Novos apoios do Estado não são suficientes para que jovens saiam de casa dos pais, revela estudo. É preciso resposta estrutural.
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Jovens a comprar ou arrendar casa
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Há mais jovens a comprar casa em Portugal, uma tendência impulsionada pelas novas medidas do Governo (isenção de IMT e garantia pública). Os dados mais recentes do Banco de Portugal revelaram mesmo já não havia tantos jovens a contratar crédito habitação há uma década. Mas estas medidas chegam apenas a alguns jovens, revelando-se insuficientes para resolver o problema estrutural da habitação. Isto porque os elevados preços das casas e os baixos salários dos jovens continuam a travar a sua independência.

Esta é uma das conclusões do estudo “Habitação para jovens em Portugal: desafios e tendências atuais”, da Century 21, o qual revela que 76,3% dos jovens entre os 28 e os 35 anos vivem de forma independente. Mas entre os jovens dos 20 aos 27 anos, quase metade ainda mora com os pais. Embora os preços das casas sejam mais elevados na capital, são os jovens que residem no Grande Porto que são menos independentes (e que têm mais intenção de se emancipar).

Quem ainda não tem uma casa própria (seja comprada ou arrendada), tem vontade de viver sozinho ou em casal. Aliás, quase 65% dos jovens não independentes – entre os 20 e 40 anos - planeiam emancipar-se no próximo ano ou no seguinte. Mas este caminho para a emancipação está repleto de desafios. O mesmo estudo revela que os principais obstáculos à independência são, sobretudo, os preços elevados das habitações, e os rendimentos insuficientes, a par da falta de poupanças iniciais para dar entrada de uma casa (esta dificuldade apontada pode agora ser contornada pela garantia pública no crédito habitação, que, no entanto, eleva a sua taxa de esforço).

“Para muitos jovens, sair de casa dos pais significa dar início a uma vida a dois, mas a verdadeira dificuldade não está na vontade de emancipação e sim na conjugação de rendimentos baixos com a instabilidade profissional”, afirma Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, citado em comunicado.

Apoios do Estado não chegam para jovens saírem de casa dos pais

No que diz respeito ao custo das casas à venda, verifica-se que há uma “forte concentração da oferta atual em valores superiores a 300.000 euros e uma escassez de imóveis acessíveis abaixo dos 125.000 euros. Em Lisboa, essa tendência é ainda mais acentuada, com 59% da oferta na faixa de preços mais alta (56% no Porto). “Esta realidade exige não apenas a modernização da mobilidade urbana e a revisão dos Planos Diretores Municipais, mas também a implementação de políticas públicas que ampliem a oferta de habitação a preços alinhados com os rendimentos dos jovens”, conclui o estudo.

“Os elevados custos habitacionais continuam a colocar pressão nas famílias, obrigando muitas a rever critérios de escolha, como localização ou área, para conseguir adquirir ou arrendar habitação”, destaca Ricardo Sousa, que acredita que os atuais apoios aos jovens (isenção de IMT e garantia pública) são insuficientes perante um problema estrutural. Na sua perspetiva, “devem ser pensadas soluções de incentivo às empresas na contratação dos jovens e na valorização da força laboral”.

O mesmo estudo revela que 27,4% dos jovens que vivem no Grande Porto recorreram a ajudas do Estado para aceder à sua primeira casa (20,2% em Lisboa). E ainda que a grande maioria considera que os atuais apoios da Administração Pública são insuficientes para ajudar os jovens a tornarem-se independentes.  

Além destas ajudas, estes jovens conseguiram emancipar-se com recurso a poupanças próprias (49%) e 22% receberam ajuda dos pais. Para o conseguir, tiveram de fazer um reforço extra: 84% dos jovens tiveram de renunciar a algo, destacando-se as poupanças para o futuro (42%) e as viagens (37%).

“Os apoios à habitação são percecionados como insuficientes e a solução não pode assentar apenas em apoios do Estado. Se formar família continua a ser um dos principais objetivos dos jovens e a mobilidade é um fator determinante, é essencial criar condições que tornem o dia a dia mais acessível”, conclui o CEO da Century 21.

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