia. No entanto, diz o designer, “chegámos a um ponto extremo em que as pessoas só têm essa referência, a referência do móvel branco, da cozinha branca, de tudo muito monocromático, que é o que eles fazem e fazem muito bem. Mas o design não é só isso”. “É preciso trazer alma e caráter aos espaços”, defende.

Daniel Fonseca reconhece que isso acontece, muitas vezes, pela facilidade. “Normalmente, quando inserimos cores e texturas é um bocadinho mais difícil de perceber como é que vai funcionar. Então as pessoas se calhar acabam por ficar sempre no bege, nos cinza e não arriscam muito. É seguro. Não sabem bem como realmente o resultado pode ficar se arriscarem”, sublinha.
“Na minha carreira inteira não consigo definir um gosto, uma tendência. O meu trabalho é para a pessoa, para a arquitetura, para o sítio. E depois existem, sim, elementos estéticos que me definem. E no fundo, este espaço é o nosso trabalho. É um pouco o culminar disso tudo. São vários estilos, várias cores, texturas, que procuramos apresentar de uma forma coerente”, acrescenta Hugo Covaneiro.

Para aqueles que pretendem renovar ou decorar a casa, os designers recomendam começar com uma pesquisa visual, usando ferramentas como Pinterest, para identificar elementos e estilos com os quais as pessoas se identifiquem. As peças principais, como sofás, devem ser neutras para garantir versatilidade, enquanto acessórios, como almofadas e cortinas, podem trazer cor e estilo. É essencial haver uma ligação entre os ambientes da casa, criando uma narrativa coesa que reflete a personalidade do proprietário.
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