A rápida subida dos preços das casas em Portugal deixa as famílias sem grande margem de manobra: quem quer comprar casa acaba por fazê-lo por valores mais elevados do que num passado recente. E, como os salários não sobem ao mesmo ritmo para constituir poupança (contexto agravado pelo aumento do custo de vida), acabam por ter de pedir mais dinheiro emprestado ao banco. Estas mudanças são bem expressivas em apenas dois anos: as famílias estão a pedir novos créditos habitação por valores 25% superiores para comprar casas 12% mais caras. Mas têm menos rendimento disponível.
É isso que é possível concluir a partir da análise ao mais recente relatório do mercado hipotecário nacional elaborado pelo idealista/créditohabitação. No terceiro trimestre de 2025, os agregados familiares pediram, em média, 176.599 euros de empréstimo para comprar casa ao banco. Trata-se de um valor 25% superior face ao mesmo período de 2023.
Esta necessidade de pedir financiamentos à habitação de maior valor surge num contexto em que os preços das casas têm registado aumentos recorde no nosso país. Ou seja, as famílias estão a pedir mais dinheiro emprestado porque as casas à venda estão bem mais caras. O mesmo relatório revela que o valor médio de compra de casa nos pedidos de crédito foi de 209.177 euros no verão de 2025, ou seja uma subida de 12% face ao mesmo período de 2023 (quando estava em 186.386 euros).
Mas esta não é a única explicação. Os juros no crédito habitação desceram muito neste período: a Euribor rondava os 4% em meados de 2023 enquanto este verão estava pouco acima dos 2%. Esta redução dos juros para cerca de metade também influencia em baixa as taxas de esforço das famílias, viabilizando empréstimos de maior valor. Ao que tudo indica, esta folga financeira terá levado as famílias a solicitar um financiamento médio de 86% no verão de 2025, o qual contrasta com o financiamento de 78% no verão de 2023.
Claro que na lista de fatores que contribuem para a escalada do valor pedido de crédito habitação, há que incluir ainda os novos apoios para os jovens até aos 35 anos comprarem casa, que não existiam há dois anos. Falamos da isenção do IMT e da garantia pública, com esta última a ter especial impacto no aumento do financiamento médio, uma vez que permite viabilizar empréstimos a 100% para aquisição da primeira casa própria. O papel dos jovens tem, hoje, especial relevância, uma vez que passaram a representar mais de metade dos proponentes no terceiro trimestre de 2025 - sendo de destacar que desde a implementação destas medidas também se verifica um agravamento no referido aumento de preços das casas.
O que também salta à vista é que o rendimento médio dos agregados familiares evoluiu em sentido contrário. Enquanto o preço das casas e o montante do crédito habitação subiu em flecha, o salário bruto de quem procura crédito habitação caiu 11% em dois anos para uma média de 3.088 euros. O que pode explicar esta queda? A descida do custo dos empréstimos bancários, por via da redução dos juros, abriu a porta a famílias com salários mais baixos. Os jovens em início de carreira tendem a ganhar menos. E, além disso, há que considerar que atualmente há menos estrangeiros (geralmente com maiores salários) a comprar casa no país do que no verão de 2023, altura em que os vistos gold e o antigo regime para residentes não habituais ainda estavam em vigor.
Onde há mais pedidos de crédito habitação em Portugal?
A compra da primeira casa continua a ser o principal destino dos empréstimos habitação solicitados aos intermediários de crédito do idealista (representa 78% do total de pedidos), com a restante fatia a ser completada por não residentes (11%), compra de casas de férias (7%) e transferências de hipotecas (3%). Mas onde é que as famílias têm mais interesse em comprar casa?
A distribuição do número de pedidos de crédito habitação no mapa nacional é claramente heterogénea, estando sobretudo concentrada em Lisboa (24% dos pedidos), Porto (14%) Setúbal (13%) e Faro (9%). Estas zonas são das mais caras do país para adquirir habitação, acabando por influenciar em alta o preço de compra médio nacional.
O distrito de Lisboa tem o preço médio de compra de habitação mais elevado de todos (255.974 euros), bem como o crédito habitação solicitado mais alto (216.651 euros). Logo a seguir está Faro, Madeira, Setúbal e o Porto, todos os distritos com valores de aquisição superiores a 219 mil euros e pedidos hipotecários maiores que 180 mil euros, mostra o relatório recentemente publicado.
Por outro lado, há três distritos onde o preço de compra de casa médio é inferior a 120 mil euros e o crédito habitação solicitado menor que 100 mil euros: Guarda, Castelo Branco e Bragança. Mas estes três territórios, juntos, representam apenas 4% do total de pedidos que chegaram ao idealista/créditohabitação no verão de 2025. Apesar de as casas serem mais baratas, o interior do país continua a não atrair famílias para viver ou investir.
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