
Descarbonização. Eficiência energética. Sustentabilidade. Tecnologia. Inteligência Artificial (IA). Tudo termos que passaram a fazer parte do léxico relacionado com o setor imobiliário e da construção. Em entrevista ao idealista/news, Rui Ferreira, líder da área de negócio Electrification da ABB (multinacional com sede na Suíça) em Portugal, diz não ter dúvidas de que “há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à descarbonização do setor imobiliário”, sendo o setor da construção e a utilização de edifícios responsáveis por uma parte significativa das emissões de CO2.
Nem tudo está a ser mal feito a nível nacional, atesta o especialista, considerando, no entanto, que é possível ir mais longe. “É importante termos em mente que apenas é possível reduzir consumos se os medirmos e tivermos conhecimento de quanto estamos a gastar. Para isso, podemos instalar sensores com software que nos permita alcançar a neutralidade carbónica dos edifícios”, sugere.
Entre os vários temas abordados na entrevista está a necessidade e importância de promover a automação e a digitalização das casas, que “começa com a criação de um ‘gémeo digital’ da habitação, o que envolve a instalação de sensores de temperatura, iluminação, movimento e monitorização de consumos”. Segundo Rui Ferreira, esta “base permite integrar energias renováveis, como painéis solares, com sistemas de baterias de armazenamento, que podem ser geridos de forma inteligente, tal como todos os outros recursos”.

Fale-nos um pouco sobre a história da ABB em Portugal. O que faz ao certo a empresa e de que forma a sua atividade impacta o setor imobiliário, nomeadamente no segmento residencial?
A ABB é uma empresa global que está presente em 100 países, e em Portugal desde os anos 50, representando diretamente três das quatro áreas de negócio: a Motion, a Electrification e a Robotics & Discrete Automation.
A empresa fornece equipamentos e software que melhoram o desempenho elétrico, a eficiência energética e a automação em edifícios comerciais e residenciais. No segmento residencial, a ABB contribui para a sustentabilidade, segurança e modernização dos edifícios, através das suas soluções de gestão energética, automação predial e infraestruturas para a mobilidade elétrica. Estas soluções têm um impacto direto na valorização dos imóveis e na qualidade de vida dos moradores.
“A ABB é uma empresa global líder em engenharia que energiza a transformação da sociedade e da indústria para alcançar um futuro mais produtivo e sustentável”, lê-se no site da empresa. Explique-nos o que isto significa?
Na prática, o compromisso da ABB é ajudar os clientes a superar os seus desafios. Para esse efeito, disponibilizamos soluções de eficiência energética e de mobilidade elétrica que permitem o desenvolvimento de cidades inteligentes.
A ABB fabrica carregadores para veículos elétricos, que equipam tanto habitações particulares como infraestruturas complexas de carregamento. A empresa também desenvolve tecnologias que otimizam o uso da energia, melhoram a segurança e facilitam a integração de fontes renováveis.
Sustentabilidade e eficiência energética são temas que estão na ordem do dia. Há ainda um caminho a percorrer no setor imobiliário rumo à descarbonização? O que pode ser feito?
De facto, há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à descarbonização do setor imobiliário. O setor da construção e a utilização de edifícios são responsáveis por uma parte significativa das emissões de CO2.
"Há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à descarbonização do setor imobiliário. O setor da construção e a utilização de edifícios são responsáveis por uma parte significativa das emissões de CO2"
Atualmente, já existem avanços e medidas significativas neste sentido, como a obrigatoriedade da certificação energética e os programas de reabilitação urbana que valorizam a eficiência energética. No entanto, acredito que podemos ser mais ambiciosos e fomentar a utilização de soluções integradas que combinem painéis solares com baterias e o uso de carregadores elétricos.
Além disso, é importante termos em mente que apenas é possível reduzir consumos se os medirmos e tivermos conhecimento de quanto estamos a gastar. Para isso, podemos instalar sensores com software que nos permita alcançar a neutralidade carbónica dos edifícios.

De que forma a automação e a digitalização das casas podem contribuir para a redução do consumo energético e a otimização de recursos?
A automação e digitalização das casas começa com a criação de um "gémeo digital" da habitação, o que envolve a instalação de sensores de temperatura, iluminação, movimento e monitorização de consumos. Esta base permite integrar energias renováveis, como painéis solares com sistemas de baterias de armazenamento, que podem ser geridos de forma inteligente, tal como todos os outros recursos.
Por exemplo, as soluções ABB free@home permitem uma gestão e otimização inteligentes dos recursos, com resultados que podem chegar a uma melhoria de 30% na eficiência. Além disso, a produção fotovoltaica aliada a um sistema de baterias de armazenamento pode alcançar um autoconsumo de até 70% da energia solar, recorrendo a uma gestão inteligente.
Que características pode e/ou deve ter uma casa “moderna” para que seja mais segura e confortável, nomeadamente em termos de sistemas de iluminação, climatização etc.?
Uma casa "moderna" deve integrar tecnologia que aumente a segurança, o conforto e a eficiência energética. A iluminação inteligente é essencial, permitindo regular a intensidade e o uso da iluminação de acordo com a luz natural e a utilização da casa. Quanto aos sistemas de climatização, estes devem permitir regular a temperatura de acordo com as condições exteriores e os hábitos dos moradores.
"Uma casa 'moderna' deve integrar tecnologia que aumente a segurança, o conforto e a eficiência energética. (...) Já existem casas modernas, sustentáveis e autónomas a ser construídas em Portugal. Contudo, gostaríamos que a percentagem destas habitações fosse muito maior do que é atualmente"
A segurança é reforçada por sistemas de alarme integrados, permitindo interagir com a casa e aceder a informações sobre a mesma em qualquer lugar. Com estes sistemas, pretende-se que a casa consuma apenas a energia necessária e esteja sempre conectada.
Estas casas “modernas”, sustentáveis e “autónomas” já estão a ser construídas em Portugal? O que as distingue das chamadas casas “tradicionais”?
Sim, já existem casas modernas, sustentáveis e autónomas a ser construídas em Portugal. Contudo, gostaríamos que a percentagem destas habitações fosse muito maior do que é atualmente. Além de contribuírem de forma significativa para a diminuição da pegada de carbono, estas casas proporcionam, a médio prazo, poupanças económicas e níveis de conforto que as habitações tradicionais simplesmente não conseguem oferecer.

