François Villeroy de Galhau alerta que a estabilização da inflação não significa o fim dos ajustes dos juros pelo supervisor.
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BCE
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Apenas duas semanas após o Banco Central Europeu (BCE) ter avançado com um corte nas taxas de juro, já se levantam vozes no seio da instituição a antecipar novas reduções ainda este ano. François Villeroy de Galhau, governador do Banco de França e membro do Conselho de Governadores do BCE, afirmou esta semana, em Florença, que é mais provável uma nova descida do custo do dinheiro do que a sua manutenção nos atuais 2%.

“Salvo um grande choque exógeno, como desenvolvimentos militares no Médio Oriente, se a política monetária se mover nos próximos seis meses, será no sentido de maior acomodação”, afirmou Villeroy num discurso citado pela Bloomberg. 

O responsável francês defende que o BCE deve agir com agilidade, mas sem se tornar imprevisível, realçando que a atual taxa de depósito e a inflação estabilizaram nos 2%, um sinal positivo, mas que não deve gerar complacência.

Villeroy advertiu que este aparente regresso à “normalidade” não significa o fim dos desafios económicos. Aconselhou cautela e adaptação contínua, sobretudo perante os riscos indiretos decorrentes da volatilidade nos preços da energia. Além disso, sublinhou que a recente valorização do euro face ao dólar está a contribuir para um efeito de redução da inflação, o que poderá reforçar a tendência para um alívio na política monetária do BCE.

O que esperar do mercado?

Taxas de juro
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O ciclo de cortes nas taxas de juro iniciado pelo Banco Central Europeu (BCE) em junho do ano passado ainda não é considerado encerrado pelos mercados financeiros. Embora se reconheça que a margem para novas descidas está a diminuir, a maioria dos analistas antecipa, pelo menos, mais um corte até ao final de 2025, o que colocaria a taxa de juro de referência nos 1,75%. 

Este valor corresponde ao limite inferior da faixa definida por economistas do BCE como “nível neutro” e foi recentemente apontado como piso pela autoridade letã Martins Kazaks, membro do Conselho de Governadores.

Empresas internacionais de gestão de ativos como a Aberdeen Investments, Generali AM, LBP AM, Pimco e Vanguard alinham com esta perspetiva, tal como os serviços de análise económica do ING e do Bankinter. Todos apontam para uma política monetária que continua a inclinar-se para o afrouxamento, apoiada pelo arrefecimento da inflação e pela fragilidade da recuperação económica na zona euro.

Contudo, algumas instituições financeiras vão mais longe. Analistas de bancos de investimento como o Goldman Sachs e o Bank of America admitem a possibilidade de dois cortes adicionais, o que colocaria a taxa em 1,5%. Baseiam esta previsão na leitura dos mais recentes dados macroeconómicos, que, segundo estas entidades, justificam uma abordagem mais agressiva por parte do BCE no sentido de estimular a economia europeia.

Incerteza global divide bancos centrais

Parlamento Europeu
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Nos últimos dias, vários bancos centrais anunciaram decisões sobre as suas taxas de juro, com respostas distintas ao ambiente de incerteza que domina os mercados. Enquanto algumas economias optaram pela prudência, mantendo as taxas inalteradas, outras avançaram com cortes ou até aumentos, numa tentativa de responder às pressões internas.

Os Estados Unidos mantêm as taxas de juro entre 4,25% e 4,50%, sinalizando uma pausa estratégica. O Reino Unido seguiu a mesma linha, congelando a sua taxa nos 4,25%, tal como o Japão, que continua com uma política acomodatícia e uma taxa de 0,5%. O Chile, por sua vez, preserva a taxa nos 5%, enquanto o Brasil contrariou a tendência global e aumentou os juros para 15%, refletindo as suas especificidades económicas.

Na Europa, países como a Noruega, Suécia e Suíça acompanharam o movimento iniciado pelo Banco Central Europeu no início deste mês, optando por cortes nas taxas. A Noruega implementou a sua primeira descida desde 2020, deixando a taxa nos 4,25%. A Suécia reduziu-a para 2%, o valor mais baixo desde novembro de 2022, e a Suíça recuou para 0%, atingindo o nível mais baixo desde setembro de 2022.

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