Reis Campos, presidente da CPCI e da AICCOPN, adianta que "o parque habitacional público não aumentou", sendo inferior a 2%.
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É preciso apostar a sério na construção e reabilitação de casas, alerta Reis Campos
Manuel Reis Campos, líder da CPCI e AICCOPN CPCI/AICCOPN

É preciso aumentar a oferta de casas em Portugal para gerar habitação a preços acessíveis. Com mais ou menos polémicas, esta é, de forma unânime, a ideia defendida pelos vários players do setor imobiliário e da construção no país. É também uma aposta do Governo, que diz estar focado em dinamizar o mercado de arrendamento, sendo, por exemplo, esse um dos objetivos a que se propõe com o programa Mais Habitação. Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), põe o dedo na ferida e de forma taxativa diz que “não se construiu ou reabilitou (o suficiente) nos últimos 12 anos em Portugal”. Nem o Estado, nem os privados.

Durante a sua intervenção na sessão de abertura da X edição da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa (SRUL) – decorre até sexta-feira (31 de março de 2023) no LX Factory e volta a ter o idealista como portal oficial –, o especialista avançou com alguns números que permitem fazer uma espécie de raio-x ao setor do imobiliário e da construção em Portugal nos últimos anos, apoiando-se em dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) e dos Censos 2021. 

Recordou que se dizia, há cerca de 12 anos, que havia casas a mais no país – “em 2011, existiam 4 milhões de famílias e 5,9 milhões de alojamentos” – e lamentou o facto de os governos terem alinhado “com essa ideia”, o que fez com que não conseguissem “prever a situação” atual que se vive. 

Salientando que a habitação e a reabilitação urbana são e têm de ser o tema da atualidade, Reis Campos alertou para a necessidade de haver uma “resposta integrada, estruturada, duradoura e com impacto imediato”. 

“Em termos práticos, não se construiu nem se reabilitou nos últimos 12 anos. O parque habitacional público não aumentou, é inferior a 2%, continuamos a ter cerca de 120 mil habitações. O setor privado também não construiu o suficiente. Nesta década, o número de fogos novos totalizou 152 mil, ou seja, 15 mil habitações por ano. Na década anterior tínhamos construído 68 mil habitações por ano”, revelou o líder da CPCI. 

Número de edifícios (só) cresceu 0,8% e de fogos 1,8% em 10 anos

Reis Campos adiantou que Portugal tem praticamente 3,6 milhões de edifícios, cerca de 6 milhões de fogos de habitações, salientando que, nos últimos dez anos, o número total de edifícios cresceu 0,8% e o número total de fogos 1,8%. Paralelamente, a população diminuiu, cerca de 102 mil pessoas, mas as famílias aumentaram, passou a haver mais 105 mil. “Ou seja, a construção foi inferior às necessidades do país”, frisou.  

É preciso construir e reabilitar mais casas em Portugal
Foto de Natalia Y. na Unsplash

Há mais 98 mil edifícios a precisar de obras urgentes que em 2011 

No caso concreto da reabilitação de imóveis residenciais, considerou que “pode afirmar-se que o país não reabilitou o suficiente, nem para manter o parque habitacional”. “De acordo com os Censos 2021, o número de edifícios com necessidade de reparação aumentou de um milhão, números redondos, para um milhão 280 mil edifícios. Ou seja, em 2011, tínhamos com necessidades de reparação significativa 400 mil edifícios, hoje, passado dez ou 11 anos, temos 498 mil edifícios a necessitar de obras urgentes”, contou. 

Ainda a propósito deste tema, o também presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras públicas (AICCOPN) adiantou que nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto há cerca de 113 mil edifícios a precisar de reparações significativas.

Construção modular: uma aposta que é essencial 

Reis Campos destacou ainda, na sua intervenção na SRUL, a necessidade e importância de apostar na promoção e “desenvolvimento de habitação promovendo soluções inovadoras como a construção modular”. “É uma área que permite mais rapidez na execução da obra, baixar os custos de construção, carece de menor alocação de mão de obra, que atualmente é escassa, e confere ganhos em termos de eficiência energética”, indicou, lamentando, no entanto que não vê “plasmado” no Mais Habitação “qualquer apoio ou incentivo à construção modular”. 

PRR? Aplicação está “aquém das expectativas” 

Relativamente ao “uso” que está a ser dado ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no setor, Reis Campos deixou também um recado. “Temos verbas europeias no montante de 2,2 mil milhões de euros destinados à habitação, a que acrescem 616 milhões para a melhoria da eficiência energética dos edifícios. Até ao momento a sua aplicação ficou aquém das expectativas, mas estou convicto que estão a ser reunidas condições para que em 2023 se cumpra o planeamento e ocorra um verdadeiro aumento do investimento publico”, concluiu.

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