Há diferenças entre a automação residencial e a automação para edifícios que não sejam residenciais, como por exemplo escritórios? Quais?
A automação em edifícios não residenciais, como escritórios, tende a ser mais complexa e de maior dimensão. Isto deve-se ao facto de envolver a gestão integrada de vários sistemas (iluminação, climatização, segurança, controlo de acessos e equipamentos técnicos) que suportam um grande número de utilizadores e necessidades diferentes ao longo do dia. Por isso, os sistemas de controlo devem ser mais robustos, com capacidade para gerir diferentes ambientes.
Por outro lado, a automação residencial é mais simples e está focada na otimização do consumo energético individual da habitação, integrando soluções como a autoprodução solar, baterias para armazenamento de energia e carregadores para veículos elétricos.
Tudo isto, presumo, terá um preço para o consumidor. Quanto custa ter uma casa sustentável, autónoma e digital e como se pode conseguir tornar os custos mais acessíveis à generalidade das pessoas?
Investir numa casa sustentável, autónoma e digital implica um custo inicial que pode ser significativo para muitos consumidores. A automação completa de um apartamento T3, por exemplo, pode representar um investimento entre 3.000 e 4.000 euros. Já a instalação de painéis solares e de baterias de armazenamento pode elevar o custo para valores entre 15.000 e 20.000 euros.
"A automação completa de um apartamento T3, por exemplo, pode representar um investimento entre 3.000 e 4.000 euros. Já a instalação de painéis solares e de baterias de armazenamento pode elevar o custo para valores entre 15.000 e 20.000 euros"
No entanto, estes valores devem ser considerados como um investimento a médio prazo, tendo em consideração os benefícios, tais como, uma fatura energética mensal reduzida, maior conforto, segurança e valorização do imóvel. Para tornar estes custos mais acessíveis, existem várias opções a considerar, como incentivos e subsídios públicos, financiamentos específicos para a eficiência energética ou planos de implementação faseados, que permitem distribuir o investimento ao longo do tempo.

É correto afirmar que estas soluções, que permitem a existência de casas mais eficientes energeticamente, contribuem para o desenvolvimento de cidades mais inteligentes e sustentáveis?
Sem dúvida. As cidades inteligentes são constituídas por infraestruturas e edifícios inteligentes e sustentáveis. A ligação de um conjunto de edifícios inteligentes facilita a produção e gestão locais de energia, recorrendo a fontes renováveis. Quanto maior for o sistema local, ou seja, a cidade, mais fácil é produzir, consumir e gerir a energia de forma inteligente, reduzindo os desperdícios e criando micro-redes em que os vizinhos consomem a energia produzida pelos painéis solares de outros vizinhos, diminuindo as perdas na rede, uma vez que quase se elimina o transporte de energia.
Considera que a tecnologia e a IA estão também a transformar o ambiente doméstico e a contribuir para uma sociedade mais sustentável? Porquê?
A ABB está focada em desenvolver soluções de IA aplicadas ao ambiente doméstico. Numa casa "moderna" equipada com sensores, os algoritmos de IA conseguem "aprender" os hábitos dos moradores e agir de forma inteligente para otimizar o consumo energético. Por exemplo, durante o dia, quando a casa está vazia, a IA pode reduzir automaticamente a temperatura, desligar a iluminação e iniciar o carregamento do carro elétrico, aproveitando a energia gerada pelos painéis solares e tendo em conta a luz natural disponível.
"Numa casa 'moderna' equipada com sensores, os algoritmos de IA conseguem 'aprender' os hábitos dos moradores e agir de forma inteligente para otimizar o consumo energético"
Estas ações não só aumentam o conforto e a conveniência, como também reduzem o desperdício de energia.

Acompanha toda a informação imobiliária e os relatórios de dados mais atuais nas nossas newsletters diária e semanal. Também podes acompanhar o mercado imobiliário de luxo com a nossa newsletter mensal de luxo.
Segue o idealista/news no canal de Whatsapp
Whatsapp idealista/news Portugal
Para poder comentar deves entrar na tua conta