
A inflação está em alta em Portugal - em maio atingiu os 8%, o valor mais alto desde 1993. E o contexto de crédito habitação está a mudar, com a subida das taxas Euribor à boleia da já anunciada subida da taxa diretora pelo Banco Central Europeu (BCE) para julho, o que acaba por agravar as prestações da casa. Mas os bancos não temem potenciais efeitos negativos deste contexto nos seus balanços, embora admitam que poderá vir a existir um aumento do crédito malparado no país.
Desde a Caixa Geral de Depósitos explicam que o nível de crédito malparado – os chamados “non-performing loans” (NPL) na língua inglesa - é hoje quase “inexistente” e, por isso, tem “margem para subir”, cita o Jornal de Negócios. “Os créditos concedidos nos últimos anos já pressupunham taxas de juro positivas”, num contexto em que “as taxas reais nunca estiveram tão baixas e a produção de crédito nunca foi tão alta”, explicam.
O Montepio assume que “um incremento dos encargos financeiros possa levar a algum incumprimento”, mas garante uma “concessão de crédito sã e prudente” para evitar estas situações, refere ao mesmo jornal.
Também o BPI admite que “a pressão sobre os indicadores de risco aumenta neste novo contexto”. Mas não antecipa “um agravamento significativo do risco de crédito”, porque “o ajustamento das taxas não deverá ser súbito e o impacto nos clientes tem um desfasamento”, lê-se na mesma publicação.
Também a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) alertou que há risco de haver um aumento de crédito malparado no país. “Os contratos de crédito habitação de taxa variável [que representam 70% dos empréstimos em Portugal nos últimos meses], que têm demonstrado estar associados a uma maior probabilidade de incumprimento das hipotecas quando as taxas de juro sobem, são predominantes em vários países do Sul (Portugal e Grécia), Oriental (Polónia, Bulgária, Roménia e Países Bálticos) e Norte da Europa (Suécia, Finlândia e Noruega)”, refere a OCDE no Economic Outlook publicado em junho.

BdP rejeita subida de incumprimento do crédito habitação
Há fatores que, hoje, amortecem o impacto do atual contexto macroeconómico no crédito habitação, como:
a poupanças das famílias,
- o mercado de trabalho robusto;
- a retoma do turismo;
- a execução de fundos europeus.
O Banco de Portugal (BdP) rejeitou na sexta-feira, dia 24 de junho, a perspetiva de aumento significativo do incumprimento no crédito habitação, com subida das taxas de juro. “As questões de incumprimento, em especial de crédito à habitação estão muito relacionadas com o mercado de trabalho e o mercado de trabalho tem demonstrado uma capacidade de resiliência que poucos antecipavam”, justificou Mário Centeno, governador do BdP.
Mas tudo pode mudar neste cenário onde a incerteza é a palavra de ordem. O Santander considera que “o cenário de estagflação é cada vez mais provável”, o que poderá levar a uma subida do desemprego “e contribuir para um possível aumento do malparado”.
Por outro lado, o BdP alterou também, no relatório publicado na sexta-feira, para o risco de uma degradação das condições económicas das famílias, dada a “redução do rendimento disponível real devido à inflação e o efeito do aumento das taxas de juro sobre o serviço de dívida, aos quais acresce a incerteza relativa à evolução da atividade económica e do emprego.”

Bancos vigiam risco de incumprimento no crédito habitação
A evolução dos NPL “tem sido contida no sistema financeiro, mesmo no pós-pandemia”, dizem desde o Novo Banco, explicam que o banco tem acompanhado a evolução do crédito malparado “de forma a agir proativamente e, se necessário, encontrar soluções sustentáveis para o cliente e que respeitem o apetite de risco do banco”.
Também o Santander afirmou ao mesmo jornal que “um cenário de taxas de juro mais elevadas será conduzido de forma prudente, de forma a minimizar eventuais impactos negativos nos clientes”.
O BPI afirmou igualmente que é “muito prudente na gestão do risco”, tendo mesmo “o rácio de incumprimento mais baixo da banca portuguesa”.
Por outro lado, o Novo Banco destaca ainda que a subida da Euribor pode “repercutir-se na evolução positiva da margem financeira dos bancos”.
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