Indice de Justiça Intergeracional agravou-se após a pandemia, tendo o indicador relativo à habitação descido de 0,46 em 2019 para 0,23 em 2023.
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Crise na habitação em Portugal
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O Índice de Justiça Intergeracional (IJI) agravou-se no período pós-pandemia, sobretudo devido à deterioração dos indicadores de habitação e saúde, revelam dados divulgados esta quinta-feira (4 de dezembro de 2025) pela equipa de investigadores que desenvolve o projeto. O IJI caiu de 0,50 em 2021 para 0,43 em 2023, numa escala de zero a um, de acordo com o relatório elaborado pelo Institute of Public Policy (IPP), o "think tank" do ISEG, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

O estudo “Que Futuro Deixamos Às Próximas Gerações? - Um Índice de Justiça Intergeracional para Portugal” conclui, por exemplo, que a crise na habitação que se vive no país contribuiu para agravar a injustiça entre gerações.

"A principal diferença [face ao estudo anterior] foi que enquanto até 2020 havia uma melhoria na justiça intergeracional, de 2020 a 2023 o índice piora”, disse à Lusa o coordenador do trabalho, Paulo Trigo Pereira.

A análise dos dados, com a qual se pretende contribuir para melhorar as políticas públicas, contempla seis áreas: ambiente, saúde, mercado de trabalho, habitação, condições de vida e finanças públicas. E, de acordo com Paulo Trigo Pereira, as dimensões da saúde e da habitação “degradaram-se significativamente”.

O indicador relativo à habitação, que em 2019 se situava em 0,46, foi calculado em 0,23 em 2023, sendo que a aproximação à unidade (1) significa mais justiça intergeracional. Quanto mais perto de zero, menor a justiça para “as gerações jovens e vindouras”, explicou o coordenador.

O indicador relativo à habitação, que em 2019 se situava em 0,46, foi calculado em 0,23 em 2023, sendo que a aproximação à unidade (1) significa mais justiça intergeracional

Para avaliar a situação da habitação, os especialistas ponderaram fatores como o esforço para aceder a uma casa, a sobrecarga das despesas, a autonomia e as condições de habitação.

Paulo Trigo Pereira destacou que Portugal é dos países com maior percentagem de jovens até aos 35 anos a viverem em casa dos pais. “Isto tem vindo sempre a aumentar e este indicador é um dos responsáveis pela queda do índice da habitação. Outro responsável é a acessibilidade”, acrescentou, referindo-se à relação entre preço e rendimento que pesa nesta equação.

“Penso que existe um certo fracasso nas políticas de habitação” lamentou Paulo Trigo Pereira.

Crise na habitação em Portugal
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Questionado pela Lusa, o economista considerou que as políticas dos anteriores governos e do atual não respondem de forma eficaz ao problema. “E não estão a compreender a gravidade, do ponto de vista intergeracional, do problema da habitação”, acentuou.

"[As políticas dos anteriores governos e do atual] não estão a compreender a gravidade, do ponto de vista intergeracional, do problema da habitação”
Paulo Trigo Pereira, coordenador do estudo

Na opinião de Paulo Trigo Pereira, a resposta a um dos “maiores problemas da sociedade portuguesa” implicaria uma coordenação de várias áreas, por forma a conseguir aumentar a oferta, acabar com os vistos gold, que estão a “inflacionar o mercado especulativo”, “restringir fortemente” o Alojamento Local em zonas onde é predominante, e dinamizar o mercado de arrendamento de longa duração, com mais intensidade.

Para Paulo Trigo Pereira, o problema da habitação não se resolve com a construção de 50.000 ou 70.000 casas. “Não basta aumentar a oferta. Há um conjunto de medidas que deviam ser coerentes e todas apontar para o mesmo sentido e não em sentidos contrários, que é o que está a acontecer“, sustentou o professor universitário que coordenou o estudo.

*Com Lusa

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