Ricardo Salgado foi ontem ouvido no Parlamento pela segunda vez, fazendo-se acompanhar de dois advogados e de um consultor de comunicação. Menos sorridente que há quatro meses, trouxe consigo uma longa declaração de 54 páginas. Recusou pedir desculpas, acusou Carlos Costa de “manifesta falta de isenção” e Passos Coelho de desconhecer as regras. E disse ainda que “ninguém na família sabia exatamente o que se passava”.
Segundo o Público, o antigo líder do Banco Espírito Santo (BES) começou por elogiar a comissão e os seus trabalhos “muito relevante”, mas optou depois por um tom de desilusão. “Hoje, que perdi o que foi a minha vida de trabalho de mais de 40 anos, só quero lutar pela minha honra e da minha família, explicando o que fiz”.
Salgado dedicou-se, então, a desmontar as acusações que lhe são feitas na auditoria forense realizada pela Deloitte para o Banco de Portugal (BdP). Uma auditoria na qual Salgado se negou a participar, alegando que ficou “profundamente chocado com o julgamento sumário do governador do BdP”, logo no dia 3 de agosto de 2014. Nessa altura, disse, apercebeu-se que “isto era um julgamento prévio”.
Carlos Abreu Amorim, do PSD, considerou que a intervenção inicial do ex-banqueiro falhara “lamentavelmente” a ocasião por não ter sido “capaz de fazer o que é mais importante”: “Pedir desculpas aos muitos que confiaram em si”. A resposta de Salgado surgiu de seguida. “Com as suas declarações, sinto-me a ser apresentado perante um tribunal. O senhor está a ir para além daquilo que é considerável em termos de justiça”, disse, citando, depois, Fernando Pessoa: “Pedir desculpa é pior do que não ter razão”.
Durante a audição, Ricardo Salgado disse ainda que “ninguém na família [Espirito Santo] sabia exatamente o que se passava” e que não foi a dívida extraordinária da ESI (9.000 milhões de euros) que fez desabar o grupo e o BES. “Não foi isso que fez perder a confiança no BES. Se não tivesse havido confiança não havia aumento de capital”.
“Eu avisei três vezes o BdP do risco sistémico. Incluindo a carta de 31 de maio, que circulou por todos os poderes políticos, incluindo o Presidente da República e o primeiro-ministro”, afirmou. Sobre Pedro Passos Coelho, Salgado fez questão de clarificar duas coisas: “O primeiro-ministro diz que eu me fui queixar do governador. Não foi isso que lá fui fazer. Eu fui lá queixar-me do eminente colapso do grupo”. O outro reparo a Passos é relativo a um encontro que ambos tiveram, em maio de 2014, com Passos a sugerir que Salgado negociasse “com os credores”. Para o ex-líder do BES, isso significa que o primeiro-ministro “não sabia da existência do ring-fencing” que inviabilizava uma solução que envolvesse os credores.
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