Inflação vai começar a descer em 2023. Mas haverá consequências: o crescimento económico será de apenas 0,5% no próximo ano.
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Subida dos juros pelo BCE
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O regulador europeu liderado por Christine Lagarde voltou a subir os juros diretores em 50 pontos base esta quinta-feira, elevando a taxa de refinanciamento para os 2,5%, o nível mais elevado desde finais de 2008. E admitiu que vai continuar a fazê-lo nas próximas reuniões: “O Conselho do BCE decidiu aumentar as taxas de juro, e espera continuar a aumentá‑las significativamente, porque a inflação permanece demasiado elevada e se projeta que continue acima do objetivo [de 2%] durante demasiado tempo”, revelou o guardião do euro.

"Ainda temos caminho a percorrer", "temos de ir mais longe", "estamos numa longa partida", foram várias as expressões usadas por Christine Lagarde, presidente do BCE, para passar a mensagem de firmeza do banco central, após a última reunião realizada esta quinta-feira.

Depois de ter subido os juros diretores nas duas últimas reuniões em 75 pontos base, o BCE decidiu abrandar o ritmo e optou por uma subida de 50 pontos base nas suas taxas de juro, seguindo a mesma linha de política monetária da Reserva Federal norte-americana e do Banco de Inglaterra.

Após longos anos de dinheiro barato, a instituição começou em julho a subir as taxas de juro, na esperança de arrefecer a atividade económica e travar a inflação. E está, hoje, a subir as taxas de juro ao ritmo mais rápido desde a criação do BCE em 1999.

A verdade é que o regulador europeu deixou bem claro na última reunião que vai continuar a subir “significativamente” os juros diretores nas próximas reuniões, para travar a inflação. Mas quanto? “Devem esperar que continuem as subidas das taxas de juro a um ritmo de 50 pontos base durante algum tempo", avançou Christine Lagarde. E até quando é que os europeus vão ver os juros diretores subir? "Haverá mais aumentos das taxas de juro. Até quando? Sou honesto, [isso] não sei", frisou Luis de Guindos, vice-presidente do banco central, citado pelo jornal El Economista.

Subida de juros pelo BCE
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Inflação na Zona Euro: quando vai baixar?

A subida generalizada dos preços intensificou-se ao longo de 2022 por toda a Europa. Em outubro, a inflação no espaço europeu atingiu os 10,6%, um valor que desceu para 10,0% em novembro. Apesar de a inflação estar a dar sinais de descida, ainda está muito longe do objetivo dos 2% do regulador europeu.

"As taxas de juro têm que subir significativamente e a um ritmo sustentado para alcançar os níveis suficientemente restritivos que assegurem o regresso da inflação a médio prazo ao objetivo de 2%", disse Christine Lagarde na conferência de imprensa que se seguiu à reunião desta quinta-feira.

As previsões do Eurosistema apontam para que a inflação passe de 8,4% em 2022 para 6,3% em 2023. Só em 2024 é que a inflação no espaço europeu deverá descer de forma mais expressiva para 3,4%. E em 2025 deverá alcançar osa 2,3%, já perto dos 2% que o BCE define como objetivo.

Contração económica é esperada no espaço europeu em 2023

Há um ano, o BCE era acusado de laxismo face ao aumento de preços. Mas de julho até dezembro já subiu as taxas de juro diretoras em 250 pontos base para travar a inflação. Contudo, as decisões de política monetária tiveram um preço: a contração da atividade económica.

“A atividade económica na área do euro poderá registar uma contração no presente trimestre e no próximo, devido à crise energética, à elevada incerteza, ao enfraquecimento da atividade económica mundial e às condições de financiamento mais restritivas”, revelou o regulador europeu. Se houvesse uma “uma recessão seria relativamente curta e pouco profunda", frisa ainda.

De acordo com as novas projeções do Eurosistema divulgadas esta quinta-feira, o Produto Interno Bruto (PIB) na área euro deve atingir 0,5% em 2023, contra os 0,9% previstos em setembro. Em 2024, o crescimento será de 1,9% e de 1,8% em 2025.

Inflação na Europa
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Bancos enfrentam custos mais elevados de financiamento

O BCE diz estar preocupado sobre a forma como os bancos vão enfrentar os custos mais elevados de financiamento, sem comprometerem a sua liquidez - que é necessária para fazer face a situações de stress e incerteza, como a que hoje vivemos.

Isto porque os bancos reforçaram o financiamento junto do BCE durante a pandemia, quando a política monetária estava mais flexível do que hoje e previa, inclusive, medidas excecionais de apoio à crise. Mas, ao terem acesso a dinheiro barato do BCE, as instituições financeiras deixaram de recorrer a outras formas de financiamento mais caras, escreve o Expresso.

Acontece que, num momento em que os juros do BCE estão a subir e a política monetária está menos flexível, os bancos vão ter de voltar a recorrer a formas alternativas de financiamento mais caras e com prazos mais curtos, lê-se na nota publicada pelo Conselho de Supervisão do BCE citada pelo mesmo jornal. Este cenário “irá colocar pressão nos rácios prudenciais e na rentabilidade, nomeadamente num ambiente de crescentes riscos económicos e de aperto progressivo da política monetária”, refere ainda a mesma publicação.

“Os bancos podem enfrentar estes desafios relativos ao financiamento quando regressarem às fontes de financiamento do mercado primário numa altura em que estas se tornam mais caras e em que desceu o apetite pelo risco dos investidores”, comentaram Kerstin aj Jochnick, membro do Conselho de Supervisão do BCE, e , e Mario Quagliariello, diretor de estratégia de supervisão, nesta nota. “Isso pode afetar a rentabilidade dos bancos e a sua capacidade para manter os atuais riscos de liquidez e financiamento”, reforçam.

Por seu turno, o BCE limitou-se a dizer no comunicado esta quinta-feira divulgado que terá a situação dos bancos debaixo de olho. “Como os bancos estão a reembolsar os montantes dos empréstimos obtidos no âmbito das operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas, o Conselho do BCE avaliará regularmente a forma como estas operações estão a contribuir para a orientação da política monetária”, lê-se no documento.

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