
O crédito malparado na Europa caiu 1,3% entre o verão de 2023 e o mesmo período do ano anterior. E Portugal foi um dos países europeus com melhor desempenho na redução de crédito malparado último ano. O sistema financeiro nacional contabilizou 5.600 milhões de crédito em incumprimento no terceiro trimestre de 2023, menos 22% face aos 7.200 milhões registados registados no mesmo período do ano anterior, conclui um estudo da Prime Yield. Esta redução do volume de crédito malparado no sistema financeiro português explica também o facto de haver menos ativos deste tipo à venda. Mas o mercado deverá animar em 2024
No conjunto dos países europeus, foi registado um stock de crédito malparado (NPL – Non-Performing Loans, na sigla inglesa) de 362.700 milhões de euros no terceiro trimestre de 2023, menos 1,3% face ao período homólogo. E Portugal foi um dos países da União Europeia que mais contribuiu para esta redução. Apenas a Grécia, com um stock de NPL de 8.300 milhões de eros, e a Croácia (com stock de NPL pouco abaixo dos 1.000 milhões de euros), registaram maiores reduções do que Portugal, com decréscimos em torno dos 25%, conclui a Prime Yield no seu estudo “Keep an Eye on the NPL&REO Markets – Portugal, Spain, Greece and Brazil” enviado às redações.
Ao analisar à lupa a dinâmicas de crédito malparado em Portugal, o estudo conclui que tanto as famílias como as empresas registaram reduções importantes no montante em incumprimento:
- As empresas continuam a gerar o maior volume de crédito malparado, 63% do total nacional (cerca de 3.500 milhões de euros). Mas são também registaram a maior redução de stock em termos homólogos (-24%). Do montante de malparado nas empresas, 46% diz respeito a crédito com garantias imobiliárias, ou seja, 1.600 milhões de euros.
- As famílias assumem 34% do crédito em incumprimento no país, no valor de 1.900 milhões euros, que caiu 17% em termos homólogos. Salta ainda à vista que mais de metade do crédito malparado das famílias está concentrado no crédito habitação (cerca de 1.000 milhões de euros.

Rácio de NPL em Portugal fica abaixo dos 3% pela 1.ª vez
Já face ao trimestre anterior, o montante de NPL na Europa aumentou 0,5%, muito devido ao facto de mais de metade dos países da União Europeia aumentaram ou estabilizaram o seu stock de crédito malparado em termos trimestrais. Mas Portugal contrariou essa tendência, observando-se uma redução de 11% no volume de NPL em termos trimestrais, destacam ainda.
Também o rácio de NPL - que corresponde ao peso dos empréstimos em incumprimento sobre o total dos empréstimos concedidos - evoluiu positivamente em Portugal no último ano, fixando-se em 2,8% no verão de 2023. Esta foi mesmo a primeira vez que o rácio de NPL em Portugal ficou abaixo dos 3%. Ainda assim, Portugal mantém um dos rácios mais elevados na Europa, que se situou em 1,8%.
“O progresso do último ano dá continuidade à forte desalavancagem do pós-crise financeira, a qual resulta, por um lado, da maior solidez da banca, que atualmente pratica condições de concessão de crédito mais restritivas e que simultaneamente fortaleceu os níveis de provisionamento. Isso resultou numa redução do volume de crédito malparado detido no sistema financeiro, enquanto não se registaram novas vagas de incumprimento”, explica Francisco Virgolino, managing diretor da Prime Yield, citado no documento. Por outro lado, "esta desalavancagem traduz também a intensa dinâmica de vendas de carteiras de crédito malparado dos últimos anos”, acrescenta.

Venda de carteiras de crédito malparado a cair – mas deverá “animar” em 2024
Esta redução do volume de crédito malparado no sistema financeiro português explica também facto de haver menos ativos deste tipo à venda no mercado. “O universo de carteiras ativas para negociação tem vindo a reduzir-se e a atividade transacional a perder dinâmica”, analisa Francisco Virgolino.
Em Portugal, a venda de carteiras de crédito em incumprimento terá atingido 1.400 milhões de euros em 2023, numa diminuição de 18% face ao valor transacionado em 2022 (o qual já havia caído 55% face ao ano anterior). De notar que o valor estimado de vendas de carteiras de NPL para 2023 só supera os cerca de 1.000 milhões de euros em transações contabilizados em 2020, ano em que atividade praticamente paralisou devido à chegada da pandemia, aponta o mesmo estudo.
O que se sente hoje é que há “menos carteiras a chegar ao mercado e as que chegam têm menor dimensão do que antes”, o que leva a “uma quebra nos volumes de NPL transacionados”, refere ainda o diretor da Prime Yield. Mas tudo indica que a “transação de NPL em Portugal em 2024 deverá animar, sendo especialmente dinamizada pelo mercado secundário, onde devem surgir mais oportunidades. Paralelamente, assistir-se-à a uma maior atividade nas vendas corporativas de servicers, seguindo a tendência internacional de consolidação deste segmento”, prevê.
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