
No verão, há quem apanhe ondas no mar. Agora é a vez da banca apanhar a onda do mercado, tentando aproveitar as boas condições que ainda se registam, para fechar grandes negócios, antes que a alta inflação e a subida das taxas de juro possam comprometer o preço e até afastar investidores, já que o imobiliário começa a enfrentar novos riscos, a nível europeu. No total, estarão em causa mais de 1,6 mil milhões de euros entre carteiras de crédito malparado e imóveis.
“A maioria dos bancos não precisa de vender estas carteiras, mas está a fazê-lo para aproveitar o bom momento do mercado e está a conseguir preços que não imaginava conseguir”, explica Marco Freire, CEO da empresa portuguesa Whitestar, que gere mais de 10 mil milhões em NPL e REO, citado pelo ECO.
A venda dos fundos de reestruturação da ECS por 850 milhões de euros à Davidson Kempner, por um conjunto de bancos, é a grande protagonista, sendo mesmo apontada como o negócio do ano, mas há outras operações a marcar o momento.
O jornal online fez um apanhado das transações mais relevantes, cuja lista se resume a:
- O Novobanco acaba de vender a histórica sede do BES, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, por 112 milhões de euros aos espanhóis da Merlin Properties, que vão investir outros 40 milhões na sua reestruturação;
- O BPI vendeu a carteira “Citrus” avaliada em cerca de 100 milhões à LX Partners;
- O BCP com a carteira “Aurora” de NPL e REO de 80 milhões;
- O Santander com a carteira “Guadiana” de imóveis no valor de 100 milhões;
- O Montepio com a carteira “Alqueva” de NPL secured no valor de 130 milhões;
- A Parvalorem, veículo que gere os despojos do antigo BPN, com uma carteira de imóveis no valor de 255 milhões de euros.
“Para a dimensão do nosso país, é um volume de transações alto”, considera Miguel Campos, diretor de NPL & REO da consultora Aura REE Portugal, também ouvido por este meio.
A colocação destas carteiras de menor dimensão são, segundo os especialistas, resultado do enorme esforço de redução do malparado que os bancos levaram a cabo, nos últimos anos, e que deixou os balanços das instituições com um nível de empréstimos problemáticos em mínimos nos 3,6% no final de março. Mas como ainda tinham ativos problemáticos para solucionar, aproveitaram que os investidores estavam com os olhos postos em Portugal e à procura de oportunidades.
Alta inflação e subida das taxas de juro podem fazer baixar preço das carteiras e afastar investidores
O CEO da Whitestar admite, no entanto, que o mercado pode estar perto de um “momento de inflexão e de transformação”, tendo em conta o ambiente de alta inflação e de subida dos juros por parte dos bancos centrais.

“Até há dois ou três meses, o mercado estava supercompetitivo. Os investidores procuravam níveis de retorno baixos, tendo em conta o nível de risco do produto, e havia muita liquidez e capital disponível. A partir do momento em que começamos a assistir à subida da inflação e das taxas de juros, os investidores começaram a ter alternativas”, analisa Marco Freire.
E já se começavam a ver sinais de mudança no mercado com investidores “mais agressivos” que estão “temporariamente” a sair do mercado “para tentar perceber para onde as coisas vão”, segundo o responsável da Whitestar. Por outro lado, o diretor da Aura REE confirma que tem havido “algumas desistências de investidores” em algumas operações, devido aos altos preços das carteiras que os bancos estão a exigir.
Ainda assim, Portugal continua a registar “um bom binómio procura/oferta no mercado”, assegura Marco Freire.
Quanto a 2023, “vai ser um pouco nesta onda”, acrescenta Miguel Campos, antecipando “carteiras deste tamanho, em torno dos 100 milhões de euros”, apesar de considerar que o aumento das taxas de juro, a par da inflação, poderá deixar muitas famílias em dificuldade para pagar os empréstimos da casa, com impacto no aumento do malparado da banca. “O efeito não será imediato, mas em dois ou três anos podemos assistir a alguns incumprimentos”, prevê o responsável citado pelo ECO.
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