
As previsões das principais instituições internacionais para a evolução da economia em 2023 não são animadoras. Isto porque admitem que o crescimento da economia mundial irá abrandar no próximo ano, em particular na Zona Euro, onde algumas das principais economias podem registar uma recessão económica. Uma destas instituições é o Fundo Monetário Internacional (FMI) que diz que o crescimento económico global será de 2,7% em 2023, o “mais fraco” dos últimos 20 anos. Já a economia da Zona Euro deverá crescer ainda menos, 0,5%. Resta saber se Portugal irá esquivar-se ou não à recessão económica já no próximo ano.
A nível mundial, o FMI estima um crescimento económico global de 2,7% em 2023 face aos 3,2% previstos para este ano, revelou nas suas previsões económicas mundiais, divulgadas em outubro. “Este é o perfil de crescimento mais fraco desde 2001, exceto para a crise financeira global e pela fase aguda da pandemia de Covid-19”, assinala a instituição liderada por Kristalina Georgieva.
E como vai evoluir a economia europeia em 2023? Segundo o FMI, o PIB da Zona Euro irá crescer 0,5% em 2023, com França a registar uma expansão do PIB de 0,7% e a Espanha 1,2%. Nas suas projeções económicas, o FMI admite que a Alemanha e Itália deverão passar por uma recessão económica no próximo ano de 0,3% e de 0,2%, respetivamente.
O abrandamento do crescimento económico nos países da moeda única é também previsto pelo Banco Central Europeu (BCE), que em dezembro reviu em baixa as previsões para o próximo ano para 0,5%, que comparam com os 0,9% previstos em setembro.
“A economia mundial está a viver a sua pior crise energética desde os anos 70", Álvaro Santos Pereira, economista chefe da OCDE
Apontando o clima de grande incerteza, a crise dos preços da energia e a perda de poder de compra, a Comissão Europeia prevê uma recessão na Zona Euro e na maioria dos Estados-membros no primeiro trimestre de 2023. Nas previsões macroeconómicas de outono, Bruxelas prevê um crescimento do PIB de apenas 0,3%, quando no verão confiava que este subiria 1,4% na zona euro e 1,5% na UE, apesar da guerra na Ucrânia. O executivo comunitário estima que o PIB da Alemanha contraia 0,6% em 2023, enquanto o de França cresça 0,4%.
Também a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê um abrandamento do crescimento económico mundial de 3,1% em 2022 para 2,2% em 2023, de acordo com as últimas previsões organização, divulgadas em novembro. Com a guerra na Ucrânia como pano de fundo, "o crescimento está a meia haste, a inflação elevada é persistente, a confiança corroeu-se e a incerteza é elevada", afirma organização com sede em Paris.
Também o Banco Mundial alertou, em setembro, que a subida simultânea das taxas de juro por parte dos bancos centrais para combater a inflação aumentou o risco de uma recessão global em 2023, prevendo um crescimento de apenas 0,5%.

Como vai evoluir a economia portuguesa no próximo ano?
Nas suas últimas previsões, a Comissão Europeia (CE) indicou que a economia portuguesa deverá crescer 0,7% no próximo ano. Já o Banco de Portugal (BdP) acredita que o PIB de Portugal vai crescer mais: 1,5% em 2023. Para os anos seguintes, a entidade liderada por Mário Centeno espera que o crescimento económico acelere a um ritmo próximo de 2% em 2024 e 2025. As previsões do BdP para o crescimento da economia portuguesa em 2023 são, assim, mais animadoras do que as estimativas de Bruxelas.
Portanto, as previsões do Governo e das principais instituições nacionais e internacionais colocam o PIB português a crescer num intervalo entre 0,7% e 1,5% em 2023. Mas o contexto de incerteza internacional marcado pela alta inflação, subida de juros, pela guerra da Ucrânia e pela execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) traz novos desafios ao país e ao cenário macroeconómico.
“É improvável que o nosso país consiga escapar de uma recessão que se espera na generalidade dos nossos principais parceiros comerciais. O lado mais favorável é que esta recessão poderá ser pouco profunda e relativamente curta – talvez apenas dois trimestres”, antecipa Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade. A instituição mantém a previsão de evolução PIB português entre -2% e 1% em 2023.
Na mesma linha, Pedro Brinca, professor da Nova School of Businesse (SBE), admite que dado o contexto internacional, particularmente da Zona Euro, uma recessão é possível, ainda que esse não seja o cenário central, até porque Portugal cresceu acima da média da Zona Euro em 2022. Para o economista, “a incerteza é tão grande que a única certeza que existe para já é que o abrandamento [do crescimento económico] será substancial”.
“Neste cenário, a economia portuguesa poderá sofrer o tal abrandamento, ou mesmo recessão, em 2023, mas, essencialmente, terá de se continuar a ajustar a uma nova realidade em que o custo de vida é claramente mais elevado do que era há um ano”, antecipa Pedro Bação, professor na Universidade de Coimbra.

*Com Lusa
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