Prata atinge preço recorde após o ouro: como investir no metal “pobre”

Em 2025, a valorização do ouro ganhou destaque. E a prata também teve um desempenho positivo, atingindo novos preços recorde. Os fatores que têm impulsionado o preço da prata são semelhantes aos do ouro: numa altura de elevada incerteza geopolítica, aumenta a procura por ativos seguros a longo prazo. É o caso destes metais preciosos que têm atraído muito investimento não em formato físico, mas financeiro (como ETF’s e fundos). Tentamos entender o que está a acontecer com a ajuda de Ned Naylor-Leyland, gestor do fundo Jupiter Gold & Silver.

Prata: mais volátil que o ouro, mas igualmente importante na história

“A prata é, por vezes, considerada o metal monetário menos conhecido, tendo um papel secundário, enquanto o ouro atrai a atenção dos investidores”, destaca Ned Naylor-Leyland.

“No entanto, os fundamentos da prata são igualmente significativos. Tal como o ouro, a prata tem sido usada como moeda desde a antiguidade. Aliás, a prata foi muito mais difundida do que o ouro como padrão monetário global, desde cerca de 3000 a.C. até ao século XIX. O economista americano Milton Friedman (1912-2006) argumentou que o principal metal monetário ao longo da história é a prata e não o ouro. Tradicionalmente, a prata tem sido a moeda do povo comum, em parte porque uma onça deste metal vale uma fração de uma onça de ouro", explica o especialista ao idealista/news.

Deixando de lado as avaliações históricas, o gestor acredita que "a prata, assim como o ouro, é um metal monetário fundamental que os investidores devem considerar. Os preços da prata tendem a acompanhar os movimentos do ouro. Isto quer dizer que o ouro geralmente se move primeiro e a prata segue-o. Além disso, a prata tende a ser mais volátil do que o ouro, o que significa que pode flutuar para cima e para baixo com mais frequência do que o metal dourado. Isso reflete, em parte, o facto de o mercado da prata ser mais limitado do que o mercado do ouro”, esclarece ainda.

As flutuações do ouro e o preço da prata

Este ano, o preço do ouro atingiu uma série de máximos históricos, que, segundo Ned Naylor-Leyland, refletem expectativas de taxas de juro mais baixas, um dólar mais fraco, preocupações do mercado com as finanças do Governo norte-americano e reforça o ‘status’ do ouro como um porto seguro em tempos de incerteza geopolítica e de mercado.

"O ouro é visto como um porto seguro, porque historicamente tem conseguido manter o seu valor em tempos de turbulência económica ou geopolítica. Os bancos centrais de todo o mundo continuaram a aumentar as suas compras de ouro nos últimos anos, em parte por esse motivo. Da mesma forma, o preço da prata subiu acentuadamente este ano devido aos mesmos fatores que impulsionaram a valorização do ouro”, acrescenta.

A prata também é vista como um porto seguro. Este domingo, dia 28 de dezembro, o preço da prata voltou a atingir um recorde de 84 dólares por onça (71,35 euros por onça de 28,3 gramas), segundo a agência económica Bloomberg, depois de já ter quebrado a barreira dos 75 dólares/onça na sexta-feira.

O ouro, por sua vez, não conseguiu superar o seu máximo histórico 4.549,92 dólares/onça (3.864,21 euros/onça), atingido igualmente na sexta-feira, ficando nos 4.549,64 dólares/onça, baixando 0,83% pelas 6:15 horas.

Créditos: pt.investing.com

Prata: um recurso escasso, mas essencial para a indústria

Há outro aspeto da prata que raramente é considerado, mas que a distingue do ouro. "Existe uma escassez estrutural de prata. Os stocks do metal branco estão a ser consumidos mais rapidamente do que são repostos pela mineração ou reciclagem", enfatiza o gestor da Jupiter. "Isso deve-se ao seu uso industrial. Além de ser usada como reserva de valor monetário, a prata tem um valor real como metal industrial, graças às suas propriedades, como a alta condutividade elétrica, superior à de qualquer outro elemento, e o seu excelente desempenho como catalisador em reações químicas. Mais de 60% da oferta de prata é absorvida pelo uso industrial", salienta.

Na verdade, a prata está presente em praticamente todos os dispositivos eletrónicos, desde painéis solares a purificadores de água, de smartphones a veículos elétricos, semicondutores e sistemas de radar.

“Segundo dados do Silver Institute (uma organização internacional sem fins lucrativos que representa os interesses de toda a cadeia de fornecimento da prata), a procura industrial por prata cresceu 4% em 2024, atingindo 680,5 milhões de onças, um recorde pelo quarto ano consecutivo. Além disso, no ano passado, a procura por prata superou a oferta, também pelo quarto ano consecutivo. Acreditamos que a escassez de prata será possível de gerir até certo ponto”, especifica Ned Naylor-Leyland. "Mas, ao contrário do ouro, não existem reservas estratégicas", alerta.

Como investir em prata?

Segundo o gestor, apesar do aumento dos preços da prata e do ouro, os investidores tradicionais não participaram da sua valorização este ano tanto quanto nos anos anteriores. 

“As reservas físicas de metais preciosos mantidas por ETFs estão abaixo dos níveis máximos atingidos em 2020 (para o ouro) e 2021 (para a prata). A maior parte da atividade de negociação deste ano foi impulsionada por investidores mais sofisticados, como fundos de ‘hedge’ (…). No entanto, esperamos uma mudança. Muitos investidores têm exposição limitada ou nenhuma a metais preciosos, especialmente à prata, um metal menos conhecido. Acreditamos que isso seja um erro e que os metais preciosos devam fazer parte de um portefólio de investimentos bem diversificado”, explica.

Uma forma alternativa de investir em prata e ouro é através de ações das empresas que extraem esses metais. A rentabilidade das empresas de mineração de ouro e prata está a aumentar juntamente com o preço dos metais. E Ned Naylor-Leyland acredita que estas “ações estão a ser negociadas a preços atrativos, abaixo das suas médias de longo prazo”.

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Prata financeira e prata física: o que é preciso saber

Além de investir em ações de empresas de extração destes metais, é possível adquirir instrumentos financeiros indexados à prata, como ETCs (Exchange Traded Commodities) e CFDs (Contracts for Difference). 

Embora os ETCs sejam mais fáceis de usar por serem negociados continuamente em mercados regulamentados (atualmente existem oito disponíveis), os CFDs são mais adequados para ‘traders’ experientes, pois permitem especular sobre as oscilações do preço da prata e, portanto, lucrar tanto com altas como baixas.

Também se pode investir em prata por via do metal físico, assim como o ouro (em barras e moedas), mas aí será preciso cuidar da sua segurança e preservação (ao contrário do que acontece nos instrumentos financeiros). Quem optar pelo metal físico, é importante comprar apenas a revendedores autorizados e com boa reputação para evitar fraudes.

*Com Lusa