
A associação Cáritas já começou a receber pedidos de ajuda de pessoas que não conseguem pagar os seus empréstimos habitação devido à subida das taxas de juro, medida que causou “pânico imediato”, segundo a presidente da instituição, Rita Valadas. “O receio das pessoas, a angústia com que se aproximavam de nós a dizer 'ai, se eu perco a minha casa'. É que nós tivemos uma crise em que houve muita gente a perder a casa; é recente ainda, está na memória das pessoas”, afirmou a responsável.
Em declarações à agência Lusa, indicou que são ainda “pontuais” os casos de pessoas que procuram a ajuda da Cáritas com empréstimos habitação e que não os conseguem pagar devido à subida das taxas de juro, mas que já existem.
As taxas Euribor começaram a subir mais significativamente desde 4 de fevereiro, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter admitido que poderia subir as taxas de juro diretoras este ano devido ao aumento da inflação na zona euro, tendência reforçada com o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro. Hoje, e mantendo a tendência, as taxas Euribor subiram para novos máximos desde o início de 2009 a três, seis e 12 meses.
O medo do incumprimento do pagamento dos empréstimos bancários e de outras despesas que têm aumentado – dos alimentos ao gás, eletricidade e combustíveis - não é apenas sentido por quem não tem emprego, esclareceu Rita Valadas. “Temos pessoas que têm um rendimento, esse rendimento permitia-lhe viver com alguma estabilidade e, de repente, já retiraram todas as gorduras, já passaram às marcas brancas, já fizeram isso tudo e começam a prescindir de consumir determinados alimentos, o que pode ter efeitos na dieta alimentar e na saúde”, adiantou.
"Há muitas pessoas que caíram na pobreza e têm emprego"
E reforçou: “É de facto o que está a acontecer com as pessoas que, embora tendo pensões ou empregos, o seu rendimento não permite comprar tudo o que precisariam para gerir a vida”. Nesse sentido, “estão identificados nos números da pobreza muitos trabalhadores, porque o rendimento é muito baixo e quanto mais aperta o custo de vida, naturalmente para menos chega o rendimento que já é baixo”.
Para a Cáritas, “o rendimento do trabalho não é suficiente para garantir a sustentabilidade de uma família neste momento”. “Sabemos que, abaixo de determinados níveis de rendimento, e depois dependendo se existem doenças, se existem famílias numerosas ou se existem pessoas com deficiência, ou qualquer outro tipo de vulnerabilidade, estas situações agudizam-se”, observou. E sublinhou que, ao contrário do assumido até esta crise, de que o desemprego era uma das razões da pobreza, “agora o emprego também pode ser, se o rendimento do emprego for baixo”.
“É isso que eu acho que é violento pensar, que até há relativamente pouco tempo quem tinha emprego não iria cair na pobreza e, agora, há muitas pessoas que caíram na pobreza e têm emprego, mas tem um rendimento baixo”. Segundo Rita Valadas, as associações como a Cáritas, que distribuem refeições ou géneros, têm conseguido assegurar uma resposta a este primeiro nível, o alimentar.
“As pessoas usam todos os recursos que podem para proteger as coisas que mais as assusta perder, que é a casa, e por isso vêm pedir quando não têm dinheiro suficiente para pagar a renda, a luz, a água, essas despesas que transformam uma vida razoável numa vida insuportável, na sua ausência, e que são aquelas que levam as pessoas a aproximar-se e a pedir ajuda”, explicou.
“Estamos a viver um tempo em que tudo sobe: sobem as rendas, sobe a alimentação, sobe a energia, tudo sobe” e, “quanto mais baixo é o rendimento, mais rápido deixam de conseguir suportar esses custos”.
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