Os mercados monetários e financeiros já estão a aguardar um novo aperto monetário na próxima reunião do Banco Central Europeu (BCE), que vai decorrer esta quinta-feira, dia 2 de fevereiro de 2023. E, segundo vários economistas e membros do Conselho do BCE, tudo indica que a nova subida das taxas de juro diretoras será de 50 pontos base. Já as previsões para os novos aumentos não são animadoras: os especialistas da Economist Intelligence Unit (EIU) acreditam que os juros de referência na Zona Euro vão chegar a 4% em meados de 2023 e só vão começar a descer no terceiro trimestre de 2024.
Assim vão evoluir os juros do BCE, segundo o estudo da EIU:
- aumento de 50 pontos base em fevereiro e outro de igual dimensão em março;
 - subida de 25 pontos base em maio e outra igual em junho.
 
Isto quer dizer que a taxa de refinanciamento que está hoje em 2,5% deverá aumentar 150 pontos na primeira metade de 2023, chegando aos 4% em junho. Este será o nível máximo esperado pelos especialistas da EIU, que foi atingido a um ritmo duas vezes mais rápido do que no último ciclo de aperto em 2005/08, que marca a crise financeira global.
Depois disso, os economistas estimam que “as taxas de juro da Zona Euro se mantenham neste nível máximo [de 4%] durante, pelo menos, um ano, com o primeiro corte de taxas a ocorrer no terceiro trimestre de 2024”, tal como antecipam no estudo citado pelo Dinheiro Vivo. Mas se a inflação voltar a subir devido a um agravamento inesperado da guerra na Ucrânia ou da cadeia de abastecimento de matérias-primas, os juros do BCE poderão começar a descer ainda mais tarde.
A evolução dos juros diretores na Zona Euro deverá assumir uma trajetória semelhante à subida das taxas de referência nos EUA. Os mesmos economistas preveem que a Reserva Federal dos EUA (Fed) também continue a subir os juros até meados 2023 – embora estejam num nível bem mais elevado do que os juros na Zona Euro, entre 4,25% e 4,50%. As suas análises apontam para que o BCE e o Fed atinjam as taxas máximas em 2023.
"Para já, esperamos que Fed e BCE consigam domar a inflação sem provocar uma recessão global profunda, mas os riscos são elevados", avisam os especialistas.
Recorde-se que o BCE começou a subir as taxas de juro em julho, tendo sido criticado pela resposta monetária tardia perante a subida da inflação que já se fazia sentir – e muito. Desde julho até dezembro, subiu os juros em 250 pontos base. E novas subidas já foram anunciadas por Christine Lagarde: as taxas de juro devem continuar a subir "a um ritmo de 50 pontos base durante algum tempo”, porque a inflação continua “demasiado elevada”, avisou a líder do BCE no final da reunião de política monetária que se realizou a 15 de dezembro. Esta é também a perspetiva de vários membros do Conselho do BCE, como é o caso de Klaas Knot, presidente do banco central dos Países Baixos, e de Peter Kazimir, governador do Banco da Eslováquia.
Quais são os países mais expostos à subida dos juros pelo BCE?
Numa análise aos riscos da subida dos juros pelo BCE para as economias europeias, os especialistas da EIU admitem que os países com maiores dívidas a taxas de juro variáveis são os que estão mais expostos ao atual cenário monetário.
"As taxas de juro mais elevadas aumentarão os custos para as empresas no pagamento dos juros da sua dívida. As empresas em Itália e Espanha têm uma quota muito mais elevada de dívida a taxa variável e a vencer no curto prazo do que as da França e da Alemanha, e estarão, portanto, expostas mais cedo ao atual ciclo de aperto do BCE", dizem os economistas citados pelo mesmo jornal.
O raciocínio é válido também para as famílias endividadas, sobretudo, com créditos habitação. "Os mercados imobiliários de Itália e Espanha estão entre os mais expostos ao aperto do BCE, dada a grande percentagem de créditos habitação com contratos de taxa variável", referem os especialistas.
“Apenas 25% dos empréstimos concedidos às famílias são a taxas fixas em Itália e Espanha, comparando com cerca de 90% em França e Alemanha”, referiu o BCE. Mas, pelo menos em Espanha, esta realidade está a mudar. Com a subida dos juros, o número de novos contratos de empréstimos habitação a taxa fixa disparou em 2022 totalizando 71,3% do volume global de contratos assinados no país vizinho, segundo aponta o Instituo Nacional de Estadística espanhol.
Em Portugal, a taxa de juro variável representa 90% do stock de empréstimos para a compra de habitação própria permanente, apontam os dados do Banco de Portugal (BdP). Isto quer dizer que a grande maioria das famílias portuguesas com crédito habitação está hoje exposta à volatilidade das taxas Euribor, que variam intimamente com a evolução dos juros diretores do BCE.
O governador do BdP, Mário Centeno, já avisou no relatório de estabilidade financeira de novembro, que “a desaceleração económica e a subida da inflação, conjugadas com aumentos adicionais das taxas de juro de mercado, poderão deteriorar a situação financeira dos particulares, em especial entre os mais vulneráveis e num contexto de taxa de poupança reduzida, aumentando o seu risco de incumprimento”.
Ainda assim, o BdP acredita que há vários fatores que tornam o sistema bancário mais resiliente e que mitigam o risco de incumprimento do crédito habitação em Portugal, como é o caso da redução do rácio de endividamento dos particulares, a melhoria do perfil de risco dos novos mutuários e a estabilidade do mercado de trabalho.
 
 
 
 
 
 
 
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