A Porta da Frente - imobiliária escolhida pela Christie’s para representar em Portugal as zonas da Grande Lisboa, Cascais e Alentejo - voltou a fintar a crise em 2014, conseguindo duplicar a faturação para entre 3.700 e 3.800 milhões de euros. Em entrevista ao idealista News, Rafael Ascenso, sócio gerente da empresa revela que este ano a aposta passa por “concentrar esforços” no mercado de Lisboa, mas está em aberto a hipótese de abrir um escritório no Algarve.
Que balanço faz do ano de 2014?
Duplicámos a faturação de 2012 para 2013 e voltámos a duplicar de 2013 para 2014, ano em que faturámos 3.700, 3.800 milhões de euros. Foram dois anos muito bons, mas 2014 foi melhor, não só em faturação como na consolidação da Porta da Frente enquanto mediadora de referência neste segmento de mercado [luxo]. Estamos muito contentes com os resultados. Ampliámos muito a nossa estrutura e apostámos em meios de divulgação e em tecnologia.
Em que consistiu essa aposta?
Temos uma presença grande em vários sites internacionais de parceiros. Fizemos uma aposta muito grande no Brasil nos últimos dois anos e meio. Abrimos, em 2014, escritório na Avenida da Liberdade, em Lisboa, o que também trouxe projeção e condições de trabalho diferentes, e reforçámos a equipa: triplicámo-la, temos agora 12 comerciais residentes. Triplicámos também o investimento em tecnologia e em meios de divulgação.
Em Lisboa, tínhamos um escritório na Rua do Salitre e agora temos um com condições muito diferentes. Demos este passo porque definimos que dentro de cinco anos gostávamos de ser a empresa líder de mercado no nosso segmento em Lisboa. Já somos em Cascais. O prazo pode ser encurtado, admito que estejamos no topo dentro de dois, três anos.
"Dentro de cinco anos gostávamos de ser a empresa líder de mercado no segmento de luxo em Lisboa. Já somos em Cascais. E até admito que estejamos no topo dentro de dois, três anos"
Está prevista a abertura de mais lojas/escritórios?
Em Lisboa e em Cascais, para dar melhor resposta, criámos duas equipas de vendas. O crescimento implica maior responsabilidade. Tínhamos um coordenador único para uma equipa em Cascais e outro em Lisboa, agora vamos ter dois com duas equipas, para dar um melhor acompanhamento a todos os comerciais e clientes.
Criámos ainda um departamento só para acompanhar os lançamentos [de novos empreendimentos], para dar o melhor acompanhamento possível aos promotores imobiliários, que é quem confia em nós.
Estamos a procurar replicar em Lisboa a estrutura que temos em Cascais e acho que estamos a conseguir. Acredito que dentro de pouco tempo, se não for já este ano será no próximo, Lisboa vai superar em volume de vendas o volume de Cascais. É um mercado muito maior e tem muito mais potencial.
Como lidaram com a crise que afetou o setor?
Não posso dizer que a crise não passou por nós, mas nunca baixámos a faturação. Tivemos uma estrutura de custos controlada e procurámos novos mercados. Tivemos durante muito tempo escritório em Luanda, Angola, o que permitiu fazer muitas vendas. Depois essa fonte secou e mudámos a agulha para o Brasil, há três anos.
Hoje é dos nossos principais mercados, assim como a França. Nunca entrámos muito no mercado dos chineses, porque é diferente. Gostamos de consolidar a relação com os promotores e clientes e esse é um mercado muito pouco justo para os compradores, porque exigem comissões brutais. Não entrámos muito por ai, apesar de termos tido o primeiro Golden Visa concedido Portugal para um chinês, mas com uma comissão normalíssima. Fizemos vários negócios com os chineses, mas não entrámos nas loucuras das comissões de 15, 20% etc. Não é o caminho certo.
Os Vistos Gold e o Regime Fiscal para Residentes Não Habituais ajudaram a animar o setor?
No evento em São Paulo [a Porta da Frente vai dar a conhecer seis novos empreendimentos de luxo que serão lançados em Lisboa em breve] vai haver uma pessoa só a falar de Golden Visa. Foi das melhores coisas que a nível governamental foi feito nos últimos anos. O mesmo acontece com o Regime Fiscal para Residentes Não Habituais, que tem atraído muitos franceses. Houve outro fator muito importante, que é o facto de o IVA para a reabilitação urbana ser muito inferior ao da construção normal, assim como a isenção de IMT para esses casos e a isenção de IMI durante alguns anos. Promove a reabilitação urbana no centro e dá uma grande dinâmica à cidade.
E o mercado de luxo no Algarve não é uma aposta da Porta da Frente?
Pela afiliação que temos à Christie’s foi-nos atribuída a zona de Lisboa, Vale do Tejo e Alentejo. Onde temos estado a concentrarmo-nos é em Lisboa. Temos algumas herdades no Alentejo, mas não é o nosso “core business”. Tivemos muito tempo ligados ao lançamento do Pestana Troia Eco-Resort e nesta altura estamos a olhar para duas coisas na Comporta, mas queremos concentrar esforços em Lisboa.
Fomos convidados pela Christie’s para abrir um escritório no Algarve e ficarmos com a afiliação da Christie’s no Algarve, é algo que podemos pensar no prazo de um ano, é um objetivo a médio prazo. E no Norte temos outro afiliado da Christie’s, a Luximo’s.
"O imobiliário é um dos setores em que nós, se houvesse uma competição a nível mundial, estaríamos mais fortes"
Considera que está a haver uma retoma no setor? Em 2015 esta tendência vai manter-se?
O imobiliário é um dos setores em que nós, se houvesse uma competição a nível mundial, estaríamos mais fortes. Não há ninguém estrangeiro que não valorize a construção portuguesa, o cuidado que temos com os pormenores e com os acabamentos.
Outra coisa é a questão legal: conservatória, registos, notariado… somos dos países mais avançados a esse nível. Depois temos um valor por metro quadrado (m2) muito abaixo do de outras capitais.
Nós, Porta da Frente, vendemos os imóveis mais caros do país. Em Cascais, no Estoril Sol Residence e no Atlântico Estoril Residence os preços rodam 8.500 e os 10.000/11.000 euros por m2, respetivamente. Em Lisboa, o preço por m2 custa 5.000 ou 6.000 euros. Comparativamente com o centro de Paris (França), Roma (Itália) ou mesmo Madrid (Espanha) ainda estamos muito abaixo. E espero que não suba muito.
Portugal é dos poucos países que não teve bolhas imobiliárias. Há sempre essa tendência, sobretudo por parte dos promotores, que querem ganhar tudo em pouco tempo, mas o nosso mercado sempre conseguiu controlar essa ânsia, espero que se mantenha assim.
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